Desde os primórdios da Existência memorável, um ciclo de fases se manteve ininterrupto ao decorrer da evolução de tudo. Escolhas eram feitas deliberadamente pela Aura. Em longos intervalos quase regulares, o manto áurico se expande cobrindo todas as direções como uma onda cósmica incomensurável por um breve instante. O "Pulsar", posteriormente chamado de Uivo das Estrelas pelos primeiros awbhem. Esse contato banha as estrelas e toca na superfície uniformemente, selecionando as estirpes que lhe convinham para imbuir de essência e incumbir de designos em seu âmago.
As formas de vida eram rústicas, toscas e delicadas em geral. Os que eram adotados pela Aura tornaram-se perspicazes e prevaleciam sobre os demais. Em uma vastidão de formas selvagens, alguns superaram a todos os outros animais e a si mesmos, vencendo o ciclo da morte e tornando-se as Entidades Ancestrais. De vitalidade infinda, vagaram pelos continentes alimentando-se dos inferiores e espalhando suas proles, se assim conseguissem. Até que então o novo ciclo áurico presenteasse novos indivíduos de outras espécies para renovar e derrotar os anteriores, e dessa forma, continuamente. A cada nova fase, era mais raro as divindades antigas sobreviverem.
Havia uma entidade de intensa essência áurica, em que seu objetivo se resumia em simplesmente prosperar, e passara despercebida por diversas fases de disputas entre os novos predadores que emergiam e os predadores anciãos. Um herbívoro de pelagem marrom e exuberantes galhadas ósseas acimadas de sua cabeça habitava ermos de planícies vastas, em um refúgio isolado de todos os conflitos, convivendo com seus descendentes igualmente imortais. Enquanto os animais dotados pela vontade da Aura se concentravam em utilizar sua essência para elaborar a capacidade de luta, aprimorando garras, cascos, chifres, presas e o tamanho corporal, essa divindade ampliou sua mente e, consequentemente, o espírito.
Em certo momento dos ciclos, a entidade herbívora assumiu a posição de criatura viva mais antigo. Sua inteligência cresceu e lhe permitiu escolher um nome para si mesma. Então chamou-se de "T'zuah", que em sua mente não estava muito distante do som que suas cordas vocais emitiam pelos pastos. Ao decorrer desse longo tempo, ela testemunhou o fim de incontáveis espécies e sua consciência podia interpretar aquilo com veemente tristeza. Assim, desejou que nenhuma outra forma de vida única deixasse e existir.
Os dias calmos de eterno descanso nos estepes cessaram, e os semelhantes de T'zuah começaram a serem mortos, tendo a imortalidade roubada. Não havia onde se esconder dos novos caçadores. Esses eram tão diferentes de todos dos anteriores ciclos, que predavam usando os próprios recursos do ambiente como meio de lutar. Ishnars, os Primeiros, assim se intitulavam. Constituíam de uma cepa de bípedes ágeis que maneavam a natureza a seu favor, que rastreavam e abatiam todas as formas de vida com essência áurica para agregá-la em si. Eles foram os primogênitos das criaturas de autoconsciência que se distinguiam dos outros animais e tinham noção disso. E por isso, os Ishnars foram selecionados pela Aura para liderarem seu ciclo.
T'zuah seria a próxima, pois fora deixa por último entre as divindades antigas. Os Primeiros absorveram o poder de todos que lhe interessavam e só ela restava. Prestes a ser cercada pelos andarilhos armados com lanças, foi encurralada no topo de uma cachoeira. De lá, a velha divindade imortal desejou abstrair sua mente de si mesma, afastando-se do próprio corpo que caiu inerte e sozinho pela cascata, desaparecendo nas águas. Entretanto, o espírito de T'zuah se aninhou no interior de uma pedra um pouco maior que um seixo do rio, de onde habitou em silêncio, escondida dos algozes caçadores que por ela buscaram em vão.
A partir desse momento, a ancestral deidade convocou o espírito dos últimos indivíduos de cada raça que era extinta para povoar eternamente em sua consciência dentro da pedra, para que jamais se perdessem.
E, assim, se sucederam Eras onde apenas os Ishnars prevaleciam desequilibrando os ciclos, causando por fim, o fenômeno que seria conhecido por futuros seres como "O Banimento", onde o Pulsar final aniquilou suas próprias escolhas. Com o intuito de interromper forçadamente o legado dos Ishnar, as divindades foram desfeitas sem distinção pela mesma Aura que lhes havia concebido.
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Quinta Lua (Ýku'ráv)
Fantasy(LIVRO COMPLETO) *Fantasia Épica em Terceira Pessoa focada na trama entre divindades vivas e mortas: um testemunho lírico em forma de livro sagrado dentro deste universo próprio* (+18) Sinopse: "A Matriarca nos governava com sua eterna sabedoria. T...