(02) - Vaynus

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"Na verdade, os três reinos awbhem não podem ser assim chamados. É alegoria para facilitar no entendimento das confusas fronteiras atuais da Gállen. O correto é denominá-las de Facções.

A Oeste, em Isänyrm, situa-se Aylentar, da capital com o mesmo nome, e essa talvez tenha o direito de se intitular reino, mantendo a pompa e tradições tão antigas quanto gloriosas. Até mesmo por uma questão de guerra, os aylentarianos mantiveram o título de reino para impor a ideia de que o outrora Reino da Gállen ainda exista, porém com suas terras fragmentadas e ocupadas por desertores.

Ao Sul, em Thulyrm, a maior porção do território formado desde estepes até selvas densas, organizou-se uma confederação de tribos sob o comando de Bálshiba, conhecido como Grande Clã, ou Surkhedon, em kandhú, com a capital em Arutama. Um nome inusual do vocabulário kandhú para designar uma civilização fortemente militarizada e expansionista finalmente encontrou, nestes tempos, uso entre os próprios awbhem; império. O Império Surkhedon, pelas colônias além-mar e reinos vassalos, pode ser assim considerado, sendo no fim outro título adotado por motivos de grandeza.

Ao Norte, em Yl'hinyrm, nosso povo se espalhou pelos quebradiços ermos em tribos independentes que unem suas forças se houver necessidade e eventualmente acabam se atritando entre si. Curiosamente, a independência que nos livrou do domínio do tirânico Bálshiba é justamente a independência que agora nos impede de nos unir. Como resultado, não temos um centro urbano para chamar de capital definitiva. Ayldânam é a maior das cidades, mas está tão incrustrada nos bosques remotos que as questões maiores tardariam para terem resposta. Mas tenho certeza de que nosso povo se organizará nestas atuais fronteiras de modo coletivo, conforme nossa identidade nórdica se fortalece trazendo um sentido de unidade. Éramos acostumados a nos enxergar como awbhem da Gállen, e as províncias não são, ou não eram, tão unificadoras quanto à tribo de origem. Somos das três facções a mais jovem, a que teve menos tempo de se compreender. Também somos aqueles que separam a Gállen do restante do continente, aqueles que pelos muitos bosques dominaram a arqueria e que pelo mar que invade o coração da província dominara a navegação e comércio. Somos o berço de poderosas entidades e lendas, e fomos anfitriões de grandes acontecimentos deste mundo. Se assim nossos líderes conseguirem enxergar, deixando para o passado as diferenças, a tão almejada Liga entre as tribos do norte se organizará para, no Conflito, perseverar.

E então, ao Leste, as fronteiras da Gállen findam ao encontrarem as monstruosas cordilheiras, conhecidas amplamente como Limiar. Além delas, principiam-se os domínios desérticos dos k'ammurianos."

- Juiz Devmo, da Cúpula dos Juízes de Aitháa



Rio Lunar

Primeiro dia do Ciclo 1348

Mês da Renovação



A COMITIVA escoltava Yîarien e seus acólitos pela via principal de Aitháa, descendo até o nível baixo que acabava no porto, sendo seguida, com olhares esperançosos, por todas as ruas. Êdya liderava as seis dúzias de vigilantes em armaduras púrpuras de ótimo revestimento, escudos retangulares de brasões tribais que nunca se repetiam, lanças em punhos com as hastes erguidas, cimitarras e espadas nas bainhas das cintas.

Dividiram-se em pequenos grupos em quatro naus aportadas no cais, onde os transportes já estavam preparados para partir com os mantimentos, os navegadores e as tripulações. O nascer vagaroso de Wym'rú ao norte entre os longínquos montes nevados demorava ao menos uma hora, enquanto o Astro de Todas as Luzes tingia o gelado Rio Lunar de raios alaranjados, selando o fim de uma noite única. Para os tribais, o amanhecer retratava a renovação das luas.

Quinta Lua (Livro Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora