Vale do esquecimento

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Dias atrás...

A viagem de navio até ao Santuário era cansativa, mas ainda era a melhor para não chamar a atenção. Voltar à Grécia, a Atlântida depois de tanto tempo trazia um misto de alegria e tristeza a June.

Por isso, volta e meia ela saia da cabine que alugara para sentir o vento batendo no rosto, ali, longe das obrigações de amazona podia se dar a esse pequeno luxo, podia fingir ser uma pessoa normal. Mas o tempo infelizmente estava virando, possivelmente pegariam uma tempestade antes de chegar ao lar de Atena.

Respirando fortemente o ar marinho, ela se despede da vista antes de entrar na cabine para tomar um banho antes do jantar. Ela caminha alguns passos, abre e fecha a porta atrás de si e se espreguiça quando ouve a voz.

"Amazonas deviam usar mascaras..." O abajur ao lado da cama se acende, revelando uma bela jovem de cabelos negros, olhos azuis profundos e um vestido lilás claro com detalhes em ouro. "Apesar de ser contra essa lei estúpida..." Bella, a sacerdotisa de Atlântida.

June leva um tempo analisando o rosto e não desfaz a posição de defesa. "Como me chamava quando estávamos sozinhas?" Precisa ter certeza absoluta, muito em jogo, um jogo que ela jogava a vida toda e não estava disposta a perder agora, tão perto do fim.

Bella, sorri e cruza a perna esquerda em cima da direita. "Mentira... Eu a chamava de Mentira."

Ainda quando menina, a sacerdotisa chamava suas primas e agregados de nomes diferentes, nomes que revelavam de certa forma o papel que iam desempenhar quando a Grande Farsa, como Bella costumava dizer, acontecesse. Marin era Guerreira, Mikael era protetor, Esmeralda era Alma, Sorento era Peixe, Seika era Perdida e June era Mentira.

"Você vai ser aquela que mais vai mentir para todos June, mais do que Marin. Pois você vai mentir para você mesma, e vai mentir tão bem que vai até acreditar. Você vai ser a mentira encarnada". Bella falou isso ainda criança, mais uma previsão tenebrosa vinda daquela menina doce, eram momentos como aqueles que faziam June odiar Bella e ao mesmo tempo querer proteja-la dela mesma.

Mas isso foi no passado, hoje aquela menina estava na sua frente e visivelmente tinha se transformado em uma bonita mulher, apesar dos olhos tristes sempre presentes. "Você cresceu, prima." June fala se aproximando e sentando na cama.

Bella sorri, se aproxima da prima e beija a testa, uma proteção. Depois deita na cama e coloca a cabeça no colo da mulher mais velha e segura uma de suas mãos. Ela sabia que o coração da guerreira estava carregado de tristeza e magoa, porque a própria June se magoou. A sacerdotisa sabe do amor que ela carrega no peito e das mentiras que ela contou para encobrir sua missão, ela sabe o quando a mascara oprime e liberta ao mesmo tempo. Mas prefere não falar nada, no momento certo June vai se abrir para a pessoa que realmente importa.

"E se eu fosse alguém que lesse mentes." Bella fala depois de um tempo. "Eu poderia saber seu segredo e te matar agora."

"Então eu mereceria morrer, pois não teria aprendido nada com a nossa avó." June acaricia os cabelos da prima, como Esmeralda costumava a fazer com ela quando criança. "Como chegou aqui? Ainda falta um dia para eu chegar à Grécia."

Mas Bella não respondeu, apenas sorriu e levantou do colo da prima. "A espada, por favor."

June balança a cabeça em sinal de negação, a prima sempre seria incompreensível. Ela vai até o armário e tira a madeira do assoalho, aquele esconderijo foi a primeira coisa que criou assim que chegou a cabine. Bella percebeu quando a prima fez uma pequena oração antes de tirar a tabua, e outra antes de retirar a espada, sim, mesmo que June estivesse longe de Atlântida e do clã há muito anos, havia algo da magia que ela ainda lembrava. O feitiço de proteção era uma das poucas coisas que as duas primas podiam fazer por ter o mesmo sangue que Bella.

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