Falha na memória | Cap 48

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A entrada no hospital foi bastante complicada e difícil, parecia que toda a população tinha resolvido parar lá, mas eu sabia que não era bem assim, a realidade era que um enorme e grave acidente havia acontecido naquelas redondezas e infelizmente eu pude presenciar o desespero dele, além de estar passando por uma situação totalmente arrasadora: não fazia ideia de onde o Renan poderia estar, e não sabia nem se ele ainda vivia.

Ele está vivo. – meu subconsciente alertava.

Já estávamos procurando há horas, passamos muito tempo em uma fila esperando por alguma resposta, mas era tudo em vão. Nada do Renan. A única coisa que sabíamos era que ele estava desaparecido e que havia outra menina desaparecida, uma tal de Giulia.

— Alguém tem notícia do meu filho? – dona Ana gritava pelos corredores em busca do Renan.

— Não senhora, não há registro de nenhum Renan aqui. – uma moça dizia calmamente.

— Eu não sei mais o que fazer! – ela suspirou.

— Já notificaram à polícia?

— Sim. Já fizemos de tudo. – Theo respondeu pondo as mãos sob os cabelos.

— Então tudo que se deve ser feito agora é esperar. Vocês tem que voltar para casa, assim que recebermos notícias diremos. – ela falou e nós três nos entreolhamos.

— Então é isso? – Ana perguntou olhando para nós dois.

— Sim. Deus irá nos guiar. – falei cabisbaixa.

Passamos ainda alguns minutos naquele lugar, e eu literalmente não sabia mais o que fazer, já era madrugada e eu estava sendo tomada por uma enorme preocupação. Foi então que a desistência veio à tona, era hora de voltar para casa e confiar em Deus.
Caminhamos pelo saguão do enorme hospital e nos deparamos com um amontoado de gente nos corredores, eu não sabia o que estava acontecendo mais uma vez, mas logo deduzi que não era coisa boa.
Era o que eu pensava, até ver o que realmente estava acontecendo.

— Saiam da frente! – um paramédico gritava passando no meio da multidão, com vários outros membros da equipe médica ao redor, carregando uma maca.

Eles passaram por nós e no mesmo instante eu pude reconhecer aquele rosto.

— Renan! – gritei ao me deparar com ele.
Seus olhos estavam inchados e vermelhos e haviam queimaduras espalhadas pela sua pele.

— Licença, senhorita! – fui interrompida por outros médicos que chegaram com outra maca. Dessa vez, uma moça que estava deitada nela.

— Meu filho! É ele! É ele!

— Dona Ana! É o Renan! – Theo falou.

Fomos seguindo as duas macas, que tempo depois descobri que a garota era a tal da Giulia. Meu coração pulsava fortemente e eu podia ver a esperança e preocupação no olhar de Ana Rosa. O olhar de uma mãe que viu seu filho retornar.

Então aquele dia tenso estava se encerrando, houve uma enorme burocracia até conseguirmos falar com o Renan e saber tudo o que aconteceu. Na verdade falar com ele foi impossível já que ele mais uma vez estava hospitalizado e sem poder comunicar-se. Tudo o que conseguimos foi uma explicação básica de que ele e Giulia haviam conseguido sair do incêndio e foram encontrados nos escombros. Entretanto, como Renan, com a perna amputada tinha conseguido sair do incêndio... era uma grande questão a se responder, e por enquanto ficaria uma enorme interrogação no meu rosto e no das demais pessoas.

                 🌷 ✨🌷✨🌷✨

Dias se passaram e pela graça de Deus eu pude receber a notícia de que o Renan estava totalmente bem. Ele e a sua nova amiga Giulia. Bom... ela não tava bem total. Infelizmente a Giulia se machucou mais que o Renan e acabou perdendo seu braço esquerdo. Sim. Ela teve que amputar esse membro.
Era dia de visitar o Renan, pois ele receberia alta do hospital. Até então eu continuava sem notícias e sem saber como ele escapou da morte junto com a garota, porque desde o dia do incêndio eu não vi dona Ana Rosa nem fui no hospital, então eu não sabia de nada realmente.
Cheguei lá e não tive nem o trabalho de andar tanto, o Renan já estava todo sorridente na porta junto dos seus familiares. Ao me ver seus olhos arregalaram de felicidade.

— Beatriz!
— Oi Renan! Como você tá? Olhe, já sabe que vai ter que me contar tudo né?
— Você ainda não sabe? – Ana Rosa comentou.
— Não sei de nada! Eu não tinha mais visto vocês...
— Verdade. Bom, então temos uma longa história pra contar. – Ingrid falou.
— Podem falar, não me importo de perder uns minutinhos aqui. – falei ansiosa para saber como o Renan saiu daquela situação.
— Acho melhor então se sentar. – ele falou. — Bom, tudo começou quando estávamos dentro daquele lugar e um incêndio repentino começou em uma copa, o alarme começou a soar rapidamente alertando que algo estava errado, então as pessoas começaram a esvaziar o prédio. O problema é que eu estava no último andar, surpreendentemente na sala ao lado da copa e havia muita gente, mas tanta gente mesmo que tumultuou todas as escadas e ficou literalmente um engarrafamento de pessoas. Não havia por onde passar, a não ser esperar que a "fila" nas escadas fosse andando lentamente. Mas... como já é de se esperar o fogo não esperou que as pessoas fossem descendo, e os elevadores estavam inutilizáveis. Além disso, eu sou cadeirante, ou seja, sem elevador sem chance de sair de lá. Em segundos aquele prédio estava em chamas e eu estava lá, na minha linda cadeira de rodas. Quando muita gente já tava passando mal e desmaiando apareceu Giulia lá. Seu olhar pesou sobre mim e eu pude notar a pena estampada em seu rosto, mas... – no fim das palavras ele parecia forçar a mente e então ele se calou.
— Mas o que? – indaguei curiosa.
— Ele não lembra o resto. – A Ingrid interveio.
— Como assim não lembra? – arregalei os olhos.
— Eu só consigo me lembrar até aí. Depois disso, tudo que aconteceu foi deletado da minha mente. Eu só lembro das coisas que aconteceram antes do acidente e das coisas que aconteceram a partir da segunda passada, então podemos concluir que tem um vazio na minha mente em um certo intervalo de tempo.
— Mas por quê?
— Os médicos dizem que foi devido aos escombros que caíram por cima da gente. Aliás, foi assim que ele nos encontraram. Eu estava totalmente coberto pela destruição e isso pode ter causado a falta da memória recente. Além disso, eu tive uma convulsão quando cheguei no hospital. Você já tinha ido embora quando aconteceu.
— Você teve uma convulsão e ninguém me contou? Mas... eu precisava saber! Eu passei o tempo todo pensando que você tava bem.
— E eu estava! Só pedi pra não te contarem sobre a convulsão, porque eu sabia que você ia ficar preocupada e eu não queria te preocupar ainda mais. Mas agora eu tô bem! Totalmente!
— Ow Renan! Então você realmente não sabe de nada mais? Como chegou ao chão e como foi parar debaixo dos escombros?
— Não sei. Ninguém sabe. A Giulia não deixou notícias para os médicos só mandou avisar que foi obra de Deus. E agora ela já se foi. Recebeu alta no fim de semana
— Vocês não teriam como contata-la?
— Temos sim. Mas isso leva tempo, no entanto, faremos o mais rápido possível. – Ingrid falou.
— Ok! O importante é que você tá bem agora.
— Sim... os médicos disseram que quando nos resgataram estávamos bem longe um do outro e eu não podia me mexer devido à minha deficiência enquanto a Giulia tentava com todas as forças sair dos escombros. Ela orava em voz alta pela minha vida.
— Acho bom vocês conseguirem contato com ela, devemos agradece-lá  por não ter desistido dele.
— Com certeza! – Ana Rosa falou sorrindo.

Atenção: preparem-se reta final do livro!

ESSE É O PENÚLTIMO CAPITULO!

Aos olhos do PaiOnde histórias criam vida. Descubra agora