Quinta Lua (Ýku'ráv)

(24) - Da Profundeza, A Rainha Emerge

"Há um equívoco no entendimento dos estrangeiros perante nossas deidades. A Grande Mãe e o Grande Pai não representam um casal afetivo. Eles são dois representantes supremos do Panteão Awbhem, dois grandiosos líderes aliados, apesar de todas diferenças entre os princípios de cada. Sý'Einna optava pela diplomacia na primeira instância, e Nährus agia através do meio militar, quando esse problema persistia numa segunda instância.

Tal mal compreendido deriva da sociedade dos ysokem. No entendimento comum deles, as palavras que significam tanto Pai e Mãe são provenientes dos genitores, de um modo peculiarmente literal. Os ysokem, ou humanos, como se intitulam, custam a entender tais definições, que para os awbhem somente são aplicadas às nossas duas divindades superiores."

- Idásios, Arquimago Enakân e Segundo Prelado

— JÁ PENSA em candidatas para serem discípulas?

Quinta Lua olhou para Adúry sem reação, vendo como a sh'hila era versada em muitos assuntos.

— Nunca havia pensado nisso — a lunno declarou um pouco desconfortável, temendo parecer irresponsável. — As prioridades imediatas acabaram me impedindo de me preocupar com isso. Mas agora que disseste, não tenho certeza se tenho candidatas.

— Também precisa decidir se vai as nomear a partir da primeira ou se dará continuidade à numeração de discípulas que já existiram. — Cibe Adúry trouxe mais detalhes nunca antes pensados. — Imagino que a escolha seja totalmente sua, claro, mas acharia interessante que as antigas continuassem a serem conhecidas pela ordem clássica do panteão.

— É complicado. Como provavelmente sabes, as discípulas foram sendo selecionadas por Sý'Einna conforme ela caminhava pela Gállen unificando as tribos nas Eras Esquecidas. Cada uma vinha de uma tribo maior, e as lunnos que se destacaram na unificação foram escolhidas, imortalizadas e receberam dádivas específicas. Estou inimaginavelmente longe desse nível de poder... — Foi sincera consigo mesma. — A numeração das discípulas foi só uma mera forma de reconhecê-las que acabou se popularizando. Só depois da junção da Gállen que Sý'Einna foi proclamada Matriarca, o que quer dizer que eu estou fazendo justamente o contrário ao buscar o matriarcado antes de minhas discípulas para me ajudarem. — Yîarien parou para respirar. — Eu realmente não sei se devia escolher antes de ser aceita em Aylentar.

— São casos bem opostos, para Eras bem distantes. Curiosamente, você também está tentando unificar a Gállen — Adúry comparou, mas sabia que havia uma imensa diferença entre unificar as tribos primitivas pela primeira vez e reunificar essas tribos depois de milênios de história. — Se todas as discípulas precisam ser lunnos e imortais, então talvez tenha um problema.

Pensou em citar a Sétima como uma sywha, e a especulação em torno da figura misteriosa da discípula esquecida a fez ignorar essa menção.

— Construir um novo panteão com a maioria lunno não vai acontecer. Não na perspectiva atual. — Yîarien pensou por um instante se haveria possibilidade de outras lunnos voltarem a nascer, e se ela, sendo matriarca, teria como alterar essa realidade, trazendo as lunnos de volta da extinção. Um pensamento maravilhoso, que deixaria para trabalhar melhor em sua mente em outro momento. — Além disso, sywhas e sothes também podem vencer o envelhecimento da mesma forma, é bem mais difícil para eles, mas é totalmente possível. Conheci uma sywha milenar quando encontramos Wanäe.

— Os awbhem precisam redescobrir as técnicas de domínio do corpo para tornarem-se imortais — a guardiã complementou do outro lado da fogueira, encostando a cabeça na parede rochosa. — Poções, ervas, treinos. Muito se perdeu. Nem mesmo Visýr conseguiria reproduzir este segredo que ela carrega na idade. Ninguém mais consegue fazer isso por vontade própria. A vida longa se tornou uma lenda nas províncias isänym.