Barcelos

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Ainda na igreja, Luciana pediu para todos se afastarem. E abriu a porta do carro, senti meu corpo sendo carregado para fora, e tudo pareceu estar em câmera lenta, Luciana colocou-me devagar no chão, e a vi sinalizar para respirar e expirar com calma e aos poucos voltando ao normal, todo mundo ficou nos olhando assustado. Com cautela consegui levantar, e Luciana ficou no chão, olhei para ela que ficou sem entender o que aconteceu, e olhei ao redor novamente.
- Tudo bem? - perguntou um senhor, tocando-me no ombro.
- Sim, obrigada!
- Luciana? - ofereci a mão. E a mesma pegou logo. 
Todos ficaram perguntando o que havia acontecido, mas não respondi. Apenas saímos daquele lugar, e levei Luciana até a casa dela. 
- Consegue dirigir? - perguntou ela
- Não, poderia?
- Claro, de a chave - depois de alguns minutos tivera que perguntar - O que aconteceu? 
- Tive um surto de ansiedade.
- Isso eu percebi, estou referindo antes. Como saiu da estrada?
- A... O celular começou a vibrar e acabei me distraindo.
- Essa pessoa que está ligando, está com problemas? - perguntou, olhei para ela de soslaio.
E respondi com a cabeça indicando que não.
- É daqui?
- Sim. - olhando para os lados. - Aonde estamos?
- Naqueles apartamentos, é onde moro - paralisei assim que vi.
- Naqueles? - perguntei
- Isso! Estaciona o carro e entra. 
- Não, deixa pra...
- ENTRA AGORA! - gritou causando espanto.
- Calma.  
Saímos do carro, a princípio tive dificuldade para andar e Luciana ficou olhando por um instante e realmente achou estranho meu comportamento, ofereceu ajuda. A ponto de ter outra crise, segurei fundo a respiração e subimos até seu apartamento, Luciana ficou falando sobre o que aconteceu mas não respondi, subimos em silêncio. 
- Chegamos. - abriu a porta - Entra! - hesitei, em seguida entrei. 
- Bartolomeu!! - chamou Luciana, e olhou com empolgação para mim. Apareceu em seguida um cachorro, correu em sua direção com tal felicidade na qual só entendi depois que Luciana o pegou no colo, ele latiu descontroladamente. 
- Que lindo! - comentei. - Então, é só você e ele?
- Sim, eu sou divorciada. 
- Sinto muito. 
- Não sinta, foi a melhor coisa que fiz esse ano. 
- É recente? - perguntei com receio.
- Sim, começo do ano. Quem você está ignorando na ligação? - perguntou mudando de assunto.
- Não quero falar sobre isso. - sentando no sofá, olhei no relógio e já passou das oito. - Tenho que ir embora, já vai ficar tarde e ainda não organizei todas minhas coisas. 

- Ainda não, vou fazer o jantar pra gente. - disse Luciana

- Não se incomode, estou sem fome. - e o celular começou a tocar, olhei para Luciana depois para o celular. 

- Da esse celular, que vou atender. - pegou-o rapidamente e falou com grosseria. - Alô!! Quem é?
- ... 
- Gabriela, - entregou o celular - Tal de Dean.
- Meu Deus! - falei e peguei o celular. - Alô, oi Dean.

- Aconteceu alguma coisa? - perguntou
- Não, está tudo bem! - retirando-me da sala, indo até a varanda.
- Quem atendeu? 
- É a Luciana, ela está um pouco ansiosa hoje. 
- Aonde você está?
- Em Barcelos, por que? - estranhei as perguntas dele.
- É que vim aqui na sua casa, e resolvi ligar para saber se estava tudo bem.  
- Do trabalho eu trouxe a Luciana na casa dela. - pausei, um pouco pensativa. - Aconteceu alguma coisa que queira me contar? 
- Não, está tudo bem! Depois nos falamos, até mais!

- Tchau.
Ainda na varanda, permaneci por um tempo ali pensando no que aconteceu. Luciana ofereceu uma taça de vinho, e aceitei tomando um longo gole, fiquei olhando no celular por um tempo e vi as chamadas perdidas. Por um momento, pensei em retornar mas fiquei me perguntando em como conseguiu esse número de telefone sendo que o celular era de outra pessoa. Algo passou pela cabeça sobre Dean ter algo a ver com isso, e ele ter ligado assim repentinamente não foi por acaso. Estava frio e pouco agasalhada, Luciana entregou-me um cobertor quente para poder ficar na varanda, ela estava fazendo o jantar e olhando em geral, ainda não acreditava em como acabei ali, na casa dela em Barcelos. O único lugar no mundo onde não queria estar, ela está desconfiada sobre as chamadas perdidas, mas ainda não estou pronta para contar pois ela pode conhecer ele. E nesse exato momento, ele pode estar perto de mim e saber que está perto, resolvi ligar para minha mãe. 
- Oi mãe!
- Oi Gabi, que saudades filha! Como você está? - perguntou, mas com empolgação na voz.
- Estou bem mãe, está ocupada? - perguntei
- Acabei de tomar o café da tarde com sua avó, pode falar!
- Mãe, aquela pessoa não para de ligar. Está sabendo de alguma coisa? - e ela ficou em silêncio. - Preciso que seja sincera mãe! - insisti.
- Ele sabe que você foi pra Portugal.

De repente, PortugalOnde histórias criam vida. Descubra agora