Clarice

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- Você sempre soube que esse bebê era dele, só não queria admitir. - Disse Dean erguendo o tom de voz. E só o que consegui fazer, era ficar em silêncio, mas ele continuava a resmungar então, na porta apareceu as meninas assustadas e começaram a me defender, dizendo coisas a ele que o deixou quieto.
- Você está assim porque ama ela. - Disse Carla apontando em minha direção, o que deixou-me corada. 
- Isso n... - Ele tentou negar, então olhou para mim o que me deixou mais corada ainda. A primeira atitude que tive, foi sair dali indo em direção a porta de saída, mas Dean a segurou e pediu para não sair.
- Preciso de um tempo comigo. - Pedi num tom suave e ele compreendeu liberando a porta. Mas tudo ocorreu de forma inesperada, andando tranquilamente pelas ruas consegui colocar os pensamentos no lugar certo, por assim pensar, acabei por pegar o celular e enviar uma mensagem ao Erik e aguardei pelo retorno. Não demorou muito e o celular vibrou logo. Ela havia enviado apenas um oi, então comecei escrevendo pelo simples "preciso lhe contar uma novidade". E dessa vez ele ligou, o que deixou-me nervosa, mas atendi.
- Oi! - Disse ele em tom animado
- Oi Erik, como está? - Perguntei disfarçando o nervosismo
- Estou bem preocupado na verdade, o por que dessa ligação. 
- Bom, eu não queria começar assim mas... - Ele esperou - ... Estou grávida.
- Meus parabéns Gabriela...
- O filho é seu. - E ele parou, ficou mudo
- O que? 
- É seu Erik. 
- Mas isso tem tempo que nós tivemos...
- Estou quase para ter o filho Erik!
- Sério? - Perguntou pasmo
- Sim. 
- Do que você precisa? - Perguntou ele sério agora
- Que você conheça sua filha.
- É uma menina? - Mudando sua voz para mais mansa 
- Sim! - Respondeu entusiasmada 
- Tudo bem! Vou me reorganizar aqui, e programar a viagem. Até breve - E desligou
Por um momento fiquei olhando para o celular e consegui imaginar ele cuidando dela, beijando seu rosto ou penteando seu pouco cabelinho e acabei por chorar, então sentei na calçada e chorei mais ainda, mas ai ouvi um som de clique. 
- Me passa tudo que tem. - Era um homem, de boné com capuz. 
- Sim. - Só lhe entreguei o celular 
- Tem mais coisa ai. 
- Não tem. - Respondi friamente 
- Tem sim. - Ele se abaixou e olhou para minha barriga, depois para as pernas em seguida esticou seu braço acariciando da canela para cima tentando levantar o vestido, mas automaticamente o chutei e ele deixou a arma cair, olhei para a mesma e tentei agir com rapidez, mas senti uma pontada na barriga que fez voltar para trás. O ladrão ficou paralisado, e pegou a arma, agora apontando para minha cabeça pois no tombo seu boné e capuz havia caído e pude ver seu rosto. 
- Desculpa! - Disse ele fechando os olhos e atirou. 



                                                                                                   ✿ 


Alguns flash's, o carro da ambulância chegando, algumas pessoas em volta surgiram. Olhei para o lado com dificuldade, tudo estava embaçado, um homem se abaixou para pegar algo que parecia um celular, em seguida fazia ligação para alguém. Senti meu corpo ser carregado para dentro da ambulância e na tentativa de levantar a mão, a vi suja de sangue, tudo havia perdido o sentido, as luzes da sirene piscava mas não se ouvia o som, os paramédicos se conversavam, mas não se ouvia as frases, então percebi que estava entrando em estado de choque, meus pensamentos funcionavam, mas o restante estava tudo parando aos poucos. Consegui alcançar a barriga, que doeu assim que toquei e uns dos paramédicos aproximou erguendo o vestido e fez uma cara de preocupado. 
- A bolsa dela estourou. 
- Oi! - Aproximou um deles - Sou Alexandre, e preciso que converse comigo. Como é o seu nome? 
- Arh! - Tentando ao máximo a sair um som racional - Gabrie... 
- Certo Gabriela, você tem quantos anos? 
- Acho que... Uns vinte e sete. 
- Mantenha acordada. - Ordenou - Estamos prontos! - A ambulância ficou agitada e notei que estávamos em movimento. 
- O que houve? - Perguntei com dificuldade
- Você levou um tiro, está perdendo muito sangue, mas estamos com agilidade no atendimento então vai ficar tudo bem. 
- O bebê. 
- A sua bolsa estourou. - E de repente senti tudo girar, o som ia e voltava. - A pressão dela está caindo, vamos pessoal. - Gritou ele 
- Dean. - Falei - Telefone. 
- Cadê o telefone dela? - Gritou ele mais uma vez. 
- Está aqui comigo. - Disse o copiloto - Ligue para o tal Dean e peça que venha ao Hospital, mas diga com cautela. - Voltando para mim agora. - Ele é novato, está aprendendo ainda. Você precisa ficar comigo Gabriela, estamos chegando. 
Em menos de cinco minutos chegamos, e tudo escureceu. 



                                                                                                     ✿



Com dificuldade, senti meus olhos se abrindo cautelosamente. Havia algumas pessoas, mas não sabia distinguir quem eram, então apertei os olhos e os abri novamente, deixando a visão voltar ao normal aos poucos. 
- Gabriela? - Era o Dean
- Sim? - Perguntei suavemente 
- Você está bem? - Perguntou
- Sinto-me zonza 
- Por favor, chamem o Doutor! - Disse ele com outra pessoa
- Dean, eu vou morrer? 
- Você vai ficar bem! - Disse acalmando. - Consegue enxergar? 
- Muito pouco. 
- Olha para cá. - E virei aos poucos, em seu havia alguma coisa enrolada numa coberta rosa de plush. 
- Quem é.. - Tentei terminar a pergunta, mas consegui enxerga-la. Era perfeita, toda branquinha e cabeluda. - É ela? Como isso?
- Depois do que aconteceu, você se livrou de uma enorme Gabriela. Sua bolsa se rompeu devido ao choque e ... Não sei explicar bem isso, depois o Doutor te explica melhor. Os paramédicos lhe socorreram, depois me ligaram e tiveram de fazer o seu parto de emergência, como você estava desacordada não houve outra maneira, sem ser cesariana. 
-  Tudo bem! - Respirei fundo - Quero ver minha filha. 
- Vão trazer logo, estão limpando ela. 
- Como ela é? - Perguntei com dificuldade, mas com ansiedade. 
- Ela é perfeita, de cabelos escuros, pense numa menina cabeluda. - E pensei sobre, lembrei que o pai era do mesmo jeito. - Gabriela? - Chamou ele tirando-me do devaneio. 
- Sim?
- O pai dela está vindo?
- Diz ele que sim. 
- Você está bem com isso? 
- Tenho que estar, ele é pai dela, terei de viver com isso de agora em diante. 
- Entendo. - Ele se levantou, andando pela sala. - Gabi, eu queria lhe contar uma coisa, mas não sei se deveria. 
- Como assim? - Perguntei 
- Pegaram o cara que atirou em você! - E fiquei aliviada - Mas o que vou contar não será coisa boa. 
- Conte logo Dean. 
- Você não deve se lembrar, mas era o Renato que te assaltou, ele não sabia que era você pois estava sobre efeito de drogas. O depoimento que deu a polícia, foi que teve desespero, e a falta de trabalho lhe causou depressão e já não sabia mais onde arranjar emprego. 
- Mas que tolo, eu ia ajuda-lo, só que tive pouco tempo para pensar nisso. - Respondi encostando a cabeça de leve, sentindo uma pressão no lado aonde a bala entrou.
- Ele deve ter pensado que não se lembraria mais dele. 
- Como sabe? Você por acaso conversou com ele?
- Sim. - E arregalei os olhos de pasma. - Como ousa Dean? 
- Só queria entender Gabriela, ele é um ser garoto, todos nós cometemos erros. 
- Garoto? Acorda Dean, você não é velho o bastante para dizer isso. - Em seguida a enfermeira entrou, com uma coberta entre os braços, e ao vê-la meus olhos se encheram de água, estendi os braço para pega-la e assim pude ver melhor, seus olhos claros e seus cabelos cheios, olhos fechados enquanto mexia a boquinha. 
- Vamos tentar amamenta-la? - Perguntou ela, e sorri em resposta. - Certo. - Olhei para Dean e o mesmo sem hesitar saiu da sala, e voltei minha atenção a ela, tirando com delicadeza um dos seios que ela recuou de primeira, então insisti e ela abriu a boca. A sensação é estranha, mas o prazer de ver aquilo era imenso. - Já escolheste o nome dela?
- Clarice. - E seu sorriso apareceu, fazendo meu coração acelerar de emoção. 



De repente, PortugalOnde histórias criam vida. Descubra agora