Capítulo 21

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  Depois que voltamos do hospital, Bryan foi direto para sua casa e eu para minha, antes nos despedindo com um simples abraço de amigos.

  Na manhã seguinte, me levantei como todos os outros dias, mas então lembrei que não tinha que acordar uma pessoa loira que dorme na cama ao lado da minha.

   Por incrível que pareça, não saí de casa atrasada naquele dia.

  Cheguei na escola antes do horário, o que me deu tempo de ir à sala do diretor barrigudo e careca para explicar minha ausência dos últimos dois dias.

  Ele não gostou muito de saber que não era um motivo grave do tipo deu ter sofrido um acidente muito feio e estar internada em coma, mas teve que aceitar e disse que teria que ir atrás dos professores para pegar as matérias perdidas e, provavelmente, trabalhos para recuperar apenas dois dias de falta.

  Ser bolsista não é fácil.

  Estava fechando meu armário para seguir à sala de inglês e acabei ouvindo ao fundo o som da voz de Dylan, e o que parecia, discutindo com Haley.

  - Você não pode simplesmente desaparecer da minha vida, Dylan!

  - Não é questão de desaparecer da sua vida, só não quero mais ter nada contigo. A nossa chance acabou. Por que você não segue a sua vida e eu a minha?

   - Não mesmo. Não passei dois anos impedida de sair e curtir a vida com as minhas amigas para no fim, você dizer que não quer mais namorar comigo.

  - Sinto te decepcionar, mas acabou e já faz tempo.

   Dylan parece notar que estou escutando tudo, mesmo que meu olhar esteja concentrado nos livros que acabei de pegar no armário.

  – Preciso ir, a aula deve estar começando e não posso me dar ao luxo de chegar atrasado em sala de aula e muito menos perder matéria. Nos vemos por ai, Haley.

  - Dylan, volta aqui...

  A loira oxigenada não continua, porque já perdeu a atenção que tinha do ex.

  Dylan anda com passos precisos, arrumando a alça da mochila azul escuro que insiste em ficar caindo de seu ombro. Desiste da tentativa falha de manter ela ali sozinha, deixando sua mão branca com longos dedos em volta do pedaço de tecido.

  Volto à realidade e me viro para seguir o meu caminho, tentando não esbarrar em todos os adolescentes dali, até a sala do professor Klayer, mas sinto uma presença se aproximando e sei quem é.

  - Oi, Unicórnio. Sua irmã está legal? – essa voz eu reconheceria com até quatro mil quilômetros de distância. É Dylan.

  - Oi, e sim, Emma está bem. Provavelmente logo, logo estará em casa bagunçando tudo.

  - Que bom, fico feliz com isso – agora nossos passos são sincronizados, fazendo um baque soar com o contato de nossos sapatos com o chão de granito da escola.

  - Mas e então... – percebo o tom inquieto na voz do loiro – Está tudo certo para sexta?

  Tinha esquecido completamente de sexta.

  Droga!

  - Ah, claro. Depois do meu turno, não é? Como iria esquecer?

  - É que eu pensei que como sua irmã havia sofrido um acidente e ainda está internada, talvez tivesse desistido. Além, é claro, de ter muitas coisas para fazer – sussurra Dylan, parecendo triste com as próprias palavras.

  - Não, óbvio que não. Nosso encontro continua de pé.

  - Então é um encontro? – pergunta agora mais confiante e com um sorriso travesso.

Dúvida Cruel - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora