Pain

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Lily sentia seu estômago doer, como se agulhas estivessem ali sendo brutalmente enfiadas e rasgando todo seu epitélio, mas não podia parar, não enquanto tudo o que havia comido não estivesse fora de seu corpo. Não podia reclamar daquilo, afinal, se descontrolava em sua alimentação e agora sentia essa necessidade desenfreada de se libertar daquilo e impedir que seu corpo ficasse ainda mais gordo. Todos diziam que ela estava louca por se preocupar tanto com sua aparência, principalmente com seu peso, mas não conseguia se enxergar como os outros a diziam que ela de fato era. Então comia, vomitava em seguida, as vezes várias vezes em um único dia. Às vezes sofria por fazer isso, às vezes se sentia descontrolada, às vezes queria falar isso para alguém que a ajudasse a parar, mas sempre lembrava de suas motivações pra isso. Num mundo onde sua aparência é tudo, ser gorda não era uma opção pra ela, especialmente sendo modelo, sentia que precisava ser perfeita e se esse fosse o preço a pagar aceitaria também.

-Lily? – A voz de Andrew surgiu ali a fazendo segurar a respiração rapidamente. – Você está aqui? – Questionou. Ela limpou o rosto. Estava se sentindo fraca demais até mesmo para responder. – Estou vendo você, você tá passando mal? – Perguntou.

-Eu estou bem... – Falou pausadamente.

-Está no chão... – Ele retrucou.

-Andrew, aqui é o banheiro das mulheres, então por que você não sai daqui e para de fingir que está preocupado comigo? – Lily falou grosseiramente, ainda se limpando.

-Eu me preocupo. – Disse firmemente se sentando no chão, do outro lado da porta. – Você está passando mal? Se precisa de um remédio ou ir até a enfermaria, eu levo você. – Disse.

-Eu não preciso de ajuda. – Respondeu enquanto sentia uma tonteira terrível lhe tomar.

-Nem pra conversar? – Insistiu pegando a mão dela por debaixo da porta fazendo-a encarar as mãos grossas dele.

-Por que está aqui? – Indagou ela.

-Porque por algum motivo estranho eu não consigo pensar que você está mal sem me sentir mal também... – Falou. Lily encarou o vazio, ainda sentindo a mão dele na sua, a aquecendo. – Eu sei que eu sou um arrogante na maior parte do tempo, e que todo mundo diz que eu sou a cópia fiel do que meu pai era antes da minha mãe... – Discursou. – Mas eu não sou o meu pai, nem preciso ser. – Suspirou. – E eu gosto demais de você pra ir embora daqui, então até quiser sair daí e me dizer o que você tem eu vou ficar aqui segurando a sua mão e te mostrando que você é a única coisa que me separa do que todos dizem que eu sou. – Mordeu o lábio. Ela sorriu, sentindo os dedos dele acariciarem os seus com delicadeza.

-Você me acha feia? – Lily perguntou fazendo-o rir.

-Lily, você é simplesmente linda. – Disse. – Tão linda que às vezes me desconcerta. – Completou.

-E gorda? – Indagou.

-Você não seria gorda nem tentando. – Respondeu. – Mas isso não importaria. – Falou.

-Isso sempre importa. – Rebateu ela. – Não olharia pra mim se eu não fosse bonita e magra. – Suspirou.

-Olho pra você desde que tínhamos dez anos. – Andrew fitou o vazio. – Olhei pra você quando usava aquela fita roxa horrível na cabeça. – Riu. – Olhei pra você quando teve espinhas. – Continuou. – Olhei pra você quando cortou errado a franja e pareceu aquele bicho do desenho que víamos juntos. – Lily riu. – Olhei pra você quando ficou internada para operar as amígdalas e quando ficou dias inchada por causa da caxumba. – Explicou. – Sempre olhei pra você e vi muito mais do que eu realmente via, porque pra mim, Lily, você é muito mais do que sua aparência mostra... – Disse e agora as lágrimas no rosto dela rolavam. – Você é maravilhosa e não porque é uma ruiva de olhos castanhos, alta e magra. Você é maravilhosa porque é a Lily, e eu sempre só olhei pra Lily, então se isso importa, você pode um dia ficar o que considera feia, e pode ficar o que considera ser gorda, mas eu sempre vou te olhar do mesmo jeito. – Encarou a porta para ver apenas a sombra dela secando as lágrimas que lhe enchiam os olhos castanhos. Ela logo estendeu a mão para abrir o fecho da porta, permitindo-o vê-la ali. Ela tinha os olhos molhados e ele sentiu dor por vê-la assim. Sem dizer palavra alguma, Andrew rastejou até ela e a colocou em seus braços para apertá-la em um abraço caloroso. Lily desabou ali. Chorava todo o medo e a dor que sentia, sem ter vergonha alguma. Ele acariciava seu cabelo e afagava seus braços. – Me mata ver você assim... – Sussurrou ele. Ela apenas o encarou.

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