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A sexta-feira havia chegado e, com ela, meu nervosismo. Hoje era o dia da audição e, por causa disso, eu não consegui me concentrar em nenhuma aula ou conversa.

Assim que o sinal tocou informando o encerramento das aulas de hoje, eu corri apressada para casa. Eu queria ensaiar um pouco antes de ir para Juilliard.

Não vejo o Alec há dois dias, mas o mesmo me mandou mensagens explicando estar com um resfriado. Ele lamentou por não estar comigo antes da audição, mas eu entendo o seu lado.

(...)

O avião estava pousando depois de poucas horas no ar. A universidade não é longe de minha casa, mas demoraria cerca de um à dois dias se viéssemos de carro. Queríamos vir hoje e voltar para casa ainda hoje, por isso, preferimos os transportes aéreos.

Pegamos um táxi na entrada do aeroporto.

- Qual o destino? - o taxista pergunta.

- Juilliard School - eu e minha mãe dissemos em uníssono, ambos estávamos com sorrisos estampados em nossos rostos.

(...)

Depois de preencher um formulário enorme, nos levaram até uma sala para que aguardássemos a minha vez.

Meu celular começou a vibrar sem parar em minha bolsa, visualizei o nome na tela digital e sorri comigo mesma.

- Alô - murmuro baixo, por causa dos outros participantes que estavam ao nosso lado.

- Já foi chamada? Como foi sua apresentação? - A voz do Alec soa do outro lado, ele parece cansado, mas alegre.

- Ainda não - respondo - a penúltima menina está terminando de se apresentar para que chegue a minha vez.

Sim, eu era a última concorrente.

- Está com medo?

- Muito - seguro o pingente do colar que ele me deu, quase como se eu o pudesse sentir ao meu lado.

- Não precisa ter, você é capaz de tudo, se acreditar. Estamos todos torcendo por você, embora saibamos que irá deixar os jurados com as bocas abertas.

- Eu não teria tanta certeza assim - digo ao ouvir a menina toucar sua flauta pelos altos falantes. Ela é muito boa.

- Senhorita Peterson, por favor, compareça ao palco para sua audição - a voz do anunciador faz o meu corpo estremecer.

- Chegou a hora, tenho que ir - aviso nervosa.

- Boa sorte, eu amo você.

- Eu também amo você - sussurro com um sorriso e encerro a ligação.

Abraço minha mãe, que também me deseja sorte, e caminho até o palco em passos largos. Uma luz forte me acompanha, a mesma me faz querer fechar olhos, mas os mantenho bem abertos.

- Senhorita Peterson? - assinto - Seja bem-vinda, o palco é seu - o anunciador me recepciona e se retira em seguida. Encaro os jurados que possuem olhares curiosos. Sento-me no banco em frente ao piano preto de cauda. Tento afastar os pensamentos negativos quando começo a tocar, mas quando erro uma nota e as notas que a precedem, meu coração parou.

Os jurados, agora, carregam um olhar julgador e cheio de desprezo. Eles anotam algo, eu respiro fundo.

Calma, Júpiter, você consegue.

Repito isso mentalmente enquanto fecho os meus olhos, toco suavemente nas teclas e me pego lembrando em tudo o que passei até aqui. Lembrei de quando conheci o Alec e de como ele fez a Emily feliz, lembrei da pequena morrendo aos poucos, lembrei da briga com a April na frente do colégio inteiro para defender minha amiga, lembrei dos momentos em que quase beijei o Alec, lembrei da festa de comemoração por causa dessa audição, lembrei de quando Emily partiu e de o quanto eu sofri, também lembrei de minha festa de aniversário.

Eu lembrei de tudo e, quando minhas lembranças acabaram, foi quando eu parei de tocar. Olhei para os jurados que me encaravam surpresos, ou talvez assustados, não sei bem dizer. O que eu sei é que eu fiquei satisfeita comigo mesma. Fiz uma referência para os jurados com um sorriso que atravessava todo aquele auditório e caminhei para fora dali, deixando-os para trás com minha insegurança e minha ansiedade.

(...)

Estava comendo batata frita e pizza com os meus amigos enquanto contava, pela milésima vez, sobre os palcos da Juilliard.

- Quando sua mãe contou que você errou a música, eu quase infartei - Louisa confessa com gestos dramáticos - eu pensei que fosse desistir e sair chorando - ela acrescenta - eu faria isso.

- Seria mais fácil eu arrumar um namorado do que a Júpiter desistir de um sonho - Atena rebate e nós sorrimos. Atena é uma garota bonita, mas a maioria dos caras com quem já se relacionou, a deixou por outra mulher. Por isso, agora, ela faz o papel de desapegada da relação. Ela fica com a pessoa por uma noite e some, não querendo manter qualquer contato.

Alguém bate na porta do quarto e entra logo após.

- Por acaso esse é o quarto da pianista mais linda desse mundo? - Alec pergunta com os olhos fechados enquanto sorri.

- Você errou de casa, amor, a minha fica no bairro seguinte - Felipe afina a voz e entra na brincadeira. Todos gargalhamos. Alec me cumprimenta com um breve beijo e se senta ao meu lado, roubando a fatia de pizza que estava em minha mão.

- Alec! - o repreendo, ele morde um pedaço e mostra a língua, que está com a comida mastigada - eca - faço uma careta e todos riem.

Passamos o resto da noite brincando e sorrindo. Eles me ajudaram a pintar meu cabelo novamente de rosa, o que foi hilário já que melamos todo o banheiro. O Felipe contou uma boa novidade, ele ficará na cidade definitivamente. A Louisa gostou muito da notícia, digamos que ela esteja dando uma segunda chance ao seu coração. Estávamos todos felizes, tudo estava finalmente se encaminhando.

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aaaaa, não guento 💛 Thanks for 15K em visualizações.

Minha Querida JúpiterOnde histórias criam vida. Descubra agora