O príncipe do gelo

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Eu não fui ali para espionar o príncipe-herdeiro ou a sacerdotisa, mas a tristeza ocupa meu coração ao ver os dois se amando daquela forma. Entristeço-me ao ver Crysalis se entregar a outro homem durante o Ritual da Lua Vermelha, outro homem que não era Apolo, a quem a mortal era prometida.

No meio daquela linda floresta, escondidos, como se fossem bandidos Crysalis e Jarilo se amam, se tornam um com o Caos, depois sorriem e se beijam. "Fique comigo." Jarilo pede, mas o olhar triste da mulher diz tudo que ele não queria ouvir. "Você não ama Apolo."

"É claro que eu o amo..." Crysalis responde.

"Forma estranha de amar..." Eu falo me fazendo presente, os dois me olham espantados, mas ao olhar para ela eu percebo que sim, ela ama Apolo... "Você o ama como ama todos os seres vivos desse planeta... Mas não é a forma que ele quer ser amado por você..."

"Lord Veles..." Sim, a forma como eles me chamam aqui no norte, nessa terra que eu amo tanto, nessa terra de florestas fortes, mas de pouca vida, onde o frio conduz e onde o primeiro Principado da Terra se formou. "O que faz aqui?"Jarilo está preocupado, mas não com ele mesmo ou com Crysalis.

Eu estava certo, foi para cá que os dois vieram.

"Crysalis, arrume suas coisas e chame Primus e Atena. Partiremos imediatamente para o Olimpo." Ela não se mexe, mas seu cosmo aumenta. "O lugar deles, assim como o seu por ser noiva de Apolo, é no Santuário do Céu."

O cosmo dos dois aumenta, não para se defenderem, mas para proteger aqueles que eles chamam de senhores dos quatro santuários. Minha única alternativa é atacar e com um golpe os dois são arremessados, derrubando árvores e depois paredes, até pararem no Jardim de inverno do Palácio.

Em uma fração de segundos estou na frente deles, dessa vez com a espada na mão, não para matá-los, afinal a função dos deuses é proteger todo e qualquer mortal, por isso Atena e Primus devem voltar comigo... Principalmente Primus.

Mas antes de qualquer movimento, meu corpo sente o frio cosmo de Perun, príncipe desse principado, pai de Jarilo, meu melhor e único amigo sobre a superfície da Terra. Tento esconder a tristeza do meu olhar, em outros tempos eu seria recebido com festa, me sentaria a mesa com ele e conversaria horas a fio com meu amigo, mas agora. "Eu só vim pegar o que o que pertence aos deuses."

Mas não é Perun que responde, ele não começaria uma luta sem ter certeza que ela é necessária.

Primus... Em movimentos rápidos a minha espada e a dele se encontram várias vezes, não consigo deixar de sentir orgulho, fui eu quem o ensinou a manejar a espada daquele jeito. Os golpes continuam, consigo reparar de canto de olho Atena ajudando Crysalis e Jarilo. Qualquer um continuaria escondido, mas Atena prefere arriscar a vida a ver alguém sofrer.

Meus sobrinhos... Meus filhos de coração... Os filhos que nunca tive...

Meus pensamentos são cortados pela dor na minha face e o sangue que escorre por ela. Primus me acertou, meu sobrinho me feriu, um mortal feriu um deus... Alguém de sangue mortal...

A sombra... Consigo sentir a presença da sombra... Consigo lembrar as palavras de Demeter. Por quem fazemos tudo isso? Por Zeus, e pela humanidade que ele representa. Se eu acabar com tudo isso agora, ninguém mais irá sofrer.

Meu cosmo aumenta, posso acabar com isso, posso evitar o pior. "Silêncio." Sussurro.

Mas o grito que ouço e o sangue que vejo não são de Primus, a espada o protegeu.

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