VIII

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     — Eu sinto muito...
   
    Ele abriu um sorriso sem graça, olhando para o céu. Estava uma noite estrelada, aquelas que vemos uma ou duas vezes no mês se tivermos sorte.

     — Sabe, Youngjae. — desviei meu olhar para ele, apertando a manga da blusa. — Eu te culpo por muita coisa. — franzi o cenho confusa, mas ele continuou antes que eu protestasse. — Te culpo por ter me chamado aquela noite, por ter me deixado tão feliz enquanto meus pais eram mortos.. Te culpo por ter esse sorriso...

     — Para. — o interrompi e abaixei minha cabeça, apertando meus punhos. Aquelas palavras que saiam de sua boca, em um tom tão calmo, pareciam facas que estavam me mutilando.

     — Eu fico pensando... — ele soltou uma risada nasalada. — Por que você se confessou justo aquela hora? Você estava envolvida?

     Naquele momento as lágrimas já escorriam de meus olhos com tamanha facilidade. Como ele podia pensar aquilo?

     — Mas o que a menina mais quieta da sala teria haver? Independente disso, eu preferia morrer junto ao meus pais. Foram tiros certeiros, sabia?

     — Taehyung, não... — eu não aguentava mais segurar meu choro, e aquelas palavras tão cruéis não vacilavam em me fazer querer chorar mais ainda.

     — Minha tia foi fuzilada na frente de meus primos, de minha avó-

     — PARA! — levei minhas mãos até seu peito e bati diversas vezes, sentindo meu corpo se desequilibrar de tanta força que eu havia colocado em minhas mãos.

     Taehyung arregalou seus olhos. Tudo ficou lento, senti suas mãos em minha cintura para evitar que eu caísse, mas não adiantou. Fechei meus olhos com força e senti meu meu corpo se chocar contra o gramado, rolando incontáveis vezes, parando somente na parte nivelada. Estava sobre Taehyung quando páramos de girar, meu rosto em seu peito. Sua expressão de dor enquanto coçava a nuca mostrava que eu não era a única que tinha machucado feio, mas aquilo nem importava no momento. Ele importava.

     — Você é louco! Completamente louco! — levantei minha cabeça e continuei a descontar toda minha raiva em seu peito. — Você não sabe o quão preocupados ficamos, você não sabe quantas pessoas se juntaram para tentar te ajudar, você não tem noção do quanto eu me importo com você! E ainda diz essas coisas? Taehyung, foi horrível! O que você viveu, tudo, eu não sei nem a metade da dor que você sentiu. Mas nunca mais diga essas coisas. Nunca.

     Minha voz já estava embargada e não parava de chorar, derrubando lágrimas grossas sobre seu moletom. Não conseguia identificar sua expressão, mas ele me encarava sem ao menos piscar. Respirei fundo e limpei os olhos.

      — E aliás, eu sempre quis me explicar o porquê daquele dia, o porque de tão tarde! Mas o que você faz??? — naquele momento eu já estava gritando, voltando a bater no garoto deitado. — "Não fale daquela noite", "Você não tem nada haver comigo!" — tentava imitar sua voz ao mesmo tempo que chorava escandalosamente. — Você nunca abre uma brecha para eu po-

       Ele levantou um pouco seu corpo e apoiou uma mão no chão, levando a outra até minha nuca. Meu corpo gelou e me calei no mesmo instante em que ele me puxou até si, logo juntando seus lábios aos meus antes mesmo que eu entendesse o que estava acontecendo. Seus olhos estavam fechados, mostrando seus cílios brilhantes por causa das lágrimas, e eu não conseguia ao menos fechar meus olhos. Aquele era meu primeiro beijo, e tudo que eu conseguia pensar é que iria o molhar com minhas lágrimas. Meu primeiro beijo. Então Taehyung abriu os olhos. E eu estava o olhando. O OLHANDO COM OS OLHOS ARREGALADOS. Afastei-me em um nanossegundo com a velocidade mais ultra rápida do mundo, enquanto meu coração pulava loucamente devido ao nervosismo. Levei minhas mãos até meu peito e chegava a respirar descompassado de tão louca que estava.

cattish ➳ kim taehyungOnde histórias criam vida. Descubra agora