Capítulo 46 - Dylan

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Uma irmã, um filho e um pai assassino.

   Meu presente de natal deste ano.

   Como posso conseguir ficar bem com tudo isso vindo de uma só vez?

   Não sei como, mas vim parar em um dos bares mais precários da cidade, talvez por ser o mais longe possível do hospital onde Daphne está.

   Sei que eu deveria ser forte como e por ela, mas simplesmente não consigo. Pelo menos não por agora.

   - Por favor, quero um.... Não! Quero 3 copos do seu melhor uísque. Se tiver vodka, também pode trazer – peço assim que me sento em um dos bancos de madeira rústica com um pequeno encosto para as costas que há do outro lado do balcão.

   - Alguém não está tendo um dia muito bom - escuto o barman dizer, mas nem gasto o meu tempo o encarando e respondendo, apenas deito a cabeça entre os meus braços.

    Saber que o meu pai é o culpado pela morte do pai da minha namorada, e agora futura mãe do meu filho, faz a minha cabeça girar sem nem precisar do efeito do álcool agindo no meu corpo.

   Claro que quero ter filhos, mas agora?

   Só tenho 17 anos e acabei de finalizar a temporada de jogos. Nem sequer terminei o último ano da escola ainda.... Por que tudo tinha que acontecer de uma só vez?

   Com toda a certeza a parte que menos me aterroriza é o fato de Emma ser minha irmã, que ao mesmo tempo é minha cunhada.

   Tem como ficar ainda mais estranho tudo isso?

   A minha vida está uma bagunça e não sei como colocar tudo em seu devido lugar – se é que tem.

   - Aqui está – o jovem de cabelo raspado, com porte médio e cheio de tatuagens espalhadas pelo corpo, coloca os copos redondos de vidro a minha frente, me olhando como se estivesse vendo uma criança perdida na área de limpeza de um supermercado.

   - Obrigado – agradeço e viro um dos copos em uma só golada.

   O liquido âmbar desce queimando, mas é o que preciso no momento.

   Esse conforto quente que está no meu estômago talvez me faça esquecer, por enquanto, tudo que está acontecendo.

   - Cara, quer desabafar? Já virei praticamente psicólogo. – diz secando a mão em um pano preto. – Sabe, muitas pessoas vindo espairecer. Às vezes é bom ter com quem conversar.

    - Você não me entenderia.

   - Talvez não, mas esse não é o intuito, e sim você colocar tudo para fora, e não estou falando da bebida junto com o que quer que esteja no seu estômago. – Apenas fico o encarando. Ele não deve ter muitos problemas, parece tão calmo e alheio a tudo... – Me chamo Sky – diz de supetão, abrindo um sorriso convidador.

    O olho com estranheza.

   - Sim, eu sei. Sky. Nada a ver comigo, mas ele está ligado a algo maior que isso – comenta, colocando o copo sujo de uísque que bebi na pia.

   - Ligado? – Questiono, agora realmente curioso.

   Já que é para se embebedar, que seja conversando sobre algo que não me envolva.

   - Minha mãe. Ela morreu quando eu nasci – Sky fala isso como se fosse algo normal e nada dolorido.

   - Nossa cara, desculpa...

   - Por que eu te desculparia? – Ele dá uma risada. – Você não matou ela. Talvez tenha sido eu, mas não me culpo por isso, e sabe o porquê?

Dúvida Cruel - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora