De repente, Portugal

Aveiro

Amanheceu, levantei com cuidado e deixei Bruno dormindo. Na cozinha, preparei o café mas vi que precisava de algumas coisas para tomar café, fiquei pensando, e assim tive uma ideia, então acordei o Bruno.
- Pode ser arriscado, tem certeza? - perguntou ele.
- Não, então vamos aqui perto mesmo! - sugeri
- Conheço um aqui perto.
Aproveitei para tomar um banho, e depois de estar pronta Bruno entrou no quarto e disse que "ele" havia de ter ido a academia e só voltava mais tarde. Antes de ir, passamos na casa do Bruno pois ele morava perto, o mesmo foi trocar de roupa e depois fomos a Barcelos.
Quando chegamos ao tão esperado café, parei em frente ao mesmo e fiquei observando por alguns instantes e Bruno ficou rindo disfarçado, brinquei com ele sobre ser o lugar onde fez parte de mim. Ele compreendeu o que quis dizer, e nos sentamos a uma mesa no canto para que pudéssemos observar a entrada. Bruno pediu um café, e cappuccino para mim e ficamos durante horas conversando, por um momento parei e acabei tendo flash do passado.
- Tudo bem Gabi? - perguntou Bruno, tirando-me do devaneio.
- Sim, só passou algumas coisas pela cabeça.
- Entendi, vamos mudar essa carinha e conte-me como foi a viagem?
- Bom, só estou aqui a dois dias, não fiz muita coisa. - Expliquei enquanto admirava seus olhos azuis. - Ainda não tive tempo de ligar a Ester, mas ela continua a mandar-me mensagem.
- Ester! - Repetiu o nome dela, em seguida tomou um gole de café. - Ainda converso com ela, não como antes mas ela parece diferente, parece como se estivesse feliz realmente.
- E isso não é bom? - perguntei confusa
- Claro que sim, mas é que estou preocupado, e você sabe muito bem como sou quando estou preocupado. - disse ele
- Sabemos, não é? - perguntei respondendo
- E nesse momento, estou preocupado com você! - Disse ele, tocando levemente as pontas dos meus dedos.
- Por que haveria de estar? - perguntei
- Você parece que está em outro planeta Gabi, mas está aqui no café.
- O passado parece estar tão presente, que fica difícil colocar os pés no chão. - agarrei a xícara e fiquei olhando por um momento.
- Ai não! - disse Bruno.
- O que... - e aquele momento tudo pausou, aconteceu em câmera lenta, olhei para o Bruno e dele para a porta. Quando bateu os olhos em mim, ficou pálido e não soube como raciocinar, Bruno falou algo na qual só vi o movimento de sua boca abrir e fechar.
- Oi Gabriela. - Disse ele, naquele sotaque que fez meu corpo arrepiar dos pés a cabeça.
- Oi Lucas.
"- Já passou um bom tempo e ainda sonho com ele Ester.
- Tem pensado nele? - perguntou Ester.
- Hoje não.
- Mas pensou, sei que sente falta dele, mas é questão de tempo. Você vai conseguir esquecer ele.
- Eu sei, mas esse tempo está demorando.
- O tempo é misterioso."
- Gabriela? - chamou Bruno e voltei aos poucos ao meu estado normal.
- Estou aqui. - Por fim consegui falar, e a mesa ao lado está o Lucas com outros amigos e Bruno apenas os cumprimentou. - Seus amigos estão ali, acho que o querem com eles.
- Não faria isso com você. - disse ele.
- O que aconteceu comigo? - perguntei
- Você ficou olhando o... - Pausou, olhou para o lado e viu Lucas conversando com os amigos. - Lucas. - Cochichou. - E travou, ele ficou olhando com uma expressão estranha porém não disse mais nada.
- Nossa, passei por papel de idiota agora. - escondi o rosto entre o braços.
- Não vai falar com ele sobre as ligações? - perguntou
- Não! Ele deveria dar explicação, não tenho nada a dizer.
- Gabi, já faz anos que aconteceu. Você seguiu em frente, que tal esquecer tudo isso? - disse Bruno tomando um longo gole de café.
- Esqueci tudo, mas meu chefe parece que sabia quando quis transferir para esse país.
- Tudo coincidiu apenas. - Disse ele. - Vem, vamos andar um pouco, quero lhe contar umas coisas.
Do lado de fora do café, começamos a caminhar pelas ruas de Barcelos, estava ventando bastante e Bruno se agasalhou bem ao seu cachecol preto. As ruas estavam pouco movimentadas, e uns cumprimentavam outros com boa tarde, Bruno era sempre de bem com a vida. E a partir daquele momento, tudo passou a ficar mais claro.
- Gabi, depois que você e Lucas terminaram, lembro como se fosse ontem. O seu estado passou a mudar bastante, você passou a não ter mais disposição para mais nada, e Lucas ao contrário, ele pareceu mais aliviado. Desculpe-me falar dessa maneira, mas acompanhei o processo de superação dele, e pelo que percebi no começo foi difícil para vocês encararem aquele clima. - Disse ele, enquanto íamos cada vez mais longe do café. - Envolveu não só a mim, como a Ester também. E lembro muito bem, Ester disse coisas a ele que não conseguiria dizer nem para meu cachorro, mas de fato ela teve razão. Conversei com ele naquele dia, ele parecia estar diferente, não ligou para o que aconteceu. Na época o Lucas se comportava de modo egoísta apenas para preencher o vazio e isso o fazia ser um bebê no corpo de um homem, e você por já ser uma mulher jamais iria conseguir lidar com o temperamento dele.
- Eu sei, mas aonde quer chegar com isso? - perguntei
- Tenha calma! - Disse ele rindo. - O Lucas, nunca havia se comportado daquela maneira antes com alguma menina e realmente, devido ao que ele falava sobre você, percebi em como foi se apegar. - Olhando para mim de soslaio.
- Lucas não foi fácil de lidar naquela época, tive a maior paciência do mundo. – Comentei
- Lembro disso também, mas o que não foi dito é que ele queria tudo aquilo cujo um dia sonhou, ele queria uma família com você. E saber que está aqui, teve curiosidade em querer conhece-la finalmente. Ele só teve medo de assumir realmente isso para alguém além de mim e o outro amigo dele, pois pensou que não iria para frente ou você não conseguiria vir cá.
- Ele não confiou quando falei que viria mesmo, e agora está arrependido porque estou gostosa e linda e ele está namorando. - dei risada no final.
- Sim, mas agora ele tem alguém... - parei assim que ouvi, olhei para a frente onde pessoas passavam ao meu lado e olhei para o chão.
- Se ele tem alguém, o que ele quer comigo? - perguntei com frustração na voz
- Só falando com ele para saber. - No bolso de trás, senti meu celular vibrar e olhei, era o Lucas. - E esse momento é agora. - sem hesitar, atendi.
- Alô! - falei mansinho.
- Gabriela? - Aquela voz que nunca esqueci chamou meu nome e meu coração acelerou. Bruno pegou minha mão e apertou, ficamos de mãos dadas andando na rua.
- Estou aqui. - respirei fundo antes de falar.
- Podemos conversar? - perguntou ele.
- Sobre o que?
- E desligou.
A caminho de volta, Bruno disse que teria que ir encontrar a gaja que antes mencionou, liguei para a Ester que estava quase tendo um ataque, por não ter tido notícias nas últimas horas.
- Ester? - falei
- GABRIELA!!! - Com seu jeito maluco de sempre, na qual estava acostumada. - Quase me matou de preocupação, como você está?
- Estou bem, só com um pouco de frio. E com você? - perguntei
- Estou com problemas como sempre, mas estou bem.
- Entendi, posso lhe perguntar uma coisa? - perguntei
- Sempre. - disse com indiferença
- Passou meu contato ao Lucas? - e ela ficou em silêncio.
- Passei. - E dei um grito de frustração - Eu sei, eu sei me desculpa, mas ele insistiu pois disse que precisava falar com você, e que ainda não acreditava que estava indo para Portugal. Disse outras coisas também, mas, não é o momento certo para dizer.
- Na verdade é, pois ele fica me ligando e não diz nada. Bruno disse que ele está namorando.
- Lucas vai pedir para voltar com você. - Paralisei, Bruno olhou-me de lado, mas não perguntou o que ela disse. Ela depois de dizer aquilo desligou, fiquei pensativa mas tentei parar e resolvi aumentar o volume do som. Conectei meu iPod no carro de Bruno e apertei Cryin do Aerosmith, é aproveitamos a viagem. Meu interior está explodindo em sentimentos bons admito, mas era tudo questão de minutos para acabar.
"- Por que está sem esperança? - perguntei
- Porque estou!! Porque sou assim e porque estou chateado comigo mesmo, e porque todo mundo me julga. Sem saber o que é gostar de uma pessoa do outro lado do mundo!! Que droga - disse Lucas".

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Depois que Bruno deixou-me em casa, liguei a Ester e contei que aquilo que dissera não iria acontecer pois meu objetivo estava além disso. Lucas não passava de um passado horrível, e que agora nada mudaria meus planos.
Com o pouco de energia que tinha, coloquei meu pijama e dormi para esquecer tudo aquilo e aqueles milhões de sentimentos.