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Já havia se passado dois meses desde que o doutor Fernando falou sobre a doença da Emily. Se não fosse pelos tratamentos, ela já teria partido por esses dias. Os tratamentos são fortes, o que a deixa limitada de fazer algumas coisas, como brincar. A doença está paralisando cada parte de seu pequeno corpo. Esta semana ela começou a gritar, reclamava de uma forte dor em suas pernas. Os médicos fizeram tudo que podiam, mas não foi o suficiente. Ela não pode, e nem vai, voltar a andar. Sua perna se desligou de seu corpo. Outra consequência dos tratamentos foi a queda de seu cabelo, ela ainda o tem, mas é careca em certas regiões.

Estava sentada em sua cama, a observando.

- Mamãe contou que você voltou a tocar piano - diz com a voz baixa. Sua aparência está horrível, ela está pálida e com profunda olheiras. Assinto.

- É incrível como o som daquele instrumento faz eu me sentir livre - comento com um sorriso.

- Foi por causa do Alec, não foi? - questiona com um sorriso fraco, ela não tem forças para esbanjar um sorriso que mostre todos os seus dentes.

- Não faço a mínima ideia - sou sincera.

- Eu acho que vocês se gostam.

- Como amigos - rebato e ela nega.

A verdade é que eu e o Alec nos aproximamos bastante nesses últimos meses. Viramos melhores amigos para ser mais exata. Fizemos um acordo e quando nos vemos na escola, ambos fingem que não se conhecem. Não contei para as meninas, e acho melhor manter em segredo por agora. Minha mãe, por sua vez, só o viu uma vez. Foi o necessário para gostar dele e mandar inúmeros recados para ele por mim, é lógico que não o digo. Ele não precisa receber convites para jantar com a louca da minha mãe. Meus pais deram um tempo nas papeladas do divórcio pela Emily. Bom, muitas coisas mudaram nesses dois meses. Minha vida está uma verdadeira montanha-russa, tendo seus altos e baixos.

Escuto alguém bater na porta. A pessoa entra logo em seguida e eu a reconheço, Alec. Ele tem uma embalagem em suas mãos.

- Trouxe um presente para uma garotinha especial que conquistou meu coração - brinca, se aproximando da Emily com um sorriso.

Ela o adora. Ele confessou para ela que o lance do namoro não passava de uma brincadeira, ela ficou triste e afirmou que formaríamos um lindo casal.
Ele a entrega o pacote. Emily abre entusiasmada e revela uma pequena, porém bela, caixinha de música.

- Obrigada, Alec, ela é linda - diz encantada com o objeto.

- Você quer testar? - pergunto e ela assente. Ligo o objeto e sintonizo a rádio.

- Você poderia levar para casa, gravar algumas músicas que gosto e você tocando piano? - ela pergunta fazendo uma cara fofa.

- Você toca? - Alec pergunta surpreso.

- Algumas músicas, nada demais - digo sem dar tanta importância. Eu nunca contei tal detalhe.

- Se você ainda toca como costumava tocar antes da minha doença, você arrebenta - rebate Emily, fazendo Alec sorrir.

- Ela ainda toca divinamente - minha mãe aparece no quarto - Alec, querido, finalmente nos encontramos de novo. Aposto que a Júpiter não lhe conta sobre meus recados.

- Oi tia, ela nunca diz nada - Alec me entrega e eu reviro os olhos.

- Júpiter! - ela me repreende e continua - Bom, quero que você passe um dia lá em casa para almoçar ou jantar com a gente.

- Eu adoraria. É só a senhora marcar - diz com um sorriso. Quem vê, até pensa que é meigo.

- Senhora está no céu - minha mãe odeia ser chamada de algo que a faça ter cara de velha - Assim que eu conseguir um tempinho livre, eu te ligo. Salvei seu número naquele dia da suposta enfermeira - ela conta e Alec gargalha.

- Micão - debocho de mim mesma.

- E você, minha pequena? - minha mãe caminha até a Emily. Faço um sinal para o Alec que entende e se retira do quarto depois de mim.

Minha Querida JúpiterOnde histórias criam vida. Descubra agora