(23) - Onde A Força Repousa

14 1 0
                                    


"Manipulação e conjuração não são puramente dons. Ambas representam técnicas de estudo milenar. Os que apresentam afinidade em uma das Forças podem migrar para a casta sacerdotal e se dedicar ao treino em um templo com auxílio das sacerdotisas ou diretamente dos magos.

As Forças, ou Akâns, representam aspectos da Existência, que podem ser alterados através da Vontade áurica e mental. Muitos ciclos são demandados para que haja resultado e atinja serventia, por isso tão poucos se tornam efetivamente magos entre os soldados. Caso não dedique inteiramente seu espírito aos estudos, una-se às falanges de hoplitas, pois garanto que sem dedicação às Forças esse será seu devido lugar."

- Yul'rra Ayév, Terceira Discípula e Primeira Prelada dos Enakâns



CONTOS E mitos narram a magnitude do monte visto ao longe pelos navegadores. Um colosso totalmente inóspito ao vazio. Seu alicerce se faz firme dentro do mar revolto, inabalável sob as ondas, levantando-se por centenas de metros acima das águas. Akân-ëa, Lar da Força, fora escolhida para abrigar um ousado projeto.

Por décadas, sua base foi remoldada. Nas mãos de milhares de operários com engenhos complexos, as praias que surgiram do contato com o oceano Endra foram ampliadas, alongadas, aproveitando o desenho natural para criar um imenso porto. Tal obra audaz que utilizava da rocha lavrada da montanha para criar vias e múltiplos níveis fora abandonado quando as guerras exigiram que os trabalhadores fossem redirecionados para deveres de maior urgência.

Akân-ëa ficou uma Era aguardando, esquecida nos mapas, sendo recordada somente como marco de referência por navegadores, até ser redescoberta e conquistar o interesse de alguém que viu nela algo a mais. O esqueleto sólido da estrutura gigantesca não se danificou com o tempo, a fundação era feita para durar milênios, e ainda assim seriam necessárias mais várias décadas para terminar o projeto.

A construção do imenso porto foi retomada a passos lentos, gradativamente recebendo o melhor que Yl'hinyrm podia oferecer em material e construtores. Ali, uma ilha na margem do continente e arquipélago de Á'Glah, estrategicamente posicionada para a saída do oceano aberto, a capital da província do Norte era edificada com a alcunha de "Akanea".

****

Akanea, Arquipélago de Á'Glah,

Ciclo 1348, Mês da Mudança

BRISA MARINHA tocando o corpo.

O gosto salubre do ar.

A escadaria levava até o jardim alto da montanha. Mesmo lá de cima onde o vento soprava refrescante o tempo todo, a extensão de porto não podia ser completamente observada.

Acendeu o archote fincado na beira dos degraus com sua tocha, ao qual era tombada para o lado pelo sopro, clareando a noite. Lua Verde, Alva e Negra compartilhavam o firmamento em harmonia em pontos e fases distintas atrás das nuvens. Lá embaixo, tão distante, muitas outras tochas davam noção da vida que começava a existir na capital em construção. Centenas trabalhavam e outros milhares já habitavam a ilha-de-pedra para sustentar a construção. Deveria se orgulhar, pois ela era a causadora daquilo. Era libertadora de cada um deles. Ao contrário da expectativa, sentia-se ínfima e impotente.

E as notícias não paravam de vir da Gállen.

A barra da saia clara e as mechas ruivas ondulavam em sintonia, e contemplava a pura desolação.

"Há muito venho observando a herdeira".

A frase era nítida, tão clara quanto articulada por uma boca. Não soava através de cordas vocais. Vinha pelo sussurro espiritual.

Quinta Lua (Ýku'ráv)Onde histórias criam vida. Descubra agora