Capítulo 35

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  Acordo com um barulho mais alto que o normal vindo do andar de baixo da casa.

  Como eu havia trancado a porta depois de ter chegado do dia incrível que Dylan, Emma e eu tivemos, o que passou pela minha cabeça foi que devia ser Francesca, voltando de longos e incontáveis dias de bebedeira.

Tento me concentrar para voltar a dormir, até porque é madrugada de segunda e hoje tenho escola, trabalho e ensaios do espetáculo de final de ano, mas o barulho insistente continua, só que agora parece ser passos desengonçados de mais de uma pessoa.

  Levanto meu corpo o suficiente para me apoiar em meus cotovelos, e então penso:
"Será que Francesca arrumou algum namorado, pior do que ela, por aí? ".

Fico olhando para todos os lados mesmo estando tudo na escuridão com a pouca iluminação da lua que está nítida e linda lá fora, entrando com seus raios iluminados, mas fracos, pela janela de madeira que há no centro do quarto, de frente para a porta, que está apenas encostada.

  Deixo meus olhos caírem na cama ao lado. Emma dorme calma, serena e quieta. Me disperso em seus cachos louros, que se tornam dourados com a luz que bate, só que logo minha atenção é tirada dali quando escuto uma voz dizendo algo que não entendo, e então a voz repete:

- Daphne!

Tento distinguir aquela voz, até que ela diz novamente.

- Daphne! Desça aqui. – Reconheço e confirmo as minhas suspeitas.

  É Francesca.

Mas o que não sai da minha cabeça é o porquê de ela estar me chamando lá embaixo.

  Então, por via das dúvidas, empurro o fino lençol que me protege do vento nem tão gelado que entra pela janela nessa noite de verão, para o lado. Jogo minhas pernas para fora da cama, respiro fundo e levanto, dando uma última olhada em Emma que dorme profundo.

Começo a descer as escadas, pela primeira vez, sem correr, bom, pelo menos não até a metade dos degraus, quando olho para a sala e vejo Francesca tentando arrumar Bryan em nosso sofá.

  Começo a pular de dois em dois degraus, ignorando a temperatura gelada da madeira que está em contato com os meus pés descalços.

- O que aconteceu com ele? – pergunto, me jogando ao lado de Bryan que agora está meio deitado/sentado no sofá, com os olhos quase fechados. O cheiro que vem dele reconheço bem.

   Álcool.

- Não sei. Achei ele jogado em uma das ruas do Brooklyn. Estava voltando para casa e o encontrei na calçada, quase desmaiando e, querendo ou não, ainda tenho coração, ao contrário do que você pensa, então vim o arrastando de lá até aqui – Francesca responde e aquilo quase me deixa de boca aberta, mas isso só não acontece pelo fato de ouvir Bryan murmurando, ou melhor, tentando dizer alguma coisa que não embolasse na sua língua.

- Daph...

- Ah Bryan... O que você pensou que estava fazendo indo beber, ainda mais tão longe? – pergunto, agora passando a mão em seus cabelos desgrenhados, mas mesmo assim tão lisos e pretos quanto uma pérola negra iluminada por uma vela.

- Eu precisava te esquecer – diz, agora com os dois olhos, assim como o cabelo, tão negro quanto a escuridão que invade a noite, me olhando fixamente, quase como se estivesse sóbrio e me desafiando para algo.

  Como fazia antigamente.

- Ele realmente bebeu muito – comenta Francesca, ao nosso lado, observando toda aquela cena de perto.

Dúvida Cruel - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora