XIX

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n/a: coloquem uma música sad pra tocar, eu escrevi ouvindo MICHL - Die Trying, recomendo super.

"Our bodies are weak,
We're tired and hurting
Will we ever get to the other side?
Dunno but I swear I'll die trying..."

    Eu nunca havia pisado em um cemitério antes.

     A simples ideia de me despedir de algum parente ou amigo me fazia querer chorar, eu podia sentir a dor da perda mesmo sem nunca ter realmente sentido, se é que me entendem. Mas aquele momento... Aquele homem. Não, ele não merecia uma lágrima sequer.

      Mas meu pai merecia.

      Ele pode ter se tornado um monstro, mas foi um ótimo pai desde que vim parar nesse mundo. Talvez por isso tudo estivesse sendo mais difícil.

      Estava chovendo, na verdade chuviscando, e o guarda-chuva que cobria Jimin e eu era quase insuficiente. Estávamos observando nossa mãe se despedir do caixão, logo em seguida seria Jimin e depois... Eu.

       Nossa família não quis se despedir dele. Ninguém quis. A polícia havia investigado sobre meu pai, descobriu todo seu histórico com casos de assassinatos e não demorou nem um dia para sair na mídia. Todos o odeiam, mas não é como se ele fosse capaz de ligar para isso. Já nós, família Park, tivemos que arcar com a parte mais difícil: lidar.

        Desde quando sai do hospital, esqueci o significado de privacidade. Muita gente querendo saber mais, muita gente querendo criar suas teorias. "Eles sabiam de tudo", "eles são inocentes", e por aí vai.

        — Ei, você pode ir primeiro, se quiser. — Jimin me tirou de meus pensamentos e eu pisquei algumas vezes. Estava com meu braço entrelaçado ao seu, e retirei para que ele saísse.

       — Pode ir. — sorri para ele, o vendo sorrir de volta. Entregou-me o guarda-chuva e foi mais à frente.

        Aquele estava sendo o primeiro momento na semana sem fotógrafos e repórteres. Malditos sejam.

        Pressionei minha mão contra a barriga, não havia cicatrizado e nem passado a dor. Fiz uma careta, mas sorri assim que minha mãe se juntou a mim.

        — Você não precisa fazer isso, querida. — ela segurou o guarda-chuva, notando meu desconforto. Mas não era a isso que ela referia, e sim a ir se despedir.

      Seus olhos estavam vermelhos. Tentei me colocar no lugar dela, pensar em como deve ser ter sido enganada por tanto tempo por uma pessoa que tanto amava. Minha mãe era definitivamente a que mais estava sofrendo com isso tudo. Ela havia se entregado ao meu pai de uma maneira tão apaixonada, confiou e cuidou de duas crianças sempre pensando que a família voltaria um dia ao que era antes, unida. E o pior: ela nunca desconfiou.

        — Mãe, ele é meu pai. — ri nasalado, tentando esquecer todas suas partes ruins dele. Ruins? Horríveis!

      Jimin se afastou após alguns minutos e caminhou até nós duas. Demos um abraço coletivo, era minha vez.

      Então a ficha brigava fortemente contra meu psicológico para cair. Enquanto caminhava até o caixão lacrado e a garoa da chuva caía em meu cabelo, eu lembrava de todos os momentos felizes naquela família. Todos aniversários, as formaturas, os natais. E naquele momento parecíamos tão fracos, quebrados. Fechei com força os olhos na metade do caminho, abaixando a cabeça. Pai, por que o senhor fez isso?

       Ouvi a voz preocupada de minha mãe e olhei para trás, sorrindo para a tranquilizar. Eu tinha que me despedir dele, afinal.

       O caixão era completamente fechado, então fiz um esforço para pensar no rosto de meu pai. Não no do homem que havia visto alguns dias atrás.

cattish ➳ kim taehyungOnde histórias criam vida. Descubra agora