VII

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Dessa vez eu não estragaria as coisas.

Eu o seguiria da maneira mais discreta possível e não ligava para o tempo que iria levar, minha mãe entenderia se eu contasse o porquê de me preocupar tanto com Taehyung.

Então assim fiz.

Algumas vezes ele olhava para trás, talvez eu não estivesse sendo tão cuidadosa. Mas afastei-me um pouco mais e o resto do caminho foi tranquilo, até mesmo no metrô. Taehyung havia guardado seus fones ao chegar na estação e então procurei ficar ainda mais afastada, apenas por precaução.

— Aish. — sussurrei para mim ao chegar na esquina que mudávamos de caminho. Eu podia sim ir pra casa, mas sabia que me arrependeria depois. Então continuei com o plano.

Taehyung entrou em um mercadinho e eu fiquei ali fora, esperando. Mas quando passou 10 minutos e ele ainda não havia saído, decidi aproximar um pouco mais. E lá estava ele, sem o paletó do uniforme e com um crachá no peito. Senti tão tranquila em o ver ali, trabalhando, que soltei um suspiro, começando a andar de volta para casa. Mas tive um pressentimento ruim. A rotina dele não podia acabar nisso!

Corri até o telefone público mais próximo e disquei o número de casa, sendo atendida por minha mãe.

— Mãe, vou chegar mais tarde em casa. Eu estou bem, e explico assim que chegar!

Não esperei que ela respondesse para desligar. Sentei em um banco e comecei a fazer os deveres da escola ali mesmo, enquanto esperava o turno de Taehyung acabar.

Era oito horas quando acabou, e eu estava totalmente, mortalmente, intensivamente morrendo de fome. Nossa escola termina às 17:00, e já fazia um bom tempo que eu estava ali sentada. Já havia adiantado várias tarefas e até mesmo estudado de tanto esperar.

Continuei seguindo-o até que entrou em uma casa pichada, com algumas peças de carro na entrada, uma aparência não muito agradável. Ouvi vozes masculinas lá dentro, gritos e risadas. Não demorou nem cinco minutos para Taehyung sair de lá com um moletom, calça jeans e tênis. Em seguida, um homem com estatura média, sem barba feita e com uma lata de cerveja na mão apareceu na porta. Escondi-me um pouco mais atrás de um carro.

— Aonde é que você vai, órfão?

— Vá se foder. — Taehyung abria o portãozinho e lançou o dedo do meio para o mais velho, saindo na rua em seguida.

— Trate de arrumar um lugar para dormir hoje, porque aqui você não entra! — o homem gritava e gesticulava com a cerveja, entrando novamente na casa e batendo a porta.

Taehyung chutou o portão com tamanha força que até eu me assustei. Engoli em seco e, após ele sair andando, tornei a segui-lo.

Quem é aquele cara? Por que ele estava na casa de Taehyung?

Balancei a cabeça. Não queria fazer suposição de nada, e nem precipitaria em saber das coisas. Mas aquilo me preocupava.

Deixei os pensamentos de lado para prestar atenção em Taehyung. Olhei um pouco mais à frente e pude ver um grupo de jovens, alguns bebendo, alguns fumando. Eu não queria isso. Eu nunca me meti na vida de alguém, em suas decisões e etc. Mas aquela noite eu deixaria meus princípios de lado.

— TAEHYUNG!

Corri o mais rápido que pude. Seus olhos estavam assustados ao me olhar, óbvio, ninguém no mundo esperaria isso, e antes mesmo de se virar completamente a mim eu já havia o abraçado com toda minha força. Passei meus braços por volta de seu corpo e fechei meus olhos enquanto o apertava. Eu estava com medo, nervosa, tímida. Uma mistura de trilhões de sentimentos que eu já sabia que ele me causava.

— O que você tá fazendo aqui, Youngjae? — eu não sabia qual era sua expressão, mas sua voz chegava a ser calma.

— Eu não faço ideia. — afastei um pouco meu rosto do seu corpo para o responder, mas não o encarei. — Mas você não vai ficar ali! Você não pode!

— Você não tem nada haver com o que eu faço ou deixo de fazer. — levou suas mãos até meus ombros e tentou me empurrar, mas sem usar muita força. Fechei meus olhos novamente, o apertando ainda mais. — Me solta.

— Você sabe que eu tenho! Eu estava lá naquela noite, eu praticamen-

— Não fale daquela noite.

Levantei meu olhar finalmente e pude notar o quão vermelho seus olhos estavam. Ele desviou o olhar, e limpou com a manga da blusa qualquer vestígio de lágrima. Soltei-me dele aos poucos, abaixando minha cabeça.

— Ei, Taehyung! — alguns garotos gritavam e acenavam para ele. — O que você tá fazendo aí?

Eu não tinha mesmo que estar ali, não é? Taehyung passou dois anos se virando, e eu não sabia mais muita coisa sobre ele para poder ajudar. Mesmo não querendo aceitar, eu realmente estava errada.

— Estão te chamando, e eu já vou pra casa. — prendi meu lábio inferior entre os dentes e mantive minha cabeça baixa. Não queria que ele visse que estava quase chorando junto. Como eu sou besta.

— Não. — Taehyung segurou meu pulso, puxando-me para a direção oposta.

Os garotos gritavam algo como "Ei, volta aqui!" e ele apenas ignorava, andando comigo sem me encarar. Andamos muito, indo a uma parte dali que eu nunca havia visto. Taehyung parou em frente a uma máquina de refrigerante, comprou uma Coca-Cola para mim e me entregou.

— Obrigada. — agradeci, sem ter resposta.

Estávamos ao lado de um barranco gramado que se descesse o mesmo ia até um rio que passava por aquele bairro. Era mais ou menos um nivelamento. Plano, descida, plano, descida, rio. Estava observando tudo ali perto, respeitando o silêncio de Taehyung.

— Nunca mais faça isso. — ele disse, também olhando para o rio. — Esse bairro não é tranquilo como o seu.

Concordei com a cabeça minimamente. Tudo que tinha para lhe falar parecia ter sumido, e parecia praticamente impossível criar uma conversa com ele como acontecera no dia anterior.

Tomei um gole do refrigerante e deixei a lata no chão, passando a encara-lo. Sua pintinha no nariz continuava a mesma, seus olhos pareciam os mesmos, mas sem aquele brilho de quando criança. Andei até ficar em sua frente, muito próximo ao barranco.

— Cuidado, você tá per-

— Taehyung. — pressionei os lábios. — Que dia é hoje?

Lembra da história de "nada de suposição"? Não funcionou. Eu só queria ter certeza daquilo, assim eu saberia como ajudar.

Taehyung virou seu rosto, abaixando a cabeça. Pensei até mesmo que não fosse responder, mas pude ouvir quase num sussurro.

Aniversário da minha mãe.

cattish ➳ kim taehyungOnde histórias criam vida. Descubra agora