CAPÍTULO XXXIV

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  "A vida é a perda lenta de tudo o que amamos. " 

GABRIELA SAHANI

Ainda me pergunto por qual razão Cindy fez aquilo. Na verdade, eu acho que sei. Aquela maluca queria me proteger, mas, eu preferiria ter ido com ela, pelo menos eu não ficaria tão apreensiva assim.

Sair daquela floresta foi mais fácil do que pensei, mas, na atual circunstância, eu já não sabia mais em quem confiar, então, quando pedi uma carona na estrada para a cidade, eu sabia que estava me arriscando.

Não tive tanta sorte das primeiras n's vezes que tentei, então, comecei a caminhar pelo asfalto ao invés de continuar tentando. Já estava quase enlouquecendo de tanto pensar no que estaria acontecendo com a Cindy quando ouvi o barulho de um motor roncar alto atrás de mim, seguido por uma buzina estridente que quase me deixa surda.

Olho-o e tenho a infelicidade de constatar que se trata de uma picape modelo mais velho que já vi, o vermelho desbotado quase não se nota, já que até os vidros estão enlameados.

– Indo para onde, mocinha?! – pergunta o senhor de olhos azuis, com os seus cabelos grisalhos e uma barba impecável.

Sua roupa é de um completo fazendeiro, o que me faz pensar na minha avó, afinal, como ela está agora?

– Estou indo para a cidade. – digo.

– Entre, eu te levo. – ele abre a porta para que eu entre. – A caminhada até a cidade é muito longa, mocinha. – dou um leve sorriso.

Estou aliviada, mas, mesmo assim estou preocupada e quem não estaria?

– Como se chama? – pergunta um pouco alto, por conta do barulho do ronco do motor.

– Gabriela Sahani.

– A mocinha é a neta da Liz? – olho mais uma vez para o senhor e tento me lembrar se eu o conheço. – Sou um velho amigo da sua avó, Peter Bennet.

– Desculpe, não me lembro.

– Sabe, eu conheço sua avó desde a época das caçadas organizadas, bons tempos... – Com as últimas palavras eu sabia que ia ouvir muito sobre caçadas, pelo menos eu ia chegar logo na cidade e ia dar um jeito de procurar a Cindy.

– Poderia me emprestar um celular. – o corto no meio de uma explicação sobre como caçar veados. – Bati o meu carro, preciso de um guincho.

– Infelizmente, não tenho. Mas, posso levar você para o rancho de Liz.

– Eu preciso mesmo ir para a cidade.

Continuei ouvindo aquele papo sobre caçadas e me perguntei se eu era tão chata assim quando falava do meu surfe. E foi ai que eu senti a saudade bater com força, eu sentia falta do meu sol na cara, da maresia indo e vindo, das ondas que, algumas vezes, me dava altos caldos. Sentia falta das nossas competições e das nossas brincadeiras sérias, dos caras...

– Tem algum lugar especifico em que queira ficar, mocinha? – olho para os movimentos da cidade.

­ É ai que está o problema, não conheço quase ninguém por aqui a não ser... Não, nem pensar, Gabriela. Me recuso a pedir ajuda a minha mãe, se é que eu posso chamá-la de mãe. Olho para todos os lados, e não há nenhum rosto conhecido. É uma grande merda, Gabriela Sahani!

– House's Miller. – não vejo outra escolha a não ser lá.

Ele não diz nada, apenas olha para o bar da minha mãe enquanto a sua postura muda. Vejo-a de longe pegando umas caixas de sua picape e levando para dentro do bar.

Além do horizonte - Romance Lésbico (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora