(65) - Sev'sha; Morte aos Adoradores da Falsa Rainha

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Ato VI: A Liga de Akanea

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"Os que lhes forçarem a se ajoelhar não são dignos de serem chamados de amigos. Ajoelhem-se somente aos que seus corações consintam.

Que seus punhos não sejam erguidos ao estranho, mas suas palavras amistosas até que esse seja um semelhante."

- Sý'Einna, trecho de Uivo das Estrelas


VAGANTE, COM o mundo ondulando logo acima, mas infinitamente distante, submergia em sua armadura que o arrastava para baixo como algemas de condenação presas em pedras densas. Hastes fúlgidas teciam o véu delineador da proa à nau e os muitos remos partidos metros acima. Recordava-se com dificuldade de como parara na vastidão esmagadora, mas a razão era impressa em sua mente, lúcida e evidente como o amanhecer do céu mais desnudo. Nem o manto escuro de sangue que lhe escorria da fenda do peito encobria a beleza triste do mar transparente. Estilhaços se espalhavam ao seu redor, não importava se era tecido, metal, madeira ou carne, tinha certeza de que fizera o seu dever como os demais que na herdeira acreditaram até o fim.

"Raios de luz, busquem-me. Levem meu espírito ao lado dos ancestrais."

O peso do corpo sendo puxado às profundezas era igual ao todos. Não havia mais lados à beira da morte, só a igualdade fúnebre e a memória que se esvaia.

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FLECHAS ESTILHAÇAVAM-SE aos pés da formação impenetrável. Escudos nórdicos largos sorviam o dano dos projéteis e as lanças mantinham os invasores afastados. Carapaça espinhosa era a técnica defensiva imóvel e bem elaborada, capaz se conter a posição por um longo tempo, a menos que uma força maior interviesse, por engenharia ou conjuração.

— Cessar disparo! — gritou uma ver'kirin comandante. Em suas costas um estandarte trazia o orgulhoso brasão do chifre partido. Os arqueiros que rodeavam os inimigos abaixaram seus arcos e diminuíram a tensão da corda, mas mantinham de prontidão as flechas assim que um novo comando fosse dado. — Vedá'na! — falou, e os legionários cinzentos rodearam a formação dos oponentes em número dezenas de vezes maior. — Exijo falar com o líder. — Ele deu dois passos à frente e bateu a lança no chão. O cansaço estava longe de desacelerar o herdeiro de Nährus.

Os soldados de Bálshiba massacraram a pequena investida lançada por Akanea contra à grandiosa armada de armadas. Porém, os comandantes estavam extremamente irritados com o estorvo causado e com a quantia considerável de soldados que perderam tão rapidamente, principalmente por subestimarem o ataque suicida.

Duas horas atrás, os Saqueadores guiaram as naus do almirante Varesh para uma colisão à armada de Bálshiba. O disfarce durou até que notasse a intenção de ataque da esquadra que se aproximava, por não desacelerarem ou mudarem o curso ao se reagruparem. Após o estrondoso contato inicial, eles alinharam os barcos, recolheram seus remos e velas, criando uma plataforma marítima consistente por onde as infantarias dos dois lados se enfrentaram tal um campo de batalha sanguinolento. Até que, após mais tantas mortes, ao núcleo deste palco, os últimos guerreiros de Á'Glah persistiam unidos de modo defensivo.

Silêncio.

O ranger dos barcos seriamente danificados tonalizava a sinfonia.

A Armada Dourada estava arruinada, com seu contingente reduzido a não mais que quatro dúzias de fiéis guerreiros.

— Eu disse que exijo falar com o líder! — bufou a ver'kirin da Casa de Nenuym a dois metros de um dos escudos inimigos, propositalmente ao alcance de uma estocada de lança. A awbhem cinzenta enfureceu-se em ser ignorada por soldados que via com total inferioridade. Mais um tempo se passou e nada fora dito pelos atacantes. Os akaneanos mantinham-se firmes e ela esmagou o crânio do combatente moribundo ao lado de sua bota por sadismo, sujando a capa de Akanea com seu sangue. Então ela se acalmou e mudou de estratégia. — Vocês lutaram bem. É óbvio que o plano suicida de ataque em navios roubados é parte de um engodo maior. Por isso, lhes faço uma oferta.

Quinta Lua (Ýku'ráv)Onde histórias criam vida. Descubra agora