(30) - Yuzhal

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Ato III: A Libertadora

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            "A Aura que veneramos a tantas Eras, que exalta as divindades, também é a mesma Aura que as baniu, nos desatando a força daqueles que tanto amávamos. O Banimento foi o ato de maior crueldade em toda a Existência. Venceríamos os Asi'Kales por nós mesmos, a guerra era nossa, e com ela assumiríamos o lugar deles como a maior civilização de Ëathir e uma Nova Era de glórias se iniciaria. Fomos apunhalados pelas costas pelo manto celestial e levados à nossa própria guerra interna.

Essa, é a mesma Aura que sustenta a vida nesta forma reduzida que possuo e ao mesmo tempo me aprisiona neste corpo decrépito. Sou maior do que isto. Minha real forma se expande para além do imaginário. Minha força, meu poder, são incomparáveis.

Sou a Besta da Revelação.

Eu sou Bálshiba."


- Pensamentos de Elthuryan, o Primogênito, principaldivindade sobrevivente do Banimento


O ACAMPAMENTO seuriano fora fácil de localizar. Ficava após as dunas, onde uma tímida vegetação resistia ao clima árido e propiciava sombras aproveitáveis.

— Nenhum sinal das moedas — o arqueiro informou ao seu lorde. Os demais mercenários vasculhavam por todas as provisões dos seurianos em busca de bens valiosos, de acordo com o trato estabelecido com Yîarien; tudo o que encontrassem seria deles por direito.

Kiirth se enfureceu, de qualquer modo. Em compensação, a espada do Apóstolo ficara muito bem embainhada em sua cintura.

— Como eles podem ser tão traiçoeiros e tolos ao mesmo tempo? — bravejou, sentindo-se enganado. — Será que tinham ao menos ideia de quem eu sou e do que eu faria com eles depois?

— Vejo que descobriu que os seurianos são péssimos clientes. — Thâmyr descansava sobre uma rocha, divertindo-se com a fúria do lorde. Ao seu redor, todas as tendas eram desmanteladas, restando apenas aquela que eles estavam. Entre seus dedos manuseava um cachimbo aceso, soprando nuvens finas de fumaça cinzenta. Havia retirado o cachimbo das bolsas de Renthäm depois de tanto tempo sem usá-lo; um hábito que aprendera com Yrush que fumava entre leitura e escrita de um pergaminho e outro. O Errante gostava de se lembrar disso. Raramente fumava, reservando para momentos menos tensos, como aquele. — Ao menos irá nos dizer quanto custavam nossas cabeças?

— Quatro mil lascas — Krydlo falou com amargura de quem jamais sentiria o peso ou o toque das moedas.

— Nunca pensei que um dia eu valeria tanto. — Thâmyr riu, o que definitivamente provocou o ego ferido do lorde. Dera outra tragada longa.

— Quanto a este seuriano? — Apontou para o prisioneiro deitado no chão, algemado na pilastra rija da cabana de largas aberturas laterais. — Exijo que ele seja acordado. Vou interrogá-lo.

— O mago não faz parte do trato. — Ao dizer isso, Thâmyr quis saber de "qual parte" um seuriano vivo fazia.

— Terá de dar outra desculpa. — O mercenário ficou sério. — Ele vai dizer o que preciso saber.

— Podes tentar — Yîarien respondeu desta vez. Ela só observava a conversa até então e portou-se como responsável pelo prisioneiro. — Sem matá-lo — ela exigiu, igualando a seriedade.

O arqueiro trouxe um balde com água usada para os poakes dos seurianos e jogou na cabeça do mago, ensopando seu robe. Ele despertou assustado, olhou para os lados e tentou se afastar de todos. Antes mesmo de se levantar, as algemas o puxaram de volta para o chão de um jeito patético.

Quinta Lua (Livro Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora