(56) - Origem de Uma Liga

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"De um modo geral, Telä traz a essência de Aitháa; água, montanhas e florestas são tão importantes quanto seus lares e o povo lutará por tudo isso. Até mesmo a arquitetura recorda, com cúpulas no teto e janelas grandes, com a diferença que aqui as casas e monumentos são mais altos e construídos sobre o terreno mais regular. Percebo que as castas são bem menos tradicionais em cidades grandes, enquanto em vilarejos elas perduram — Wanäe contara que praticamente não se aplicam as tradições tribais em Aylentar, mantendo as castas como separações bem maleáveis.

Tive tempo após peregrinar pelas tribos da Ilha Maior para conhecer melhor os que me consideravam sua herdeira. Solicitei às escritoras, poetisas e musicistas e o restante do séquito que aguardasse na Lança Lunar, então vesti-me como uma awbhem comum e ao lado de Wanäe e Yuzhal, Ynamus levou-me a sua casa e conheci seu marido, um pescador e uma pessoa maravilhosa.

Caminhamos pelas feiras da cidade e estabelecimentos do porto, apreciando iguarias, boa música e outras artes. Foram muitas perguntas que fiz a eles e ao mesmo tempo respondia as questões curiosas de Yuzhal da forma que podia. O seuriano não tinha ideia de quem os awbhem verdadeiramente eram, assim como eu também não tinha quando parti de Aitháa."

- Yîarien, a Quinta Lua, em sua passagem por Telä


AO SUL, a baía e importante porto se mantinha ativo mesmo na chuva forte. As naus capitânias das três armadas ocupavam parte considerável do atracadouro, sendo a Lança Lunar tão grande quanto um palácio, fazendo as trirremes normais tornarem-se miniaturas e as barcas pesqueiras insetos. Ao Leste, uma série de colinas cobertas por um bosque separava a cidade da cordilheira que dividia a Ilha Maior quase ao meio. Essa série de montanhas era mais baixa se comparada ao Limiar de Gallen'thir, e se estendia serrilhada e cheia de desníveis belos, com alguns picos nevados, cortando a ilha de Norte a Sul, delineando o lado ocidental e o oriental — esse por sua vez era intocado por sapientes e de difícil acesso, sendo um reino de árvores colossais que alcançavam as nuvens com copas que podiam ser vistas entre os vãos da cordilheira. Seguiam-se florestas ao Oeste de Telä, assim como rios e lagos, e praias de areia branca e mar cristalino. E o cume da cidade, levemente ao Norte, na principal colina e protegido pelas duas camadas de muralhas, o Templo de Níshma era a uma galeria de relíquias da arte.

— Poderia sentir a presença dele a quilômetros. É tão evidente quanto o odor da terra molhada — de braços cruzados, retorquiu Ákera à antiga amiga fazendo uma analogia a chuva densa que cobria a cidade portuária e podia ser vista ao redor daquela torre — No momento, nada sinto, se é o que querem saber.

— O que foi aquilo que aconteceu no santuário da floresta? Não acuso a herdeira de assassinato, se é o que soa — Visýr esclareceu. — Ajude-me a entender.

A comandante das templárias encontrava seu lugar de respeito entre os líderes de Á'Glah presentes na assembleia. Yîarien deixara bem claro a função das sacro-guerreiras como guarda-costas, solicitando que desvinculassem a aversão aylentariana delas.

— Kimamna, uma das curandeiras, serviu naquele refúgio para paz, tratando especialmente de doenças de animais silvestres. Não a conhecia antes disso, porém tudo indica que ela era uma refugiada de Arutama. — Ákera estava visivelmente desgastada, mas continuava sem descanso ou lamentações. — Uma agente que aguardou silenciosos duzentos ciclos se passando por cidadã de Telä. Quando chegou a hora, ela revelou-se como uma porta-voz de seu mestre e cometeu o sacrifício final para não ser pega. Ela era uma serva branca de Bálshiba todo esse tempo, morando em nosso lar, vivendo como um de nós.

Eles entendiam o peso de um servo branco, principalmente Varesh que conhecera alguns em seu tempo de servidão entre os clãs de Arutama. A presença de uma espiã ameaçava desestabilizar a confiança interna, o que tanto Ákera e Visýr lutavam para manter, mesmo que uma não apoiasse a outra diretamente. Instabilidade era, de fato, uma dos objetivos de Bálshiba.

Quinta Lua (Ýku'ráv)Onde histórias criam vida. Descubra agora