Ato IV: A Andarilha das Dunas
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"As rochas escaldadas e os esqueletos descarnados lhe contarão histórias mais agradáveis que as minhas.
Conhecíamos a fartura e desde os anciãos assim fora. Fomos imensamente gracejados de segredos da natureza, mistérios aos quais jamais desvendaríamos por nós mesmos. Mas também são os anciãos que dizem, em meio aos contos da fogueira aos luares, que para os antepassados a terra e seus costumes eram outros.
Já fui um pastor onde, até o momento da escrita deste pergaminho, é conhecido como Ermos Assolados. Deveras irônico aos vales férteis e irrigados aos quais eu vim. Lá, era plantado quaisquer frutos se soubesse as técnicas adequadas, o que qualquer aldeão lhe ensinaria com satisfação. E mesmo assim, apreciávamos o simplismo.
Todos éramos gratos aos ensinamentos que nos foram transmitidos por gerações. A cada colheita ofertávamos um ritual às divindades, sacrificando uma quantia simbólica da produção ao altar em flamas. Os anciões aos pequenos explicavam como os alimentos e demais materiais transcendiam à terra quando a brisa do deserto carregava as cinzas. Tais divindades eram figuras míticas, nomes que há muito foram dados para ilustrar os personagens dos contos. Para cada elemento que podia ser distinguido um do outro, um nome havia e logo uma deidade para ela também, resultando em centenas de entes venerados comumente referenciados como Antigos. Tal crença era coletiva em toda Mídd, devido as ruínas dispersas pelo oceano arenoso. Somente muito tempo depois eu conheceria as tradições gallênicas que detinham explicações mais densas para essa mesma visão cosmogônica; os Akâns, que regiam a Existência.
O que me intrigava desde criança, acima de tudo, era como cada nome de deidade servia para explicar a criação de algo, salientando e definindo as fundações da Totalidade, com exceção de uma entidade; o Eremita.
Colunas incomparáveis com qualquer outra construção se estendiam sobre o solo, deitadas como obeliscos caídos, serviam de base à aldeia, com suas moradas sob, acima e aos redores. Os Antigos e seus vestígios enigmáticas fomentavam a imaginação de todos. É evidente que os aldeões associavam suas crenças mais diversas a eles, e novamente a exceção retornava.
O Eremita não fazia parte do panteão cósmico, mas o oposto disso. Nomeavam-lhe de Zyshuth, e até mesmo Senhor da Terra ou Senhor da Passagem do Tempo. Tratava-se de um ente isolado como o título sugere, que não era um conto distante e nem totalmente inalcançável. Teria Ele, pelas lendas, navegado pelos mesmos rios que hoje conhecemos e espalhado aos povos que visitara seus conhecimentos sem nada pedir em troca.
Muitos acreditavam em Zyshuth da mesma forma que as demais deidades, mas meu coração se negava a aceitar que estavam no mesmo patamar. No nosso templo, empoleirado sobre a base, estava uma tábua do Calendário Circular que os sacerdotes juravam por seus espíritos que aquela era uma das oito tábuas de argila originárias, um artefato legítimo cunhado pelas mãos do Eremita e entregue diretamente aos pastores daquele vale em tempos remotos.
Chamavam de exagero. Era impossível determinar se Ele estivera na aldeia, mas seu ensino de fato era notável ali. De qualquer forma me fascinava como uma chama perene em meu peito, sempre me impulsionando, me deixando inquieto. Zyshuth, em termos de poder, era o mais fraco das tais divindades ao mesmo tempo que era o mais próximo e importante para nós. Sem o Calendário, não saberíamos com exatidão prever quando as combinações de luas criariam cheias e secas, determinar migrações e medir a passagem dos ciclos, dos séculos e dos milênios.
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Quinta Lua (Ýku'ráv)
Fantasy(LIVRO COMPLETO) *Fantasia Épica em Terceira Pessoa focada na trama entre divindades vivas e mortas: um testemunho lírico em forma de livro sagrado dentro deste universo próprio* (+18) Sinopse: "A Matriarca nos governava com sua eterna sabedoria. T...