Capítulo 23

444 43 3
                                    

Já faz uma semana que a notícia chegou até mim. Eu tinha um tumor no cérebro. Por isso as dores, por isso a perca de memória, porque eu tinha a porra de um tumor no cérebro.

O médico disse que eu tinha sorte por ter sido descoberto cedo. Disse também que essa mesma cirurgia alivia os sintomas causados pelo tumor (aumento de pressão dentro do crânio, náuseas, etc.). A cirurgia que farei se chama cranitomia e é feita para retirar a maior parte do tumor sem danificar os tecidos. A cirurgia será realizada daqui a uma semana e, logo depois da cirurgia, se tudo ocorrer bem, serei encaminhada a um quarto onde terei que fazer exercícios estimulando a respiração, mantendo meus pulmões "limpos e saudáveis". Uma equipe de médicos irá acompanhar todo o meu procedimento de perto.

Nessa semana, meus supostos amigos se mostraram muito presentes e o tal Ethan também. Eu sabia que ele estava abalado por olhar pra mim e lembrar de tudo o que passamos (me garantiram que era muita coisa) juntos, mas eu não podia corresponder.

Eu sabia que sentia algo por ele, algo que foi só crescendo durante essa semana. Cada toque, cada carinho, cada palavra não dita, tudo era motivo para eu sentir aquela sensação estranha na barriga, o que achei primeiro que fosse gases, mas Irina e Evie me garantiram que não.

Ethan tinha me chamado para tomar um sorvete e eu concordei em sair com ele. Conversamos e rimos muito, como se fôssemos amigos de longa data. O que de fato éramos, mas não para mim.

Ele me deixa na porta de casa e se despede de mim com um beijo na bochecha, mas eu quero mais.

- Ethan! Espera! - ele se volta para mim e se surpreende quando eu corro até ele e me jogo em seus braços. Ele me segura firme e eu aproximo nossos rostos. Encurto a distância entre nós até não haver mais nenhum espaço.

Sinto um choque por todo o corpo quando sua língua invade minha boca e dança com a minha de uma forma sincronizada. Ele conhece cada parte minha, posso sentir. Sabe o que fazer e quando fazer. Me puxa para cima de forma que eu entrelaço minhas pernas em sua cintura e me vira até me encostar na porta do seu carro. Ele desce os lábios pelo meu pescoço e eu sinto uma dor de cabeça muito forte e várias imagens se passam na minha mente enquanto estava de olhos fechados.

Me lembro do seu toque, de seus carinhos, do seu cheiro, do seu calor, da sua risada, das suas palavras, dos "eu te amo". Me lembro da primeira vez que o vi, das brigas, do primeiro beijo, da primeira transa.

- Ethan? - o chamo e ele para de me beijar e me olha com certa esperança.

- Sim? - ele diz com a voz rouca.

- Eu me lembro. - ele digere a informação e então, sorri. Me gira no ar e eu gargalho. Me beija loucamente, mas então eu me lembro daquele dia - Espera, espera. - me desfaço de seu aperto e apoio minhas pernas, ainda bambas, no chão, encarando-o - Eu me lembrei. De tudo. Até da nossa última briga. - vejo que ele encolhe um pouco os ombros por entender do que estava falando - Tudo o que eu disse naquele dia, foi verdade. Não posso continuar com isso e me magoar depois. Não posso continuar com você sabendo que eu tenho a porra de um tumor, que eu sou uma bomba que pode explodir a qualquer momento.

- Você não é uma bomba e sabe disso. Sua cirurgia é daqui a poucos dias dias e você tem muita chance de passar por isso sem nenhum dano.

- Sinto muito. - dou um último beijo nele e saio correndo para dentro de casa. Fecho a porta com tudo e escorrego por ela até o chão, reprimindo as lágrimas.

Depois de um tempo reprimindo as lágrimas, não aguento e choro. Vou até o quarto da Irina e a vejo esparramada na cama, de barriga para baixo, mexendo no celular. Entro sem me manifestar no quarto dela e me jogo nos seus braços.

- O que foi, Isla? - ela pergunta repetidas vezes enquanto eu desabo em lágrimas. Ela acaricia meu cabelo até eu me acalmar.

- Eu me lembrei.

- E isso é ruim?

- Eu me lembrei de absolutamente tudo.

- Não entendi como pode ser ruim.

- Ethan me convidou pra ir na sorveteria e eu fui; na volta, quando estávamos nos despedimos, eu beijei ele e ele retribuiu. Enquanto estávamos nos beijando eu me lembrei de cada coisa: cada beijo, cada toque, cada transa, dos momentos, das risadas, das transas, das brigas, dos tapas e das...

- Transas. - ela completou.

- Como você sabia?

- Só imaginei. Continua.

- Só que eu me lembrei, infelizmente ou felizmente não sei, da nossa última briga, na escola. - vejo-a suspirar parecendo que entendeu - Eu parei o beijo antes que fizesse bobagem e...

- Vocês dois já fizeram muitas dessas "bobagens". Qual é o problema?

- O problema é que se eu continuasse não iria parar e se não parasse agora, poderia voltar atrás do que falei antes e não posso fazer isso.

- Amiga, você fez a coisa certa. Quando você menos perceber, ele vai perceber a merda que fez e vocês vão voltar.

- Mas dói tanto.

- Porque você o ama, é normal. Agora deita aqui e vamos assistir filmes. - ela me deita na cama, pega o computador e coloca em qualquer filme da Netflix.

Eu assisto o filme todo, chorando em muitas partes, mas sempre com Irina me consolando e me dando apoio, o que me ajudou muito. E agora eu tenho mais certeza ainda que posso confiar nela.

*******************

¤ Capítulo com informações super interessantes sobre a tal cirurgia que Isla fará. Essas informações são verídicas, eu pesquisei e, se alguém tiver alguma dúvida, mande-me mensagem no privado e eu indicarei algum site confiável para tal pesquisa.

¤ Não se esqueçam de comentar se estão gostando, ou não (lembrem-se: críticas construtivas) e não se esqueçam daquele maravilhoso voto, que me é muito gratificante!

*******************

02/08/2017

Meri B.

Paixão Improvável - Série Desafios #1Onde histórias criam vida. Descubra agora