CAPÍTULO XXXI

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  "Tenho um pouco de medo: medo ainda de me entregar pois o próximo instante é o desconhecido."

Clarice Lispector

GABRIELA SAHANI


Onde uma pessoa tão pequena pode dar tanto trabalho?

Até pra sobreviver ela dá um trabalhinho danado, pior que uma criança, mas, eu sorrio. Não me imaginava estar assim com ela, poderia estar melhor, claro! Numa cama aconchegante vendo um filme, talvez um filme, né, Gabriela! Não tem como eu me conter com esta pequena ao meu lado.

Cindy apareceu em minha vida bagunçando tudo. Chegou como não quer nada e foi tomando um espaço que estava lacrado e enterrado. Foi tomando posse daquilo que nem ela mesma sabia que um dia seria dela, sorrio, pois eu realmente me fodi no primeiro dia em que a vi, sabia que dali por diante ela iria acabar com a Gabriela livre.

Mas, cá estou eu sentada olhando para uma bela mulher dormindo como um anjo ao meu lado, porém, de anjo ela não tem nada. Então, Gabriela! Bom, eu preciso procurar algo para comermos e isso requer ter que sair da caverna, o que me deixa um pouco aflita. Antes de me levantar, deixo a arma ao seu lado e beijo o topo de sua cabeça, pego a mochila, depois de ter tirado as coisas de dentro dela, e sigo para o caminho a onde vi uma passagem.

Quem me dera a arma empoleirada nas minhas costas me desse a segurança de que eu preciso. É pela Cindy, vale a pena!

Saio da caverna rapidamente, porque se me vissem, pelo menos não iam saber que a Cindy estava lá, além disso, com ela machucada, não tinha absolutamente nenhuma chance de sair dali com eles.

Peguei a arma das minhas costas e a deixem em punho! Parecia que o dia estava se encaminhando para um fim de tarde, não seria hoje que íamos sair dali. No entanto, eu precisava achar alguma coisa para comer e precisava levar madeira ainda que encharcada.

Olho bem para a entrada para não correr riscos e ando o mais rápido que posso, sem fazer muito barulho. A lama é bem notável e preciso passar por sobre folhas para não deixar minhas pegadas.

Que comida eu vou achar nesse lugar?

Com alguma sorte – muito pouca talvez – algum caçador dos velhos tempos pode ter deixado alguma coisa para nascer. Vamos, Gabriela, reza por isso.

Estava quase desistindo, então, eu me deparei com uma enorme mangueira.

Deus existe!

As mangas não estavam exatamente maduras, nem tão verdes, mas, eu achei melhor pegá-las. Do que eu estou falando, caralho? Eu comeria até as folhas dessa mangueira.

Rio, pois a Cindy provavelmente me daria um sermão.

Termino de guardar as mangas na mochila. Olho ao redor pra ver se tem algo estranho e com tudo calmo, sigo o meu caminho não deixando rastros. Olho mais uma vez antes de entrar na caverna, sem rastros e sem nada duvidoso, entro na caverna e ajeito as samambaias. Aproveito que estou aqui e pego mais água, afinal, quero ficar cuidando da minha mulher. Com comida na mochila e águas em mãos, vou ficar com aquela coisinha que me irrita às vezes – quase sempre.

Mudar por uma garota que chegou daquela forma na minha vida?

Rio da forma como ela chutou o poste fortemente, de como o xingou no meio da rua e de como ficou toda irritada naquela discussão. Tão perfeitinha que me deu vontade de pegá-la nos ombros e levar para a minha casa, escondê-la e ficar com ela só pra mim.

Além do horizonte - Romance Lésbico (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora