Capítulo 49

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    Primeira semana de janeiro chega e, com ela, os meus pensamentos conturbados.

Saber que fui traída pelo meu namorado com a minha única amiga, me faz sentir raiva dos dois, mas ao mesmo tempo não consigo ligar para tudo isso.

    A única coisa que passa pela minha cabeça, que esteja ligado a Dylan, é o nosso filho, que não tem culpa do pai ser um idiota.

Na verdade, não consigo ficar chateada, decepcionada ou algo do tipo com Dylan.

   Acho que esse namoro já tinha acabado a um bom tempo, se é que um dia chegou a realmente começar.

Mas mesmo assim. Para que me trair?

   Sei que também trai Dylan, mas não chega nem aos pés do que ele fez.

Seria tão mais simples ter terminado tudo o que tínhamos – o que não era tanta coisa assim - antes de me engravidar e dormir sei lá quantas vezes com a minha melhor amiga.

   Evitaria tudo isso e todos estaríamos bem e felizes.

Dylan e Louise estariam juntos a muito tempo, e sem essa de ficar tendo que esconder.

   E eu e Bryan...

Bem, o que sei é que estou disposta a superar tudo isso e seguir em frente.

O dia do espetáculo ainda vive nítido em minha mente, e saber que no dia que, finalmente, iria me formar no ballet, concluir totalmente os nove anos da minha vida dedicados a isso, descubro coisas que preferiria deixar escondido embaixo do subsolo, acaba comigo.

   Não pela situação em si, e sim pelo fato de não ter aproveitado realmente o dia.

Mas entre tudo isso e todas as notícias do dia, a melhor foi a do meu filho.

    Nem sei o que pensar direito sobre isso, só que com o tempo nós dois nos tornaremos a companhia um do outro e é isso que me conforta.

Estamos eu, minha mãe e Emma assistindo algum daqueles programas de transformações – mais elas do que eu -, quando batem na porta.

- Eu atendo. – digo, sendo totalmente ignorada pelas duas loiras concentradas no sofá.

Caminho descalça até a porta e a abro, vendo o carteiro somente com um casaco fino amarelo.

   O inverno está com tudo, e só em abrir a porta a lufada de vento gelado já me fez estremecer, então não sei como ele está aguentando ficar andando e batendo em porta em porta somente com esse casaquinho.

- Entrega para Daphne Price. É você? – Ele pergunta alheio a tudo e indiferente, com o olhar cansado e profundo, me estendendo um envelope comprido e branco, apenas com o verso com letras garrafais em preto.

- Sim, sou eu.

- Você poderia assinar aqui, por favor – indica uma folha com o meu nome e um espaço do lado para ser preenchido. O homem cansado me passa uma caneta.

- Claro.

Pego a folha apoiada em uma prancheta camurça e assino, sem nem ao menos imaginar o que poderia ter dentro do envelope, que pego depois de devolver a folha assinada.

- Obrigado. Tenha uma boa tarde. – O carteiro diz, se vira indo embora, tropeçando em uma montanha de neve que tinha perto da calçada.

Fecho a porta com o pé, já que as duas mãos estão ocupadas tentando abrir o lacre do envelope.

Não me preocupei em ver quem era o remetente, mas depois que consigo enfim pegar o papel que há dentro, fico espantada sem acreditar no que estou lendo.

Dúvida Cruel - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora