03 - A garota dos olhos de esmeralda

2.2K 126 94
                                    

Perplexidade talvez fosse a palavra certa para resumir o que estava estampado no rosto de todos os que esperavam por uma violenta pancadaria. Isso porque eu, simplesmente, bloqueei o punho de um grandalhão numa velocidade completamente anormal, após o filho da mãe tentar acertar a Sophia.

O refeitório ainda estava em extremo silêncio enquanto eu fazia força para segurar a mão do valentão. Mas logo voltaram a gritar:

- Briga! Briga! Briga!... - Estava evidente que a briga era mais importante do que o meu movimento incrível, por mais extraordinário que tenha sido. Por mais assustador que tenha sido.

O braço daquele cara estava pesando. Para piorar, enquanto eu segurava seu soco, o loiro (o outro grandalhão) se preparava para me atacar pela lateral, fazendo o meu sangue gelar.

- Pare com isso, Júlio! – Uma voz firme ecoou por todo o refeitório, calando a multidão quase que instantaneamente. Reconheci que era o diretor, que aparecera do nada por entre os alunos, também entrando no ringue humano.

O homem era branco, alto, jovem e sério, possuindo olhos negros que pareciam bem experientes. Suas sobrancelhas eram finas e os seus cabelos bem arrumados. Vestia, por cima de uma camisa branca, um terno risca-de-giz preto bem passado, e ele usava uma gravata bonita, azul-escuro com listras diagonais pretas. Sua voz era a de um homem realmente autoritário.

Finalmente a barulheira parou; agora estavam todos em extremo silêncio, atenciosos.

- S-senhor diretor? - Júlio mostrou-se assustado, portanto recolheu o braço sem pensar duas vezes, assim como o parceiro. – E-eu... eu posso explicar.

- Ah, claro que pode. Mas lá na minha sala. – Os alunos estavam assustados, observando a cena com receio.

Natsuno aproximou-se do diretor com certo respeito e disse, quase implorando:

- Senhor diretor, não me leva, por favor, eu só estava defendendo o meu amigo desses... caras. – Ele provavelmente iria dizer outra palavra, desistindo no último instante. – Eu sei que já fiz muita burrada, como encher o banheiro feminino de papel higiênico molhado, mas dessa vez eu juro, não fizemos nada.

- Não se preocupe, garoto – o diretor o cortou, sem sequer lhe dirigir o olhar. Encarava apenas os grandalhões, um a um. - Conheço bem esses três.

Ele deu uma leve olhada para mim - o que me provocou arrepios, pois seus olhos mudaram para um vermelho vivo – e depois deu meia volta e seguiu em direção à diretoria, levando consigo os três valentões, que ainda nos fuzilaram com o olhar antes de acompanhá-lo, como se quisessem dizer que estávamos mortos; os alunos abriam passagem rapidamente.

Finalmente, a multidão começou a se desfazer. E então eu levei um susto.

- Eu estou de olho em você! - advertiu Abigail, com o seu nítido tom ignorante e sua cara terrivelmente aterrorizante. – De olhos bem abertos!

- Hã, tá – eu disse no automático, pego de surpresa. Chegou atrasada, senhorita Abigail, era o que eu realmente queria dizer. Mas ela não me deu mais atenção e caminhou em direção à diretoria, provavelmente para acompanhar a conversa do diretor com os três grandalhões.

Essa mulher é um pouquinho estranha, pensei.

Bateu o sinal e todos voltaram para as suas respectivas salas, subindo a escada que levava aos andares superiores, enquanto eu ainda observava os valentões acompanhando o diretor, pensando na sensação que sentira perto deles - e perto do diretor também.

Caçador Herdeiro (1) - Vento Sufocante | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora