Além do horizonte - Romance Lésbico (Completo)

CAPÍTULO XL

"Viver é isso: ficar se equilibrando o tempo todo entre escolhas e consequências."  

Sartre

∞

GABRIELA SAHANI

Existe uma grande diferença entre estar bem e se sentir bem. Mas, entre um e outro, não sinto nenhum deles. Dizem que entre estar só e se sentir só existe um imensurável abismo.

Eu voltei para a companhia de teatro, voltei para o meu surfe, embora vivesse mais de tomar caldo do que de surfar, voltei para a minha vida libertina e incrível. A diferença é que ela já não parecia tão incrível.

Estava sentada no meio da minha sala, tentando me concentrar o bastante para atingir um nível de meditação que eu já havia ultrapassado há uma porrada de tempo, mas, estava impossível. Em outros tempos eu conseguiria, mas, não hoje, pensando nela, menos ainda com Gabriel batendo o pé impaciente.

– Escuta só: segundo a autora Olivia Laing, "a solidão é difícil de confessar; difícil demais para categorizar. Assim como a depressão, um estado com o qual muitas vezes se cruza, a solidão pode ser encontrada no fundo do tecido de uma pessoa, constituindo uma grande parte de nosso ser, como rir com facilidade ou ter o cabelo vermelho. Então, novamente, pode ser transitória, cíclica e reacionária às circunstâncias externas, como a solidão que segue na esteira do luto ou na mudança de círculos sociais. Da mesma forma que a depressão, tristeza ou inquietação, a solidão também está sujeita à patologização, de ser considerada como uma doença.".

– Você ao menos sabe o que isso tudo quer dizer, Gabriel? – ele ri de lado, acariciando aquela bola-de-pelos.

– Não. Mas, isso que tu sente é só uma causa temporária. – reviro os olhos, vendo o gato correr dos braços dele para os meus. Eu estava tentando expurgar as coisas dela da minha vida, mas, eu não conseguia me desapegar dela. Gogh agora morava comigo, e eu realmente odeio gatos.

– Cindy não foi uma causa temporária.

– Lamento dizer, mas, pra ela você deve ter sido. – olho para saber do que ele fala, então, ele vira a tela do mac pra mim e eu vejo uma imagem com a linda e elegante senhorita Simmons. Ela parece bem.

– Porra.

– Esqueça isso. Vamos, tem uma festa legal hoje. Tu vai gostar, vou te apresentar umas gostosas pra te tirar dessa fossa.

– Onde?

– Na verdade, não é bem uma festa. É um Trip, vamos passar o final de semana fora. – diz, sorrindo como um Sahani enfrentando uma onda.

– Tá de brincadeira?! Vocês não iam me convidar?

– Achei que tu estivesse na fossa. – eu rio, jogando o travesseiro nele. – Essa é a minha irmã. E... – diz, indo pra cozinha e abrindo a geladeira... vazia. – Cara, tenta voltar a ser a rainha das águas, tá me envergonhando com esse surfe de boiola.

– Boiola?

– Aprendi com uma brasileira. – dá de ombros.

– E o que significa?

– Não faço a mínima ideia. – resmunga enquanto eu gargalho levando o meu traseiro para o quarto.

– Tire o carro pra mim. – grito, antes de entrar no quarto. Ele pergunta qual, eu respondo. – E amarra minha prancha direito, por favor, cuidado com meu bebê.