Sexta-feira

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Ao sair para trabalhar, deixei Mel no centro de Porto. Estacionei o carro na vaga de funcionários e entrei, cumprimentei alguns e avistei Antenor com uma aparência cansada e andei até ele, ele disfarçou ao me ver.
- Bom dia Senhor. - cumprimentei, entregando-lhe um copo de café grande.
- Com leite? - perguntou
- Sim.
- Boa garota. - tomou um gole longo.
- Está tudo bem? - perguntei
- Estou me esforçando para estar.
- Desculpe a pergunta, mas o senhor está de ressaca? - ri disfarçadamente
- Sim. - disse pousando o copo na mesa.
- Mas não vi o senhor beber ontem... OH! - parei assim que lembrei dele dançando com Luciana.
- Não, não termine essa frase. - disse com tal remorso na voz
- Aconteceu outra festa depois que a minha terminou então?
- Parece que sim. – Envergonhado
- Está seguro comigo.
- Obrigado. Agora, de volta ao trabalho, tem muito o que fazer hoje. - Virei - Espere, - entregou o pendrive de ontem - termine aquele software que mencionei ontem, preciso dele até segunda. - Acenei um pouco horrorizada com o pedido, mas não consegui dizer nada, afinal ele é chefe.
Ao sentar na minha mesa, vi Luciana me olhar e esperei.
- Lucas?- perguntou
- Lucas! - confirmei
- Ele fez algo? - Disse ela.
- Não, mas entregou-me uma caixa ontem - respirei com cautela
- São cartas.
- Por que ele fez isso?
- São de quando vocês ainda se falavam.
- O Lucas é problemático. – confessei
- Gabriela, você precisa ler elas.
- Por que? – gritei
- Só leia. - Disse e saiu do banheiro, fiquei lá por alguns minutos e depois voltei ao trabalho.
A caminho de casa, passei no mercado e comprei algumas coisas para jantar e para o dia seguinte. Encontrei com a Mel fazendo o jantar, e entreguei algumas coisas a ela que havia pedido por mensagem, conversei um pouco com ela e contei sobre as cartas, ela ficou um pouco surpresa e pediu para ler, a cada estrofe esboçava uma reação diferente da outra.
- O que acha que quer dizer? - perguntei
- Não faço ideia... - analisou mais uma vez e entregou-me
- O que acha que ele quer contar?
- Algo que o que aconteceu a seis anos atrás.
- Não acha que seja irrelevante?
- Pra você não. - Disse ela. - Vai tomar um banho, lava esse cabelo e depois vamos jantar. Depois disso vamos sair.
- Sair? AH, não, não, não! - disse correndo pro banho
- Vamos sim e pronto. - disse ela.
Entrei no banho e demorei o tempo que for para ela pode desistir, assim que sai coloquei o roupão e uma toalha na cabeça, ao entrar na sala deparei com o Bruno sentado conversando com a Mel.
- Olá! – falei
- Oi Gabi! - disse ele empolgado.
- Demorei muito? - perguntei
- Bastante, achei que tivesse dormido na banheira. - disse ele rindo
- VAI SE TROCAR! - disse Mel
- Ainda vamos sair? - choraminguei
- Sim, Bruno vai nos levar a um lugar legal.
Voltei para o quarto, sequei meu cabelo e alisei. Coloquei uma roupa confortável, a jaqueta jeans e sapatos fechados, entrei na sala em silêncio e acabei flagrando os dois se beijando, pigarreei e se assustaram, não pude esconder o riso deixando-os sem jeito.
- Isso é um problema. – falei
- Por que? - perguntou ela
- Não quero ficar sobrando. - Confessei. E Bruno se levantou, veio em minha direção e abraçou.
- Nada disso, você irá conosco, sim senhora.
- Não começa Bruno! - rimos e os dois já estavam arrumados.
- Vamos encontrar com o pessoal lá, no lugar que vou levar vocês! - disse ele - Eu dirijo.
Como pensei, minha prima foi na frente com ele e eu atrás ouvindo música.
- Mel, soube que o Antenor dormiu com a Luciana? - perguntei
- Não acredito, sério?
- Sério, mas não conte a ninguém.
- E para quem iria contar?
- Ela é tia da namorada do Lucas. - Bruno enrijeceu no banco.
- Bruno sabe guardar segredo.
- Mas o que tem ele ter ficado com a Luciana? - perguntou Mel
- Ele é casado. - falei
- E a Luciana é louca. - Disse Bruno.

Seguimos rumo ao tal lugar que Bruno queria nos mostrar, olhei meu redor as ruas estavam iluminadas e movimentadas.
- Não está tarde para as pessoas estarem na rua? – perguntei
- Não mesmo. - disse ele e riu disfarçadamente.
- Lucas lhe enviou mensagem? - perguntou Mel
- Não. - Respondi - Foi o Diogo. - e olhei as notificações.
- Ele sabe aonde vamos, vai nos encontrar lá! - disse Bruno
- Que bom! - fiquei feliz de repente.
- Ao chegar no lugar, ficamos em silêncio e acabei por lembrar da carta e ter a hipótese que iria encontrar Lucas naquela noite, a chance era grande mas tentei manter a calma. Na frente estava o Diogo encostado na parede nos esperando, quando nossos olhares se encontraram senti um frio na barriga e por alguns minutos voltei ao passado.
"Quando conseguir realizar seu sonho e estiver aqui, não te largarei por nada", e olhei para sua mão que estava entrelaçada com a namorada, fiquei feliz por ele.
- Olá! - disse ele.
- Olá! - cumprimentei ele e ela, a mesma acenou e sorrio.
- Oi pessoal - disse Mel com Bruno ao lado.
- Vamos, estão nos esperando. - Disse Bruno. Entramos num lugar, aparentemente parecendo um clube de dança, e seguimos Bruno a dentro, passando pelas pessoas que estavam dançando ao som do DJ, e peguei na mão da Mel. Ela disse a ele no ouvido que iríamos no bar pegar uma bebida, mas ele pediu que o acompanhasse antes encontrar o restante do pessoal, e fizemos o que pediu. No encontro, vimos os amigos dele e mais algum pessoal sentados num sofá ao redor de uma mesa grande, e olhando com cuidado o vi e senti um arrepio imediatamente. "Lucas".
- Está tudo bem? - perguntou Mel
- Sim, vamos no bar? – perguntei
- Vamos. - Sem olhar para trás fomos comprar algo para beber, e fiquei um pouco pensativa.
- O Lucas está aqui.
- Inevitável prima. - disse ela
- Converso com ele sobre as cartas? - pergunto confusa 
- Depois do quinto drinque, - tomou uma dose rapidamente - você pergunta. - e ofereceu um copo - Vai fundo e toma de uma vez.
- Ok. - E tomei sem hesitar. Depois o segundo, terceiro e quarto drinque já não lembrava o que tinha falado antes. - Isso é forte! - Falei meio mole.
- Devagar Gabi! - Disse Mel. - O Último agora. Uma água por favor. - pediu ela a alguém.
- Minha nossa, vamos dançar. - Puxei ela que deu um grito não sei qual o motivo. Olhei para o meio e vi tudo embaçando e comecei a rir, ela começou a dançar e meu corpo que já não tinha mais o controle deu a mexer para lá e para cá.
- Vamos voltar! - falei
- Vamos. - Chegando na mesa, comecei a sorrir e apoiei no ombro do Bruno que estava conversando com os meninos, ele ficou surpreso com minha atitude e perguntou se estava tudo bem, soltei algumas palavras e ele pareceu deduzir que não, olhou para ele gesticulou algo mas não obteve resposta.
- Ei, você. - Falei apontando para o Diogo. - O que aconteceu? - gritei
- Não percebo(entendo). - disse ele com um copo na mão.
- O que aconteceu com "Quando conseguir realizar seu sonho e estiver aqui, não te largarei por nada"? - imitei seu sotaque, e ele riu em resposta.
- Você não se importou na época, por que haveria de se importar agora?
- Não fale assim, sempre me importei. Até que por fim estou morando aqui. - falei e fechei os olhos senti o mundo girar.
- Você só veio por causa do trabalho! - Disse ele e se afastou. Sentei no sofá e fiquei olhando para a mesa, senti que estava voltando ao normal, peguei uma cerveja e dei um longo gole.
- Vai com calma! - Disse alguém.
- Calma? - Perguntei. Era o Lucas. - Você! - sorri com vergonha. "O que estava acontecendo comigo?!"
- Você está bem? - perguntou
- Eu quem deveria perguntar isso. - falei e o vi sentar a minha frente.
- Estou bem agora. - disse ele
- Antes não?
- Parece que não.
- O que são aquelas cartas? - perguntei curiosa
- Precisava achar um meio de esvaziar os pensamentos.
- Vir falar diretamente comigo não funcionaria? - larguei o copo na mesa.
- Pensei nisso, mas não daria muito certo.
- Você escreveu a muito tempo atrás, acha relevante agora? - perguntei
- Responda você.
- O que você quer Lucas?
- Desculpar...
- Isso você já fez... - respirei fundo, olhei para o meio das pessoas. - Quero ir para casa. - Mas ele puxou para dançar, indo para o meio da pista de dança, começou a se aproximar, podia sentir até sua respiração. Afastei e ele insistiu mais uma vez. Sem conseguir segurar, acabei deixando ele mais próximo, sua mão tocou na minha que logo segurou, seus olhos foram em direção de nossas mãos deixando-me arrepiada.
- Tudo bem? - perguntou
- Sim. - Gritei entre os sons que estourava ao redor e fiquei pensativa. Por um momento voltei no tempo...
"Você deve ser a Gabriela que tanto falam, Bruno falou de você mas o Lucas nunca contou sobre o que aconteceu, ele prefere ficar em silêncio e ser ignorado a falar no seu nome, não sei o que fez a ele ou ele fez a você mas preciso saber, isso está cada vez mais aterrorizante e o fato do Bruno não contar, é porque eles tem uma trégua, sinto isso.
Contei a ela. Lucas, a um certo ponto decidiu guardar o que sentia, tentei conversar com ele sobre, mas ele não quis, ele preferiu me ignorar e como estávamos distante, tudo começou a esfriar e ele colocou empecilhos sobre nós, sobre o futuro e por ele ser egoísta acabou pensando somente nele,tentei ajuda-lo e ele negou ajuda.
Ela comentou. O que ele fez, não é novidade e eu entendo isso, sinto muito pelo o que aconteceu entre vocês e por ele ter um comportamento estranho quando tocamos no seu nome, e sei que a culpa não foi sua, Bruno falou muito de você e eu a respeito por isso e por ter sido tão competente a ponto de ser assim. Sei que é injusto vindo de mim, por ser a atual dele e você a antiga, mas eu o amo e querer saber o que houve entre vocês é tão importante que ultrapasse o limite, e vir até você para saber.
Contei. Confesso para você que não quero mais atrapalhar a vida dele, mas eu tenho que dizer a você, já que falou comigo, estou indo para Portugal dentro de alguns meses. Imploro a você, não conte a ele, mesmo que não tenha nenhum envolvimento com ele mais, quero que me prometa que não contará a ele que vou. Desejo a vocês, felicidades".    

De repente, PortugalOnde histórias criam vida. Descubra agora