(11) - Sofrimento interior

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"Não detenho renome entre os intelectuais, e por esse motivo costumo ser ignorado e, eventualmente, até mesmo silenciado quando tento expor minhas descobertas feitas através de pesquisas árduas. (...) concordo que algumas de minhas hipóteses são incríveis até mesmo para os mais eruditos aceitarem (...) ao estudar simples registros de transporte mercante pelo Oceano Endra, constei que os mercadores relataram o uso de mastros das naus com o brasão da silhueta semelhante a uma árvore irradiante. Bom, qualquer um menos informado dirá que se trata da Árvore Áurea da Floresta Dourada, e até esse ponto, nada de anormal. Mas esses pergaminhos de registros são datados do primórdio da Gállen unificada, das Eras Esquecidas, antecedendo o uso do Calendário Circular devido a suas datas rudimentares, alguns bons séculos antes do presente de Zyshuth para Sý'Einna, que só então originaria a famosa Floresta Dourada.

Minha conclusão é de que o estandarte de Aylentar é mais antigo do que comumente pensamos, e deve ter surgido com a assimilação da imagem da prosperidade e crescimento da própria União, que foi facilmente associado à uma árvore com a iluminação diurna. Com o tempo, Eyve'thir ganhou esta simbologia."


- Fragmentos de pergaminho

Historiador desconhecido



Limiar entre as Terras das Fronteiras e Yl'hinyrm

Ciclo 1348, Mês 3 


AURA. LUZ negra.

Dor. Vingança.


Ideias que mantinham a lunno por horas consecutivas em quieta reflexão, aos poucos sendo tomada em amargura e incertezas que tentavam fraquejá-la na sagrada missão do matriarcado. Questionava-se frequentemente sobre o uso da dádiva da luz negra e o peso que tinha por ter executado aquele mercenário, mesmo por autodefesa. Foi involuntário, um reflexo. Mas se não fosse, precisaria matá-lo do mesmo jeito — a missão demandaria.

"Isso me torna uma assassina? A Matriarca nunca feriu alguém... em nenhum relato ela precisou atacar... nunca..."

Muitas dúvidas e poucas fontes para satisfazê-las. Esse era o caminho de uma lunno fora de sua Era, aprendendo por conta própria o que significava ser quem ela era, espelhando-se no próprio reflexo, pisando no rastro daquelas que não existem mais. Uma lunno solitária que iniciaria sozinha uma Nova Era.

As amazonas que se destacaram das tropas da guarnição representavam um pequeno grupo fiel à Comandante Visýr. Guerreiras que ela própria reconhecia pelos nomes e conhecia a lealdade de cada uma perante o matriarcado. Definitivamente foram as mais bem escolhidas.

Desde a saída do charco, as amazonas tentavam interagir com ela, fazendo perguntas das mais diversas. A lunno e o cavaleiro logo notaram que o sotaque kandhú das isänym permanecia bem entendível, apesar da separação milenar de povos — um milênio equivalia entre cinco a dez gerações élficas, o que ajudava em muito a preservar a cultura original das tribos por tanto tempo. Era natural de se esperar grande curiosidade por parte delas com perguntas sendo feitas, e em uma situação normal, Yîarien adoraria responder a todas. Entretanto, houve um momento que ela pediu para que a deixassem em seu silêncio para meditar, e assim a respeitaram.

Thâmyr nunca fora um soldado, não do modo convencional que segue hierarquias militares e tem o dever de cumprir as ordens de um governante. Era muito mais que isso. Suas técnicas e disciplina extrapolavam o treinamento convencional de um guerreiro. Além disso, suas lutas e objetivos eram definidos por seus princípios, ou melhor dizendo, os princípios do Eremita, bem conhecido e falado pelos awbhem como Zyshuth.

Quinta Lua (Livro Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora