O príncipe alado

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A dor cobre todo o meu corpo, mas eu consegui, Heracles desmaiou...

Não, estou mentindo, não foi o meu cosmo que superou o semi-deus, não foi a minha força que realizou esse milagre.

Foi ele.

Meu príncipe.

Meu senhor.

Meu deus.

"Lord Primus..." Estamos no meio da batalha e ele me ampara. "Deixe-me, vá até Atena, ele precisa de você."

Mas o meu senhor possui olhos tristes, ele leva a mão ao peito e disfarça a dor que sente. "Prometa-me, Erictónio, prometa-me que irá protegê-la..."

A agonia cobriu a feição do meu senhor, e então eu vi, vislumbrei por alguns segundos a sombra nos olhos do único mortal que se tornou deus e naquele instante eu percebi que o mundo estava condenado para sempre.

Mas eu não fui o único a perceber. Heracles se levantou, mais rápido do que eu podia imaginar, e em poucos segundos atacaria Primus se eu não o detivesse. "Como pode tentar matar seu irmão?"

O semi-deus apenas sorriu. "Era para eu ser um deus, eu tenho o sangue de Zeus nas veias, não ele. Eu deveria ter Atena, eu deveria ser o senhor dos quatro santuários, não ele, não esse mortal!"

Consegui sentir o cosmo de Atena e Zeus se aproximarem, e o de Primus se levantar.

Consegui ouvir a luta das três grandes armas, enquanto lutava do jeito que eu podia contra Heracles.

Mas foi o frio do cosmo de Perun que me distraiu, o cosmo de um dos mais fortes príncipes da Terra estava aliado ao cosmo de Hades, e os dois atacaram Primus.

O esforço foi demais para Perun, meu amigo morreu, mas seu ataque surtiu o efeito desejado, enfraquecendo ainda mais Primus, fazendo Zeus retirar a espada do filho e matá-lo.

"Finalmente." O semi-deus festeja antes de simplesmente me abandonar com a minha dor.

As palavras de Primus ressoam na minha cabeça, quando eu vejo Atena ter o pescoço cortado pela sacerdotisa de Atlântida. "Eu falhei..."

"Não..." O espírito de Primus responde. "Olhe para mim." O espírito de luz estava quase totalmente coberto pela escuridão. "Ele vive em mim, ele sou eu... Eu devo morrer... Prometa-me, Erictónio, que irá proteger Atena de mim."

-x-x-x-

Aioros respira a maresia que sobe o monte Hacho, na cidade de Ceuta. As lendas dizem que esse monte é uma das colunas de Hércules (o nome latino de Heracles) do outro lado ele consegue vislumbrar a Rocha de Gibraltar, que é considerada a outra coluna. No meio das duas, o mar se espalha pelo estreito que separa o Oceano Atlântico do Mediterrâneo. E é ali que se encontra um Portal.

Aioros consegue sentir a energia que emana do mar, não, não só do mar, de tudo a volta dele, pois o portal não é material, é um fluxo de energia que liga os santuários, os planos, o tempo, os seres vivos... "E as almas..." Lágrimas escapam dos olhos do sagitariano, pois olhando para o lado ele consegue ver sua vida passada, e a anterior e milhares de vidas antigas, até chegar a primeira.

Até chegar a Erictónio. "Nós prometemos..." A lembrança do seu outro eu fala e ressoa em todas as suas outras vidas até chegar nele. "Não deveríamos estar aqui, deveríamos estar com eles, com nossos senhores..."

Sim, Aioros abre suas asas, precisa voltar imediatamente para o Santuário.

"Não." O cosmo do semi-deus é tão poderoso que, mesmo estando sobre a Rocha de Gilbraltar, do outro lado do mar, na outra coluna, Aioros consegue sentir. "Zeus pode ter abandonado esse portal, mas eu permaneço. Eu finalmente provarei que posso ser um dos doze Olimpianos, provarei que serei melhor que Primus."

A Saga do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora