Talvez contar para Tritão fosse má ideia. Talvez Luke já soubesse. Talvez as gêmeas ficassem estéricas. Talvez Liam fosse apenas um invasor dos comedores-de-peixe que mataram sua mãe. Talvez ele mesmo fosse uma fraude.
Ela pensava em tanta coisa ao mesmo tempo que sentia que sua cabeça fosse explodir. Ela estava tão confusa... Não sabia oque pensar. Não sabia oque dizer. Mas sabia que estava perdida em um segredo maior que ela. Liam não a tinha notado, mas ela havia notado Liam.
Quando a lua já estava no céu, Mellany foi chamá-la para o jantar em seu quarto. Sabia que não estava com fome e nem se deu ao trabalho de levantar de sua janela.
- Não estou com fome, diga à Tritão por mim, por favor.- Mellany nunca havia visto-a tão desanimada e por isso, apenas por isso, resolveu fazer oque Serenna pedira. Até cogitou em perguntar oque havia a deixado assim, mas não o fez.
Tritão estava preocupado com Serenna, ela nunca faltava um jantar e apesar de Mellany passar o “recado” à ele, continuava com tal pensamento na cabeça.
As gêmeas nem notaram a falta da “irmã” que tanto detestavam. Todas as três. Era bem triste, para Tritão, pensar nessa relação das quatro, pois elas eram irmãs- não do mesmo sangue, mas mesmo assim isso não justifica não terem esse laço.- tratadas do mesmo jeito por ele, porque se detestavam tanto?
Aquatta sempre teve uma facilidade de encantar os tritões, e apesar de possuir um canto terrível e seus poderes serem medíocres para uma princesa, conseguía encantar os tritões assim que a vissem, isso é um dom, querendo ou não. Por isso seu ego era mais inflado do que de todos os outros seres marinhos.
Areea adorava fazer colares, pulseiras e coroas de todos os tipos. Foram muitas as vezes que deu suas criações para as irmãs.- principalmente para Aquatta, que realçava ainda mais seu encanto.
E Arabella se achava uma inútil. Achava que ela mesma não conseguia nem polir as estatuas com musgo direito. Até para se declarar para um tritão conseguia ser um fracasso. Mas, mal sabia Arabella que esse era seu poder: apaixonar-se rápido demais- não que fosse muito útil- mas tinha um canto razoavelmente bom e sempre teve aptidão com plantas.
Talvez esse fosse o motivo para as gêmeas a odiarem tanto. Cada uma tinha um “poder” diferente, logo, se fossem separadas iam ser incompletas/imperfeitas. Serenna além de bonita tinha o Poder dos Mares- até onde sabia-, nunca tinha tentado fazer acessórios mas achava aquilo magnífico, gostava de plantas e animais e tinha o canto extraordinário.
Tritão começava a pensar que era culpa sua. Não havia as criado direito, segundo ele. Em sua mente começava a achar que se a rainha estivesse lá, com ele, seria bem melhor. Talvez fosse... Mas pensar nisso não o levaria à lugar nenhum.
Apesar de estar o maior climão no castelo, o povo do reino cumpria com seus afazeres diários, contentes e dispostos. Tritão e suas filhas nadavam pela cidade tranquilamente em um costumeiro passeio para ver como o povo estava de dificuldades e avanços. Eram um povo simples, uns carregavam caixas para suas lojas de roupas, outros abriam seus salões de beleza, uns começavam o dia indo à uma lanchonete e alguns arrumavam seus restaurantes para o almoço e o jantar.
Ver essas pessoas enquanto o rei, Serenna- agora de humor renovado-, Aquatta- paquerando uns tritões aqui e alí com um pequeno sorriso malino-, Areea- que parava a cada cinco minutos para ver as conchas, corais e mariscos que a encantavam, já imaginando como ficariam se trabalhasse com eles- e Arabella- que onde via plantinhas à venda já tentava fugir de mansinho para vê-las, sempre sendo impedida por Aquatta, que já sabia do plano da irmã- passeavam pela cidade era inspirador, era muito bom ver seres tão simples e felizes ao mesmo tempo. Todos com sorrisos em seus rostos.
Quando uma “nuvem” negra cobriu o mar repentinamente, todos se assustaram. Não era comum aquilo acontecer, afinal, aquela era uma área proibida para pescaria e parece que os humanos eram ignorantes à esse ponto. Apesar do castelo ser bem fundo, os comedores-de-peixe não estavam para brincadeira. Enquanto alí haviam espécies ameaçadas de extinção, o homem não se importava em matar algumas espécies ameaçadas para ter mais dinheiro ainda.
Tritão estava com um pressentimento ruim sobre aquilo, mas quando apareceu uma rede de pesca gigantesca na visão de todos foi que ele teve a certeza de que estava completamente certo.
- Todos para o salão do castelo!! Vão, vão, vão!!- Tritão gritou autoritário, fazendo com que todos o obedecessem.
Os peixes fugiram assustados, mas uma boa quantidade de peixe foi apanhada pelos terríveis comedores-de-peixe. Mas uma criatura em específico o chamou atenção naquela rede, criatura na qual gritava por socorro.
- Serenna?- Tritão indagou incrédulo.
- Socorro!!- Serenna se debatia por entre o cardume que foi pego. Tentando inutilmente rasgar a rede.
- Serenna!!!- Gritou em desespero nadando rapidamente até lá. Tentou por muito tempo rasgar a rede com as mãos, mas não surtiu efeito. Dessa vez tentou com o tridente, lançando uma magia um tanto púrpura saída das pontas, rasgando a rede logo em seguida.
Vários peixes saíram desesperados, impossibilitando Tritão de vê-la, empurrando Serenna com a força que suas caldas faziam na água, a deixando para trás. A rede subia ainda mais rápido pelo peso que não tinha. Nisso a rede começou a se mover para algum lugar que não sabia e apesar de parecer que não, era difícil achar o buraco na rede. Tentou, tentou e não achou em nenhum lado.
De tanto se mexer e chorar em pânico acabou perdendo o castelo de vista e estava em uma parte inexplorada por ela. Quando a rede já saía da água foi quando Serenna foi para o mais fundo que podia na rede entrando em desespero.
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Mermaid ❴H.S.❵
FantasyUma estória relativamente triste com um toque de mistério peculiar e um romance incomum.