Pergaminhos Perdidos: Wanäe

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"O que fizemos, até onde fomos, perturbou a estrutura do Conselho.

Falhamos. Mas falhamos executando nosso dever como zeladoras do matriarcado. Nosso retorno à Aylentar causou mais do que desavenças. Perdemos a confiança e os que nos apoiavam minguam a cada momento. Porém, os que acreditam em nossas honestas palavras se declinam para uma revolta dentro da capital.

Não há mais lugar seguro para as templárias. A imagem milenar que sempre tivemos se deteriorava nas mãos corrompidas dos políticos que se apossaram do trono. São vermes tão inseguros que criaram regras para defender a si mesmos e manter a coroa sobre suas cabeças. Nós fomos condenadas sem julgamento, sem justiça, sem direito de honra. Templárias passaram a ser perseguidas nas ruas e caçadas tal qual criminosos.

A história desse povo será maculada com nosso sangue e as mentiras do Conselho."

- Visýr, ex-Regente do Conselho de Aylentar

e líder da rebelião templária


Terceira Era, Idade do Banimento
Aylentar, capital do Reino Aylentariano, Ciclo 1350


A TENSÃO crescia em cada metro de rua e beco da metrópole. Os templos, e até mesmo os Salões Brancos, estavam vazios. Acima da colossal capital, Aylentar, o céu cinza era o véu do firmamento e dentro das imensas muralhas a aura ficava densa. O comércio estagnava com mercantes recolhendo suas mercadorias — o temor da revolta era generalizado.

Estandartes pendiam sem vento nas ameias e terraços, e estes aguardavam pelos ventos da mudança.

E os soldados se preparavam.

****

DOS LARGOS vitrais bem trabalhados, escassos fios de luz penetravam como lanças na cúpula da biblioteca principal de Aylentar, competindo com a iluminação interna de candelabros. Estantes de uma duradoura madeira rubra luxuosa e sustentavam centenas de milhares de escritos em níveis distintos entre os pilares que iam até o teto abobadado.

A calmaria dos pincéis com tinta fresca sobre os papéis fora findada ao som de botas metálicas marchando em ritmo firme e ameaçador. A bibliotecária viu pelo reflexo do mármore liso seis guardas entrando de modo incomum naquela seção privada.

— Senhores, essa é uma galeria reclusa — informou ela indo de encontro aos recém-chegados, impondo sua autoridade como responsável do local. — Peço que informem o motivo dessa visita e que mantenham o silêncio nesse recinto de paz.

A marcha não cessou. Não na distância para um diálogo. Ela deu alguns passos para trás em vão e um dos dois guardas que se destacavam dos demais lhe agarrou os braços, e ela soube nesta hora que se tratavam de executores do Conselho.

— Os textos profanos — exclamou ignorando totalmente o pedido dela, fechando mais ainda os punhos a machucando —, onde estão? — Engolindo em seco, a bibliotecária compreendeu o que eles queriam, e foi exatamente por isso que continuou em silêncio, perplexa. — ONDE ESTÃO?? — Sem demonstrar paciência alguma, o executor lhe chacoalhou violentamente, batendo as costas e cabeça dela contra a estante.

Quando a soltou, ela desabou ao piso gelado com o cabelo loiro sobre o rosto.

Os quatro guardas não estavam acostumados em dar tal tratamento aos civis, mas os executores seguiam ordens diretas do Conselho, o que dava um nível de prioridade muito maior à situação.

— Existem outros — falou o segundo executor. Ambos vestiam armadura quase completa enquanto os guardas usavam uniformes de proteção leve. — Tragam todos.

Quinta Lua (Ýku'ráv)Onde histórias criam vida. Descubra agora