XV

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     — Por que estão tão surpresos? — o velho continuava, e dessa vez quem queria voar no mesmo era eu.

      Taehyung nada disse, puxando minha mão para que eu me afastasse novamente e andando com passos rápidos até o homem, acertando-o em cheio no rosto. Ele pareceu não se abalar, limpando o sangue que acabara de sair de seu nariz e sorrindo de canto.

       — Ah meu filho... — ele riu. — Como pode fazer isso com seu próprio tio? Me bater não tira o fato do que eu disse ser verdade.

       Ele disse calmamente, já eu estava entrando em pânico.

       — Você é desprezível, tio. — ele deu ênfase no nome, passando a brincar com o colarinho da camiseta do mesmo. — Sua hora ainda vai chegar e eu vou ser a pessoa mais feliz do mundo se for eu quem irá acabar com sua vida.

       Taehyung se afastou rapidamente e hesitou um pouco em segurar minha mão, caminhando de volta para minha casa em silêncio.

      — Você não acha que... — disse após um tempo, meu coração estava acelerado de tanto nervosismo.

      — Eu não acho nada. — Taehyung disse, ríspido.

      Naquele momento eu não sabia se ele estava bravo com seu tio ou com o que ele havia dito, mas tudo que eu tentava dizer era cortado. Suspirei fundo e, agora irritada com Taehyung, me soltei de suas mãos.

       — Taehyung, você acreditou no seu tio. — nego com a cabeça, sem conseguir desviar o olhar. Ele parou de andar e me encarou. — Você realmente pensa que tenho alguma coisa ver com o assassinato.

       Naquele momento eu me afastava de Taehyung. Decepção, tristeza, indignação, não sabia ao certo o que eu sentia, talvez tudo misturado. E essa mistura de sentimentos fazia com que eu fosse cada vez mais longe de Taehyung.

      — Você não vai dizer nada?! — franzi o cenho, querendo chorar de raiva.

      Ele sempre teve essa dúvida? Eu sempre fui suspeita de assassinato, então? Taehyung abaixou a cabeça e levei isso como resposta.

     — Você não vai dizer nada. — eu sabia que não era eu quem deveria estar irritada naquele momento, e que deveria o apoiar após tudo que havia escutado, mas o simples fato de não acreditar em mim me deixava incapaz de fazer isso.

      Então entrei para dentro de casa após correr de Taehyung.

                                  ~

      — Youngjae, vou no mercado com a mãe! Talvez o pai volte de viagem hoje. — Jimin disse alto para que eu escutasse de meu quarto, onde estava totalmente desolada.

      Havia chorado a noite inteira pensando em trilhões de coisas, não conseguindo pegar no sono. Gritei um "Okay" para Jimin saber que eu tinha ouvido e voltei a enfiar minha cabeça no travesseiro.

       Espera... Meu pai voltaria?

       Levantei no mesmo instante, tomei um banho rápido e corri para o andar de baixo, mas nem Jimin e nem minha mãe estavam em casa mais. Suspirei frustrada e segui em direção à cozinha, mas no caminho deparei-me com o escritório de papai que sempre ficava fechado. S e m p r e.

      "Oh, desculpe. Essa cena é tão linda que nem parece que é a filha do assassino dos Kim e o filho dos Kim."
     
      Aquela frase me assombrava.

      Revirei toda a casa a procura da chave, mas como não achei decidi abrir a porta como nos filmes. Foram vários tutoriais do YouTube até que eu conseguisse abrir a mesma, o que levou praticamente uma década. Aquilo era difícil demais, havia gastado metade dos meus grampos.

      Nunca tive a curiosidade de entrar, afinal não me interessava. Não que eu suspeitasse de meu pai, mas queria ter certeza de que aquele velho só queria realmente nos afastar. Senti meu coração se acelerar de adrenalina, mesmo estando sozinha, e comecei a fuçar em todo cômodo. Nada. Li metade dos papéis que estavam nas gavetas e nenhum sinal de algo estranho.

       Suspirei frustrada.

      Não era isso que eu queria? Mas por que eu sentia como se não tivesse olhado direito? Eu queria ter achado algo?

       Foi quando olhei para o quadro na parede e pude notar que ele havia um gancho para ser puxado, e quando fiz isso mostrava que o quadro se abria, como uma porta de estante. Por que ele teria isso se não fosse pra esconder algo?

      Como não consegui abrir, decidi olhar com mais atenção os papéis, agora determinada que deveria achar algo. E minha respiração se prendeu no mesmo instante.

      — Arsenal... De armas? — aquilo era praticamente uma nota fiscal e com certeza meu pai não sabia que havia deixado ali. Engoli em seco, relendo várias vezes.

     — Minha filha continua bastante curiosa. — a voz do homem que eu não via há meses soou pela sala, me fazendo soltar o papel e virar em sua direção.

        Ele estava muito diferente do que eu lembrava, afinal quando saiu de casa apresentava uma aparência mais jovem, não cansativa e acabada como aquela. Naquele momento, minha primeira vontade foi correr até ele e entrelaçar meus braços em torno de seu corpo, mostrar através de um abraço o quanto eu senti sua falta. Mas tudo que eu consegui sentir foi medo, e quando percebi estava atrás da mesa de seu escritório, como se quisesse me proteger do meu próprio pai.

      — Não vai dizer nem oi? — ele se aproximou, ficando atrás da mesa. — Oh...

      Ele desviou o olhar para o papel da nota fiscal e pegou o mesmo. Leu, soltou uma risada e deu de ombros.

     — Parece que você está suspeitando algo de seu pai...

     — Foi... Você? — minha voz saiu trêmula, indignada.

     Ele franziu o cenho, como se não tivesse entendido, depois riu mais uma vez.

     — Ah, como você pôde acreditar nisso! — ele deu a volta pela mesa e me abraçou de lado, mesmo que eu permanecesse intacta. — Vem, vamos passear como antigamente e esquecer essa paranoia que colocaram em sua cabeça.

      Ele escreveu numa folha "Eu e Yunje saímos para passear, talvez não voltemos pro almoço" e segurou com força meu pulso, me puxando para fora do escritório e trancando a porta. Deixou o recado na mesa da cozinha e continuou seu percurso até a porta, mas fiz força para continuar parada.

      — Aonde você vai me levar?! — meus olhos lacrimejavam já que eu tinha plena certeza que meu pai tinha culpa nisso tudo, por conta de seu comportamento mais que estranho. — Você matou eles, pai?!

     — Vou te levar pra conhecer meu emprego. Você sempre quis isso, afinal. — ele sorriu largo e agora me puxou com uma força horrenda, sendo impossível de ficar parada.

      Saímos de casa e andamos até o carro apressadamente, abrindo a porta para que eu entrasse em seu carro, quando ouvi aquela voz.

      — Aonde você vai? — Taehyung dizia enquanto parava a bicicleta. Sua voz era preocupada, deve ter visto minha cara de quem estava prestes a chorar.

      — E-Eu...

     — Ela vai passear com seu pai, garoto. Vou ter que rouba-la um pouquinho de você. — aquele monstro me colocou pra dentro do carro e fechou a porta. Deu a volta rapidamente e entrou também.

      Eu queria ter saído do carro correndo. Queria ter escapado quando tive oportunidade, mas tudo que eu sentia no momento era medo. Medo de meu próprio pai.

       Coloquei a cabeça para fora e antes que eu gritasse qualquer coisa para Taehyung, meu pai fechou o vidro. Então me coloquei a chorar, ignorando todos os xingos e tapas que eram distribuídos em mim para que eu parasse.
   
  
    

cattish ➳ kim taehyungOnde histórias criam vida. Descubra agora