IX

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      Já havia passado duas semanas desde aquela noite. Taehyung havia parado de ir a aula desde então, mas parece que ninguém havia percebido sua ausência. Tirando as garotas que babam ovo nele. E obviamente, eu não gosto.

     Não havíamos nos falado também, apesar de eu ter o procurado, mesmo sendo complicado sair sair de casa. Minha mãe havia me proibido de chegar atrasada, caso contrário iria me buscar. Então a prometi que nunca mais aconteceria isso... Tirando o dia que Jimin me acobertou, ligando na escola e fingindo ser meu pai para pedir que eu fosse liberada mais cedo. Passei na casa de Taehyung e em seu emprego, mas nada. Nenhum sinal sequer. A única pessoa que - mesmo não querendo - encontrei foi Jin e Namjoon.

       — Ei, calma. — Seokjin disse quando preparei para sair correndo deles. — Me desculpa por aquele dia, eu não estava bem, eu nunca faria isso se estivesse são.

      — Ele é um cara muito responsável, Youngjae. — Namjoon complementava.

      Não fazia questão de nada naquele momento, então apenas concordei. Seokjin suspirou aliviado e coçou a nuca, assim como Taehyung sempre faz. Deve ser de família.

      — Está procurando por ele?

      — Sim. — soltei um suspiro pesado e sentei na calçada ao lado dos garotos. Era estranho como eu não tinha timidez nenhuma com eles pelo simples fato de ter os conhecido junto de Taehyung. — Vocês sabem onde se meteu?
       — Nenhuma notícia. — Namjoon apoiou em suas mãos e jogou a cabeça para trás.

      Ficamos ali, sentados, sem assunto algum, por mais um bom tempo. Mas nós todos tínhamos Taehyung em comum, e nossa preocupação falava bem mais alto que qualquer conversa besta.

       Não os vi mais desde então, e o resto da semana vim embora com Mei. Ela disse que eu já estava passando do "uma colegial normal" para uma stalker maníaca, e que eu deveria esquecer minha paixão de infância e focar em minha vida. Por mais que ela estivesse certa, não dei muita bola.

       Havia acabado de terminar meu café quando ouvi a campainha escandalosa de casa. Olhei no relógio enquanto escovava os dentes, franzi o cenho. Deveria ser a carona de Jimin, mas como ele estava trocando de roupa decidi atender, que tipo de irmã eu seria se deixasse-os para fora? E convenhamos que Jimin tem amigos muito, muito bonitos.

       — Calma! — desesperei-me quando o bendito começou a tocar a campainha diversas vezes, indo com a escova na boca mesmo até a porta. — Eu tenho uma coisa chamada dente para escov... Taehyung?

       O garoto em minha frente sorriu com seu famoso sorriso quadrado.

      — Aish, você está com remela. — ele fez uma cara enojada e se esquivou um pouco de mim para poder entrar em minha casa. Minha fucking casa. — Já tomaram café? Eu to faminto.

     EU TAVA DESPREZÍVEL. Nem mesmo meu cabelo tinha sido penteado, mas deixei para surtar por isso a noite, quando fosse dormir. Andei até Taehyung e entrei em frente à geladeira, que ele abria sem ao menos pedir permissão.

     — Aonde você esteve, Taehyung?

     — Por aí, sentiu saudade? — ele parecia extremamente feliz e animado, cheio das respostas. Torci o nariz e deixei minha escova na pia mesmo, minha mãe que me perdoasse.

      — É o Jungkook, Yunje? — Jimin gritou do andar de cima. Olhei para Taehyung com os olhos arregalados e levei minha mão até sua boca antes que dissesse qualquer besteira que fizesse minha mãe acordar e Jimin surtar.

      — É sim, ele está subindo! — mil desculpas Jimin. Segurei a mão da criança em minha frente e o puxei até fora, pegando minha mochila no caminho. — Já vou indo, até mais!

      Fechei a porta e continuei o puxando até que distanciássemos de casa, o olhando finalmente assim que chegamos no metrô.

      — Não me olhe assim. Eu nem comi nada. — ele revirou os olhos e bufou.

      — Qual seu problema? De verdade, por que fez isso? — antes mesmo que ele completasse a bendita frase "Eu estava com fome", eu o cortei. — Por que você sumiu?

       — Ah, olha. Nosso metrô. — e essa foi décima quinta vez que fiquei no vácuo por Taehyung.

       Eu realmente havia esquecido sua ameaça diante de seu comportamento infantil. Mas ao começar a aula, descobri o porquê de estar tão feliz. Taehyung estava acabando com a minha vida sim, mas a escolar.

       — Park Youngjae, comparecer à diretoria. Agora. — uma senhora avisou na sala e todos olharam para mim assustados. Eu estava assustada. Meu coração gelou, confesso.

       Bom, eu havia feito absolutamente nada. Desviei meu olhar para Taehyung e pude notar o mesmo sorriso do primeiro dia de aula em seus lábios.

       — Park Youngjae, você realmente pichou o banheiro?

       Passou dias.

       — Park Youngjae, o que tem a dizer sobre roubar sua colega?

       Semanas.

       — Park Youngjae...
     
       Em um mês a escola inteira já me evitava. E não sei como ou porquê Taehyung fazia aquilo comigo de uma maneira tão discreta que todos chegavam a acreditar. Já cheguei a me ajoelhar diante de todos para provar minha inocência. Não adiantava. Nada adiantava.

       Minha relação com ele? Nula. As primeiras semanas eu o perseguia, pedia para que parasse com isso por algo tão besta. Mas ele entendeu errado, obviamente achou que o "besta" era a morte de seus pais e simplesmente subiu o grau de suas brincadeiras tolas, espalhando boatos de coisas que eu jamais faria.
    
       — Merda. — chutei a porta da cabine do banheiro, onde eu recentemente tinha escolhido como meu lugar favorito naquela escola.

       — Taehyung está tão mais lindo hoje. — apertei-me ao ouvir seu nome. — Você vai tentar algo com ele, Yuna?

       Ah. Já contei sobre Yuna?

       A garota que andava comigo nos intervalos e sempre tentava arrancar sorrisos meus, aparentemente tinha grande carinho por mim. Bom, ela também me desprezou. Taehyung passou boatos de que eu estava saindo com um professor, e isso foi o estopim para todos me tratarem como um lixo. Inclusive ela.

        — Vou, óbvio! Ele parece tão misterioso, tão...

        — Cretino. — abri a porta da cabine e caminhei até a pia, lavando minhas mãos. Como já acostumado, elas se afastaram no mesmo instante. — Mas te desejo boa sorte.

        Aquilo já não era ciúmes. Era raiva. Uma coisa que Taehyung não sabia era todas as vezes que eu chorava a noite, todas as vezes que tinha que me afastar de Mei, mesmo ela não concordando, para que ela não fosse excluída também, todas as vezes que menti para minha mãe dizendo que era cólica o motivo de estar chorando. Taehyung e até mesmo eu não sabia o nojo que eu sou capaz de criar por alguém, no caso, ele.

        — Youngjae, a garota do sorriso. — olhei para Yuna, secando minhas mãos. — Como está indo ultimamente?

       — Agradável. — sorri fraco para a mesma e comecei a andar para fora, quando ela riu.

      — Encontre com a gente atrás da escola, no final da aula. Vamos sair como antes!

       Eu sabia que era encrenca. Sabia. Mas não recusei, concordando com a cabeça. E sejam muito bem vindos a minha vida, agora sendo a marionete do jogo traiçoeiro de Kim Taehyung.

cattish ➳ kim taehyungOnde histórias criam vida. Descubra agora