O príncipe lendário

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O velho príncipe ouve os trovões rezoarem e o mar se agitar, a fúria de Zeus é implacável. Do seu trono o Hotu Matu'a poderia estar arrependido por ter oferecido seus ferreiros a Atena e a Primus, poderia estar arrependido de ter usado todo o pó de estrela presente em sua ilha para criar as magníficas armaduras de prata e bronze, poderia estar arrependido por ter melhorado as armaduras de ouro dos doze príncipes. Mas o velho príncipe está feliz.

De repente a porta da sala do trono se abre mostrando o herdeiro do principado de Lumuria, o jovem príncipe se ajoelha preocupado. "Meu pai, Atlântida caiu."

Hotu Matu'a respira fundo, se o mais forte dos reinos mortais caiu, o que será do resto? "A rainha foi levada como prisioneira?"

O filho prende a respiração por alguns segundo e por microssegundos o velho príncipe consegue ver seu filho segurar as lágrimas. E então Hotu Matu'a sente. Sente milhares de vidas terminarem, ouve o grito daqueles que não puderem se salvar, sente os mares se agitarem e engolirem a mais antiga e prospera civilização da Terra. Atlântida, a capital do reino dos homens, a joia do Caos, caiu. "A ilha?"

"Tragada pelo mar, meu pai." O filho responde com firmeza, mas pergunta com o olhar, se Atlântida caiu, Lumuria pode se salvar?

Elevando o seu cosmo para acalmar seu povo, o Hotu Matu'a ordena a coisa mais difícil. "Meus amados, teletransportem-se para longe, o mais longe do mar que possam ir. Perto do mar somos alvos da fúria de Poseidon e Zeus, as montanhas, as sagradas montanhas do Tibete e de Jamiel, lá as brumas místicas do tempo nos protegeram!" Mas à medida que o cosmo do seu povo se afasta e se espalha, outro cosmo se faz presente.

Os dois príncipes correm para a janela, vendo o mar recuar como nunca havia feito antes. "Eles vão atacar, meu pai, nosso povo não terá tempo para fugir."

O príncipe respira fundo e usando sua telecinéscia, joga o trono contra a parede mais próxima, revelando no fundo a sagrada armadura de ouro. "Meu filho, você deve partir com o nosso povo." Ele fala de costas para o filho. "Deve se tornar o próximo Hotu Matu'a e guiá-los nas horas escuras que se seguirão. Eu confio em..." Mas o príncipe não termina, é pego de surpresa pelo próprio golpe, o golpe que ensinou a seus filhos. Antes de desmaiar ele olha seu filho mais velho e pensa como o jovem pode ser tolo, corajoso e gentil ao mesmo tempo.

"Você sempre será o Hotu Matu'a de Lumuria, meu pai." O jovem guerreiro se vira e encara seu pequeno irmão mais novo. "E você o seguinte, irmãozinho." O menino de apenas oito anos não sabe o que fazer. "Você possuiu um dos melhores teletransporte da ilha, pegue nosso pai e vá, cuide dele, por mim."

"Mas..."

"Sem mas, vá agora, eu encontro vocês depois." Era mentira, mas se não falasse aquilo seu irmão continuaria ali, com o pai. Ao ver as duas pessoas mais importantes de sua vida partir, o jovem príncipe veste a armadura e se encaminha para a praia. "Há tanta vida e minha missão é protegê-la." E então o mundo fica em silencio, os relâmpagos somem e os trovões se calam e depois do silêncio mortal apenas o barulho do mar, a onda monstruosa se aproxima.

"Primus, Atena. Valeu a pena?" E ele apenas lembra-se do sorriso da deusa, na vez que ela curou o machucado de seu irmão caçula. "Toda vida, vale a pena, ela disse." As lágrimas do príncipe cobrem seu rosto. "Eu também acredito nisso, minha deusa." Ele sorri, a armadura de ouro brilha. "Crystal Wall!"

E apenas com sua força de vontade, um mortal conseguiu segurar uma onda criada por um deus, tempo suficiente para que seu povo sobrevivesse.

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O cheiro do mar trazia recordações apesar de ter crescido nas montanhas e de só ter visto o oceano quando foi pela primeira vez ao santuário. Por um minuto o cavaleiro de ouro acha que está louco, mas então se lembra das lendas sobre os portais e dos principados que surgiram para protegê-los.

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