Serenna saiu com um pouco de dificuldade pelo buraco da rede, meio tonta e sem noção de onde estava. Olhou em volta, estava em um lugar deserto, sem corais ou peixes, apenas pedras, roxedos, lodo e areia rasa, notou tanbém que o mar estava agitado, tempestade.
Tritão sempre a disse que tempestades eram perigosas, mas nunca disse quanto. Foi à superfície para tentar se localizar pelas estrelas. Colocou a cabeça pra fora da água sendo recebida por um raio que caía logo a frente pelo horizonte, assustando-a.
- Mas oque...- Onde estavam as estrelas? Arregalou os olhos e colocou a mão na boca, chocada. Não haviam estrelas, nem a lua, naquela noite, eram cobertas por nuvens densas e cinzentas.
O mar já estava selvagem naquela altura. As ondas estavam terrivelmente grandes e a correnteza terrivelmente forte. Não dava para Serenna ficar parada, apesar da cauda forte das sereias, não conseguiam nadar em águas tempestuosas, a correnteza forte e as ondas gigantescas não eram possíveis de navegar. Os poucos que se arriscaram nunca voltaram para contar como foi, ou se conseguiram passar por tudo isso foram pegos por um comedor-de-peixe.
Uma onda a cobriu, quebrando logo em seguida encima dela, fazendo-a afundar com a força da onda. Tentou nadar, tentou mesmo, mas no fim só ficou mais cansada do que no sufoco na rede-de-pesca. Agora seu oponente era o mar, a correnteza que não ajudava, as ondas imensas, os raios e trovões horripilantes junto com os pingos de chuva que caíam na água.
Ainda rolava lá em baixo, descontrolada. Aterrorizada pelo fato de não saber onde estava e confusa por não saber por onde ir. Lutava para tentar se afastar de lá e ir para mais fundo, onde conseguiria nadar, respirar fundo e descansar. Não sentia os arranhões das pedras nem o espinho de um ouriço-do-mar em sua cauda, mas sentiu quando foi arremessada mais forte pela onda, batendo a cabeça num rochedo, desmaiando de imediato.
Liam saía de sua casa, pronto para caminhar à luz da lua. Quando Harry o convidou, achou estranho, nunca iam caminhar, andar, passear, ou qualquer programa de lazer, juntos e sozinhos, sempre tinha alguém a mais com eles.
Eram umas 19h quando foi bater à porta de Harry, exatamente no horário, não poderia reclamar que se atrasou e ficar o dando um sermão nervoso.
- Na hora? Quem é você e oque fez com Liam Payne?- Assim que Harry abriu a porta foi recebido com um sorriso. Liam riu, sabia que era raro chegar na hora pra alguma coisa, mas se esforçou dessa vez.
- Já está pronto?- Continuar aquele assunto não seria boa coisa. Harry entrou, calçou as chinelas e acenou com a cabeça.
- Agora estou.- Riram e foram para a praia.
Conversaram sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Umas conversas profundas e outras bem vagas. Uma praia vasta, de areia fina e clara, com conchinhas e mariscos de todos os tamanhos à beira do mar.
- Você não ama o mar?- Harry perguntou. Sentados na areia, sentindo a brisa e a maresia, era onde estavam, simplesmente sentindo, contemplando.
- Muito.- Liam fechou os olhos e tombou a cabeça para trás, assim como Harry havia feito.
- Se eu pudesse morar nele...- Sorriu imaginando um mundo perfeito, cheio de peixes e corais com cores vívidas abundantes.
Isso fez Liam lembrar-se de que sentia falta do mundo submarino, de sua família lá de baixo, de nadar com sua cauda, de tudo...
- Se pudéssemos...- Suspirou com um sorriso de canto.- Vamos andar?- Levantou-se e estendeu a mão para o amigo, que acenou concordando logo em seguida.
Continuaram o caminho pela praia, com seus chinelos na mão, tagarelando um bocado.
- Acho que já está ficando tarde, não?- Olhou para cima, vendo que não haviam mais estrelas e começara a chover.
- É, acho melhor irmos...- Parou olhando as pegadas que deixaram para trás.
- Pode ir, eu vou ficar mais um pouco, sua mãe deve estar ficando preocupada.- Sorriu e o fitou nos olhos.
- Okay. Você não vem?- Preocupação. Foi o que viu em seus olhos, achando fofo o jeito de Harry dizer “tchau”.
- Não. Não vou demorar... Eu adoro o cheiro da areia molhada pela chuva.- Acenou e sorriu gentil. Harry acentiu e deu as costas, indo pra casa. Liam continuou caminhando até o limite da praia, dando meia volta e caminhando todo o caminho novamente.
A chuva já caía impiedosamente sobre si, dançando, sorrindo, gritando e cantando ao som dos trovões estrondosos. Sua cauda não apareceu. Aprendeu a controlá-la, com um pouco de dificuldade, mas conseguiu. Ter a liberdade de poder se molhar sem problema nenhum era inspirador. Um sentimento de liberdade profundo, no qual nunca sentira.
Estava distraído, mas percebeu que havia um corpo na areia da praia. Achou que fosse um bêbado ou algum tipo de hipster contemplando a chuva, mas continuou se aproximando. Um azul escarlate foi se formando em sua visão, temendo oque poderia ser, correu o mais rápido que pôde até lá, avistando a criatura. A tão doce e adormecida criatura. Liam estava atônito, como ela tinha ido parar lá? Por que estava tão apavorado? Por que não conseguia se mexer?
Agachou-se perto do corpo completamente inerte, arregalando os olhos e colocando a mão na boca, chocado. Estava totalmente arranhada, em uma diversidade de tamanhos e profundidades espantosa. Viu também um espinho enfiado em sua cauda quase despejando suas lágrimas que eram impedidas por seu nó na garganta.
- Oque houve com você, Serenna?
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Mermaid ❴H.S.❵
FantasyUma estória relativamente triste com um toque de mistério peculiar e um romance incomum.