CAPÍTULO XLII

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  "A ausência apaga as pequenas paixões e fortalece as grandes." 

Francois La Rochefoucauld

GABRIELA SAHANI

∞ 

É um paradoxo, como um sonho do qual eu não queria exatamente acordar. Cindy rebolava em meu colo apenas em sua calcinha, como se quisesse que eu a possuísse. Seus olhos pediam que eu desvendasse sua alma e aceitasse seus segredos e, como uma tola, eu caí em todos eles.

Eu a amava, em todos os tons de Gabriela, letra e melodia, areia e mar, ela me completava. Enquanto eu falava no passado tentando mantê-la nele, como uma lembrança há muito vivida.

– Sahani? – ouço fraco. – Sahani, acorda, vai perder a onda da manhã.

– Kira? – digo, sonolenta, me apoiando nos cotovelos. Uma garota de cabelos ruivos rebeldes me olha sorrindo, então, baixa os olhos assumindo uma posição mais séria. – Porque estou seminua?

– Você tirou de madrugada, disse que estava com calor.

– Só? – pergunto. Não me lembrava de caralho nenhum.

– Nadamos nuas e depois transamos. – diz, absolutamente séria. Onde na porra do inferno eu ficar com uma mulher e não me lembraria. Então, ela começa a rir. – Esquece. Você é mesmo a Gabriela Sahani de quem me falaram tanto? Relaxa, eu estou brincando, se vista, vamos perder a festa.

Rio, então, a acompanho. De certa forma aliviada.

Não havia traído a Cindy.

Traído? Eu pensava enquanto lavava minha frustração nas ondas do mar azul esverdeado, eu não chorava mais, nas duas últimas semanas, eu não conseguia mais chorar por ela, era como estar anestesiada.

Foi um período em que eu suportei vê-la nas fotos, linda e feliz, como se o que tivéssemos nunca tivesse acontecido. O restaurante foi fechado, e nenhuma notícia sobre os donos, ou a dona, ressurgir.

Estava claro pra mim, Cindy jamais iria voltar.

Então, eu comecei a tentar me acostumar a uma vida sem ela. Minha vida de volta significava estar na crista da onda esperando que ela se arrebentasse e não me arrebentasse contra a pedreira.

Eu iria me machucar bastante. Mas, eu continuei fazendo repetidas vezes até que gritaram para almoçar. O engraçado é que eu tentei inúmeras vezes ir atrás dela, mas, sempre algo me impedia, algo dentro de mim. Eu não tinha medo de me machucar ali, mas, eu tinha perdido partes do meu coração, espalhadas por cada lugar em que passamos, e agora eu tinha um medo enorme de perder os restos dele.

Na minha cabeça, isso aconteceria se eu fosse atrás dela. Ficar no meu canto significava ter minha estabilidade de volta, significava não perder mais nada e eu estava tentando ficar bem com isso. Novidades? Estava falhando. Miseravelmente.

Não que eu fosse cogitar muito antes de atirar os restos dele nas mãos dela.

Eu arrancaria o que restou e daria a ela se ela o quisesse. Mas, o grande se da questão é que ela não o quer. Ela desprezou as coisas que fiz por ela e não posso ficar esperando por ela sabendo que não voltará e que, pior, está melhor sem mim.

Não se martirize, Gabriela! Ela escolheu. E a escolha não foi você.

– Vou acabar roubando sua onda!

– Fique à vontade porque eu estou de saída, gata. – mergulho com minha prancha para deixar o cabelo menos bagunçado e quando sai, ela estava bem a minha frente. – Estou achando que a sereia aqui é você. – jogo.

Além do horizonte - Romance Lésbico (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora