Acordei engasgada com a própria saliva, fiquei nervosa a ponto de correr até a cozinha e beber um pouco d'água, respirei fundo e esperei voltar ao normal, tomei mais um pouco d'água e fechei a geladeira. Voltei para cama e olhei o relógio, marcava três e meia, fiquei insegura então acendi a luz do abajur e lembrei do pesadelo, não consegui chorar, apenas fiquei quieta lembrando daquele rosto e o medo percorreu cada parte do meu corpo, virei de lado e fiquei olhando para o celular que piscava mostrando que tinha notificação, era a Ester.
Desbloqueei o telefone e vi suas mensagens, ela parecia estar com problemas e não pôde ligar mais cedo, contei a ela sobre o sonho e disse para ter calma que aonde estou ele não pode encontrar, ainda mais agora que minha família está segura longe do Vinicius. Bloqueei o celular e virei do outro lado, fiquei observando a janela e pensando na hipótese de ter tido um filho com ele, e o futuro como seria, ele era uma pessoa boa, mas não mede resultados quando não lhe convém. E sem mais nem menos, adormeci sem pesadelos atormentando, e pude imaginar apenas o quarto azul do bebe.-------------------------------
- Bom dia - disse assim que cruzei com Luciana no corredor. A mesma me puxou até o banheiro, um pouco ofegante e preocupada. - O que está acontecendo? Você vai me espancar? - perguntei com receio.
- O que? Claro que não. - Gargalhou - O Antenor foi preso. - cada palavra que dissera, senti um choque leve na coluna.
- O que? - Ainda assim perguntei, ela demonstrou impaciência - Quer dizer, eu entendi, mas o que aconteceu?
- Descobriram alguma coisa que ele fez. - Disse - E hoje saiu nos jornais, não disseram o motivo apenas que os advogados estão cuidando do processo.
- Minha nossa, disseram processo? - Agi com surpresa e medo.
- Está sabendo de alguma coisa? – perguntou
- Não! - Gritei deixando-a pasma. - Desculpa. - ela estranhou minha atitude, pela sua expressão.
- Estamos preocupados. - Disse ela. Indo para minha mesa, liguei o computador e abri meu e-mail, e a caixa de entrada como sempre estava cheia. Comecei a deslizar o mouse na lateral, fazendo os e-mails descerem, era todos da empresa,menos um. "Chefe". Hesitei ao clicar, olhei para os lados então arrisquei.
"Olá, sou eu.
Desculpa assusta-la, mas tive que fazer isso, peço desculpas por tentar envolver você nisso. Mas eu preciso da sua ajuda, no meu escritório você terá de ir, no chão embaixo do carpete você irá cortar, e um pouco mais a baixo terá uma caixa pequena escondida, pegue ele e leve nesse endereço as dez, impresso". Olhei para a impressora, em cima havia um papel,levantei rapidamente e andei correndo para pega-lo, estranhei assim que li o endereço.
Porto, 189. A.
Mais tarde, quando todos foram embora, entrei na sala do Antenor e fiz o que pediu, no fundo fiquei com receio então respirei fundo e peguei uma blusa minha e enfaixei uma das mãos para não deixar minha impressão digital na madeira, peguei a pequena caixa e coloquei no bolso da blusa, levantei e arrumei como estava antes. Deixei a empresa poucos minutos depois, indo em direção ao carro, liguei para minha prima.
- Oi, aconteceu alguma coisa? – perguntou
- Sim, preciso da sua ajuda.
- Pode falar.
- O Antenor foi preso.
- Minha nossa.
- Antes ele deixou uma mensagem no e-mail, pedindo para pegar uma caixa no escritório dele.
- Você fez isso?
- Fiz.
- O que tem na caixa?
- Não abri.
- Está louca? Abre logo isso!! - olhei para a mesma e hesitei.
- Estou com medo.
- Gabi, faça de uma vez. - Ordenou. Peguei a caixa e abri, dentro havia um pendrive.
- É um pendrive. - suspirei aliviada.
- Veja o que tem dentro.
- Não posso, tenho de levar a um endereço as dez, esse pendrive.
- Gabriela, você não deve ir sozinha.
- Com quem devo contar? Você está longe! - choraminguei e ela ficou em silêncio
Dirigi direto para casa. Quando cheguei, abri o notebook e encaixei o pendrive na entrada USB, em alguns segundos ele reconheceu, e sem esperar liguei para minha prima novamente.
- O computador reconheceu logo quando o coloquei. - mencionei
- O que tem no pendrive.
- Há muitas pastas, com nome estranhos. - li um por um
- Entre em um.
- É perigoso.
- Agora, por favor.
- Ai Jesus, você precisa relaxar. - Bufei impaciente. Cliquei na primeira pasta na fileira da esquerda.
- O que tem ai?
- Códigos e mais códigos.
- Isso não é bom. - disse ela
- Por que disse isso? - levantei um pouco nervosa, andando para lá e para cá.
- São senhas? - perguntou sem responder a pergunta.
- Aparentemente sim. - Parei e foquei no números e letras.
- Prima, sinto em dizer mais seu chefe foi pego por desvio de dinheiro.
- Como isso? - Perguntei horrorizada.
- Lembra quando você recusou o trabalho que ele ofereceu? - disse ela
- Lembro.
- Era esse trabalho. - paralisei ficando muda ao telefone e aliviada por ter voltado atrás.
- Preciso levar isso a delegacia.
- NÃO! -Gritou - Isso é perigoso. Seja racional Gabriela, se Antenor pediu a você para guardar ou levar a alguém, é porque você está envolvida.
- NÃO! - gritei mais alto.
- Sinto muito, mas precisa ter cuidado com isso, ele soube escolher alguém para confiar e se escolheu você, absoluta certeza que isso tem solução para você sair sem problemas. - ao ouvir aquelas palavras, senti meu corpo relaxar então sentei na cama, olhei para o relógio "nove e meia".
- Ainda está cedo, vou ao endereço entregar esse pendrive. - Desliguei o telefone antes de ouvir os palavrões dela, coloquei os sapatos e uma blusa jeans, olhei no espelho e ajeitei o vestido longo e os cabelos.
Dei partida rumo ao centro de Porto, segui o endereço corretamente, olhei as ruas cujo estavam vazias e só se ouvia o vento cantando pela janela do carro. Entrei em uma rua larga e parei o carro em frente a um mercado, desci do carro, olhei para os lados antes de atravessar e andei mais um pouco até ver que os números iam aumentando, quando enxerguei o número 189 meu corpo se arrepiou dos pés a cabeça. Bati na porta e ninguém atendeu, bati novamente e ela se abriu sozinha, entrei em silêncio e acendi a luz do celular para iluminar o lugar,ainda assim não consegui enxergar, tentei encontrar o interruptor e quando finalmente encontrei, respirei fundo e apertei. Na minha frente havia uma multidão, todos gritaram "feliz aniversário" e percebi que havia esquecido meu próprio aniversário, olhei para todos e os reconheci, comecei a chorar ao lembrar da minha mãe que não estava com eles, naquele momento. Em uníssono começaram a cantar, bateram palmas e assim pude observar cada um que olhava para mim. Bruno, Diogo, Lucas...E minha prima, arregalei os olhos e corri abraçá-la, ela deu risadas ao me ver, então continuaram a cantar e fiquei olhando para ela e a todos em volta, de repente peguei o pendrive e entreguei a ela. E todos vieram me abraçar, fiquei envergonhada e sorridente, ao mesmo tempo nervosa.
- O que isso significa Mel ? - perguntei a minha prima
- Era apenas uma brincadeira. - disse ela que ainda ria sem vergonha nenhuma.
- Mas o Antenor? - perguntei preocupada
- Estou aqui. - Surgiu de trás do pessoal, fiquei aliviada e caminhei para abraça-lo. O mesmo ficou emocionado, e pediu desculpas.
- Fiquei preocupada Senhor. - Roçando sua barba na minha testa.
- Fico feliz por saber que posso contar com você, agora preciso que entregue o pendrive. - Disse sério, e fiquei séria.
- O que? - perguntei afastando.
- Ora pois, tem ótimas músicas nesse pendrive. - deu gargalhadas.
- Me pegou de novo. - Relaxei os ombros e voltei a rir. - O que são aqueles códigos? – perguntei
- Códigos? - Perguntou - Você vasculhou meu pendrive? - perguntou novamente, dessa vez sério.
- Sinto muito senhor, fiquei preocupada com o senhor.
- Chega de senhor, - me abraçou - aqueles códigos são de software, que a empresa vai inaugurar quando estiver pronto, quando você deixá-los pronto. - disse e respirei alivio mais uma última vez.
- Venha Gabi, quero falar com você! - disse minha prima
- Não acredito que fizeram uma festa para mim. - Falei com empolgação. - Como chegou tão rápido? – perguntei
- Cheguei a tempo de organizar tudo, conversei com Luciana do seu trabalho e pedi ajuda ao Antenor com a preparação. Liguei para seus amigos e as famílias deles nos ajudaram também. - Disse ela. Ao vê-la, naquele momento senti meu mundo pousar.
- Não acredito que veio, estou mais tranquila.
- O Lucas... - disse ela, e apontou para além de mim, virei o vi conversando com seus amigos e meus ombros relaxaram.
- Ele quis vir? – perguntei
- Sim. - Disse ela - Conversei com ele, sobre tudo que aconteceu entre vocês, acho que você deveria ouvi-lo mais uma vez.
- Não sei, ele parece estar feliz. - falei
- O que tem a ver?
- Não quero mais.
- A diferença é que você está aqui, em Portugal, estou com você para ajudar no que puder.
- Só hoje, vamos comemorar a festa? - Perguntei e ela acenou concordando.
Saímos dali, e dançamos com nossos amigos, Diogo veio me abraçar e o beijei na bochecha ele ficou rosa mas sorrio em resposta, puxei para dançar e o mesmo ficou com vergonha. Começou a tocar uma música agitada, e todos deu a bater palmas no ritmo, puxei minha prima
e a mesma deu a dançar loucamente, fiquei horrorizada em como ainda se mexia bem, olhei para o lado e vi Bruno a observando com um sorriso malicioso no rosto e ri sem perceber, andei até ele e o puxei para o meio de encontro com ela, seus corpos se encaixaram e ela o ensinou a dançar, ele riu envergonhado mas continuou a aprender. A minha volta, vi todos se divertindo, visto que alguns meninos e deduzi serem amigos do Lucas, eles não estavam dançando então fiquei olhando, eles perceberam e acenaram, retribui de volta. Em minha direção avistei uma mulher se aproximando, e vi que era Luciana.
- Como não me contou que era a garota que Lucas estava se relacionando pela internet? - Disse ela com tristeza na voz. Gaguejei a princípio, e a mesma começou a chorar, lembrando do que causara em minha vida.
- Desculpa, mas não queria que descobrisse. - falei
- Eu peço mil desculpas por ter causado aquilo em você, por ter feito terminar com você e a feito sobre. - disse ela
- Esqueça isso Luciana, já passou. - Falei, e a mesma acenou com a cabeça em seguida se afastou dançando com o próprio Antenor que a puxou, e levantei as sobrancelhas em surpresa e ele estava um pouco alterado. Aproveitando o momento sozinha, procurei pelo banheiro e entrei, dentro dele não havia ninguém, apenas eu. Usei e sai, encostado na pia estava o Lucas esperando apoiado, ele sorrio com delicadeza e sorri de volta.
- Feliz aniversário! - disse ele
- Obrigada. - Falei. Lavei as mãos e a enxuguei.
- Comprei uma coisa pra você. - pegou uma caixa média enfeitada e entregou.
- Não precisava Lucas.
- Pode abrir quando chegar a sua casa?! - perguntou
- Está bem! - Saímos do banheiro, e voltamos a dançar. Dessa vez ele me puxou, e começamos a rir de estarmos dançando, os passos pareciam ser difíceis para ele, olhei para os amigos dele que ficaram surpresos de ver Lucas comigo e bateram palmas sinalizando algo que somente eles entendiam. Mas um dos amigos dele não parecia gostar, observei sem demonstrar e depois distrai com os passos do Lucas.
Após a meia noite, minha prima já não estava mais em condições de andar, abusou do álcool e começou a falar alto, peguei a caixa que Lucas havia me dado ecoloquei no carro. Despedi de todos e agradeci pela festa, abracei o Diogo e agradeci por tudo, por sempre estar ao meu lado, ele sorri e beijou minha testa. Cada um entrou em seu carro e foram para suas casas, antes de entrar no carro vi Lucas observando-me com cautela, acenei para ele e o mesmo mandou beijo, seus amigos deu de querer brincar com a situação e fizeram o mesmo que ele.
Chegando em casa, coloquei a Mel para dormir e a mesma dormiu em segundos, peguei meu celular e vi uma chamada da minha mãe, retornei.
- Alô! - disse ela - FELIZ ANIVERSÁRIO – gritou
- Obrigada mãe. - E afastei o celular da orelha. - Acabei de entrar.
- Parabéns filha, tudo de bom para você! - disse ela chupando o nariz
- Está chorando? - perguntei
- Não filha - mentiu
- A Mel está comigo.
- Que bom, não ficará sozinha mais. - sua voz de alivio transpareceu.
- Tens razão mãe. - pausei em silêncio
- Desculpa não ter ido, ficou tudo tão complicado com a mudança que não consegui me reorganizar ainda.
- Fica tranquila mãe, está tudo bem!
- Obrigada.
- Está tarde mãe, preciso ir dormir.
- Boa noite filha.
Apaguei a luz do quarto e fui para a cozinha, sentei na cadeira e coloquei a caixa que havia ganho de aniversário na mesa, abri com cuidado para não rasgar, dentro havia cartas com meu nome. Cartas que nunca recebi, e um bilhete em cima.
"Espero que entenda".
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De repente, Portugal
RomanceCom uma proposta de emprego, Gabriela foi transferida para trabalhar fora do Brasil. Seu chefe não hesitou em envia-la para trabalhar em Portugal, na qual reencontrou seus amigos do passado, cujo havia conhecido pela internet em uma época difícil na...