Capítulo 22

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Me sinto muito leve, leve até demais.

Aos poucos minha consciência parece voltar e começo a escutar um barulho constante - bip, bip. Abro meus olhos devagar e me acostumo lentamente com a claridade do ambiente.

Hospital.

A primeira palavra que me vem à mente é essa. Estou em um quarto de hospital - cômodo todo branco, aparelhos por todos os lados. Me assusto quando uma enfermeira entra no quarto do nada. Ela me olha com os olhos arregalados e sai correndo porta a fora. Endoidou.

Poucos minutos depois ela volta com um homem de meia idade, cabelo grisalhos, óculos - parecia-me um médico.

- Vejamos só! Você acordou, querida! Como está se sentindo? Alguma dor? Tontura?

- N-não. - tento deixar minha voz normal, mas ela sai meio rouca - Estou bem.

- Que ótimo! - ele verifica alguns aparelhos ligados a mim e me olha novamente - Tem algumas pessoas lá fora te esperando, vou mandá-los entrar e depois eu volto para ver como você está. - concordo com a cabeça e me ajeito confortavelmente na cama.

Passados mais alguns minutos, vejo pessoas entrando no quarto; duas meninas que deveriam ter a mesma idade que eu - ambas loiras, magras, sorridentes, mas com os olhos vermelhos e inchados. Uma eu reconheci como Irina - a filha do meu padrasto - e, por algum motivo eu não me dava bem com ela, mas sinto que agora posso confiar nela. Reconheci também minha mãe, que estava com a cara toda inchada - provavelmente de tanto chorar - e ela logo corre para me abraçar. Nos abraçamos e ela chora muito no meu ombro.

- Graças a Deus! Graças a Deus você está bem, minha filha! - ela dizia em meio às lágrimas. Irina vem me abraçar também e chora.

Olho para a outra pessoa no quarto. Um menino. Cabelo castanho e olhos claros. Está abraçado àquela outra menina loira. Ele corre para me abraçar e também chora no meu ombro e eu o abraço com um pouco de timidez, afinal, nem o conheço.

- Como é bom te ver de novo, pequena! - ele se separa de mim e enxuga suas lágrimas que insistem em cair.

- Desculpe-me, mas... quem são vocês?

*****

Eles ficam me encarando por muito tempo, sem saberem o que dizer.

- Não se lembra de nós? - o menino fala com a voz embargada de choro.

- Bom... eu me lembro da minha mãe e da Irina. Deveria me lembrar de vocês dois?

- Filha, tem certeza de que não se lembra deles?

- E eu deveria?

- Claro que sim! Eles são seus melhores amigos. - agora eu entendo o porquê de estarem chorando tanto. Eles ficam parados, apenas me analisando e, depois de alguns segundos, o menino que eu deveria conhecer por ser meu melhor amigo fala:

- Prazer, Isla. Sou Nathan Anderson e essa é Evie Jones. Somos seus melhores amigos. - ele sorri e estende a mão. Gosto dele. Sorrio e o cumprimento.

Há um silêncio momentâneo no quarto, durante o qual eles parecem pensar em algo.

- Espere só um minuto... se você não se lembra de nós dois, você se lembra do Ethan? - o tal de Nathan questiona e eu me esforço para me lembrar, mas não consigo.

- Quem é esse? - o nome me soa familiar, mas não consigo lembrar de nada relacionado a ele. Todos me olham com um misto de pena e surpresa.

- Ele vai ficar muito abalado quando souber que ela não se lembra de tudo. - tudo o que? - Ele vai se fechar, como se fechou quando nossa mãe foi embora.

- GENTE! - praticamente grito - Podem me explicar quem é ele e porque ele vai ficar abalado por eu não me lembrar?

- Ele é seu namorado, Isla. - o cara que diz se chamar Nathan fala.

- Meu namorado? Logo eu? - dou risada - Eu nunca tive namorado nenhum. Não me apaixono.

- Sinto-lhe dizer que você está enganada. Você se apaixonou. Por ele. Por Ethan. E o sentimento é recíproco. Não sei nem como contar a ele. - Nathan lamenta.

- Ligue para ele e fale que ela acordou. - a menina que se chama Evie fala, acariciando o braço de Nathan. Devem ser namorados.

- Ok. - ele pega o telefone e disca um número - Oi, Ethan... sim, estou no hospital... DEIXE-ME FALAR, PORRA! - está explicado porque é meu melhor amigo - ...ela acordou... Não, Ethan, você não está surdo, ela acordou e precisamos que venha aqui o mais rápido possível. - e desliga. - Agora só nos resta esperar.

*****

- Onde ela está? - ouço uma voz aqui perto e paro a conversa com a minha mãe para olhar para a porta sendo aberta violentamente.

Um garoto muito lindo, apesar dos olhos inchados e vermelhos para na porta e me olha com um misto de surpresa e alívio. Anda rápido em minha direção e faz sinal que vai me beijar, mas eu viro o rosto, deixando-o aparentemente confuso.

- Isla, está tudo bem? - ele tenta segurar meu rosto, mas tento recuar, assustada.

- Ethan! - Nathan chama - Eu ía te contar quando chegou, mas você veio correndo. - ele se apoia nos joelhos e respira fundo recuperando o fôlego. Nathan havia ido esperar o tal de Ethan, meu suposto namorado do qual eu não me lembro, na frente do hospital.

- Eu devia saber o quê? - pergunta o garoto, que percebo ser o Ethan.

- Mas que porra! - eu me manifesto - Pode me dizer quem é você? - me refiro ao cara que tentou me beijar.

Ethan me olha e parece que está me esperando dizer que é uma brincadeira. Mas quando vê que eu realmente estou falando sério, recua um passo e põe a mão na boca, deixando escorrer algumas lágrimas.

- Você não sabe quem sou eu? - faço que não com a cabeça.

*****

Estão todos abatidos por eu não me lembrar de muita coisa. Minha mãe fica encostada na minha cama e meus amigos, dos quais não me recordo, sentam no sofá e na poltrona e tentam consolar Ethan. Vejo a porta se abrindo e o médico de hoje cedo, entrando.

- Bom, espero que esteja tudo bem com você. - ele diz se referindo a mim - Fui informado que você não se lembra dos últimos meses, desde que chegou aqui no país. - concordo com a cabeça - Venho aqui lhes informar do resultado dos exames de Isla Martinez que viemos fazendo durante os 12 dias que esteve inconsciente...

- Eu dormi por 12 dias? E eu achando que dormir 14 horas era muito.

- Sim, querida. 12 dias inconsciente. Enfim, fizemos exames durantes esses dias e decidimos revelar os resultados quando estivessem todos aqui e com você acordada. - ele pega um envelope, o abre e estende para a minha mãe, que o olha com curiosidade, mas depois derrama lágrimas ao ver o que está escrito nos papéis do exame.

- O que foi, mãe?

- V-você... você está com um tumor no cérebro. - ela desaba a chorar e me abraça forte.

Não consigo assimilar mais nada. Eu tenho um tumor.

Essa notícia é digerida aos poucos. Não posso morrer, tenho uma vida (uma vida da qual me esqueci um pouco, mas mesmo assim uma vida), tenho que recuperar o tempo e a memória perdida. O que vou fazer?

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02/08/2017

Meri B.

Paixão Improvável - Série Desafios #1Onde histórias criam vida. Descubra agora