(57) - Crepúsculo... e o Seu Enlace

2 0 0
                                    


"Ela chegará como em um sonho; esplêndida e dourada. Ofuscante será seu retorno, oh, findadora de vinganças. Lamúrias dos palácios assombrados cessarão e névoas que roubam a felicidade serão dissipadas. Pálido luar tecerá entre os arrebóis e as estrelas haverão de coroá-la, assim presenteados seremos de vossa Noite na tua imortalidade."

- O retorna da Rainha de Todos, trecho de poema da Terceira Era


WYM'RÚ ANUNCIAVA-SE em nuvens avermelhadas ao longe antes mesmo de resplandecer com sua coroa. O caminho que se alongava ao infinito entre a areia branca macia e o horizonte, era o rastro da Lua Branca que começara a desaparecer lentamente.

Sentada de pernas cruzadas sobre a rocha que se alongava ao mar manso da praia afastada, ela aguardou, talvez por mais tempo do que imaginara, e mesmo assim sem pressa.

A silhueta que recordava um longo manto negro, ondulando ante o movimentar das águas, terminou de repousar no fundo das águas cristalinas, e ao nado lento submergiu com os imensos cabelos negros para encará-la com admiração e adoração.

— Sabia que uma hora me seguiria até aqui. — Yîarien renovara o ar de seu peito após horas submersa. — Me alegra pensar que é a única que não posso escapar.

— Como convenceste as templárias a perambular sozinha pela ilha? — brincou Ákera, deitada de lado na pedra e apoiando o rosto na mão, com os fios ruivos pendendo quase na altura da maré. — Elas são bem implicantes, até mesmo para as formalidades de uma lunno.

— Não foi difícil, eu estou segura aqui. Só estaria vulnerável em meditação — justificou, devolvendo o mesmo tom. — Além disso, nada me tocará, a menos que eu permita ou deseje.

— Estas são palavras de Endamyan, a mais brava das Discípulas. — A almirante recordou-se de sua vasta memória. — Ela mesma dissera a mim umas três ou quatro vezes isso, sendo que só em uma delas envolvia inimigos.

— As palavras das Discípulas já me serviram bem diversas vezes. E tu, não virás? — A lunno estendeu a mão. A pele azul de desenhos roxos podia ser vista com o crepúsculo. Estava nua, completamente, extremamente convidativa na aura e na carne.

— Ah, Yîarien. Doce Yîarien. — Suspirou Ákera com um sorriso gracioso, confortando-se mais ainda na superfície lisa. — És uma lunno em todos sentidos e aspectos. Não à toa te adoro tanto.

— Poderias me adorar ao enlace de meus braços.

— Poderia. — Contornou outro sorriso nos lábios vermelhos. — É uma proposta interessante. — Levantou-se e se despiu da túnica clara, deixando as vestes sobre a pedra, para então juntar-se a outra na água salobra e gélida.

Tão logo aproximou-se da lunno, sentiu o corpo aquecer-se. Era a película de luz negra, que se expandia entre as duas, confortando-as.

— Sejas meu mar — murmurou Yîarien imersa na libido.

— Sejas minha lua — sussurrou Ákera tomada pelo desejo.

Enquanto o sol surgia, mal aquecendo a superfície sem ondas, as duas fêmeas envolviam-se. Elo áurico estreitava-se em sentimentos que só uma lunno poderia cativar naquele ou naquela que verdadeiramente amava.

****

DEITAVAM-SE NA pedra com os raios diurno as banhando, desnudas como duas amantes deveriam ser.

A praia, tão calma e deserta, era lar de pequenos animais e nada mais. Nem porto, nem estrada, nem vila. Quanto mais tempo passava em Á'Glah, apaixonava-se mais por aquelas terras quentes de florestas tropicais assim como apaixonava-se mais por Ákera, entrelaçando uma paixão na outra.

Quinta Lua (Ýku'ráv)Onde histórias criam vida. Descubra agora