Perplexidade talvez fosse a palavra certa para resumir o que estava estampado no rosto de todos os que esperavam por uma violenta pancadaria. Isso porque eu, simplesmente, bloqueei o punho de um grandalhão numa velocidade completamente anormal, após o filho da mãe tentar acertar a Sophia.
O refeitório ainda estava em extremo silêncio enquanto eu fazia força para segurar a mão do valentão. Mas logo voltaram a gritar:
- Briga! Briga! Briga!... - Estava evidente que a briga era mais importante do que o meu movimento incrível, por mais extraordinário que tenha sido. Por mais assustador que tenha sido.
O braço daquele cara estava pesando. Para piorar, enquanto eu segurava seu soco, o loiro (o outro grandalhão) se preparava para me atacar pela lateral, fazendo o meu sangue gelar.
- Pare com isso, Júlio! – Uma voz firme ecoou por todo o refeitório, calando a multidão quase que instantaneamente. Reconheci que era o diretor, que aparecera do nada por entre os alunos, também entrando no ringue humano.
O homem era branco, alto, jovem e sério, possuindo olhos negros que pareciam bem experientes. Suas sobrancelhas eram finas e os seus cabelos bem arrumados. Vestia, por cima de uma camisa branca, um terno risca-de-giz preto bem passado, e ele usava uma gravata bonita, azul-escuro com listras diagonais pretas. Sua voz era a de um homem realmente autoritário.
Finalmente a barulheira parou; agora estavam todos em extremo silêncio, atenciosos.
- S-senhor diretor? - Júlio mostrou-se assustado, portanto recolheu o braço sem pensar duas vezes, assim como o parceiro. – E-eu... eu posso explicar.
- Ah, claro que pode. Mas lá na minha sala. – Os alunos estavam assustados, observando a cena com receio.
Natsuno aproximou-se do diretor com certo respeito e disse, quase implorando:
- Senhor diretor, não me leva, por favor, eu só estava defendendo o meu amigo desses... caras. – Ele provavelmente iria dizer outra palavra, desistindo no último instante. – Eu sei que já fiz muita burrada, como encher o banheiro feminino de papel higiênico molhado, mas dessa vez eu juro, não fizemos nada.
- Não se preocupe, garoto – o diretor o cortou, sem sequer lhe dirigir o olhar. Encarava apenas os grandalhões, um a um. - Conheço bem esses três.
Ele deu uma leve olhada para mim - o que me provocou arrepios, pois seus olhos mudaram para um vermelho vivo – e depois deu meia volta e seguiu em direção à diretoria, levando consigo os três valentões, que ainda nos fuzilaram com o olhar antes de acompanhá-lo, como se quisessem dizer que estávamos mortos; os alunos abriam passagem rapidamente.
Finalmente, a multidão começou a se desfazer. E então eu levei um susto.
- Eu estou de olho em você! - advertiu Abigail, com o seu nítido tom ignorante e sua cara terrivelmente aterrorizante. – De olhos bem abertos!
- Hã, tá – eu disse no automático, pego de surpresa. Chegou atrasada, senhorita Abigail, era o que eu realmente queria dizer. Mas ela não me deu mais atenção e caminhou em direção à diretoria, provavelmente para acompanhar a conversa do diretor com os três grandalhões.
Essa mulher é um pouquinho estranha, pensei.
Bateu o sinal e todos voltaram para as suas respectivas salas, subindo a escada que levava aos andares superiores, enquanto eu ainda observava os valentões acompanhando o diretor, pensando na sensação que sentira perto deles - e perto do diretor também.
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Caçador Herdeiro (1) - Vento Sufocante | COMPLETO
AdventureLivro 1 da saga CAÇADOR HERDEIRO. Se, por ventura, seu sonho é ser um Caçador de Vampiros ou algo do tipo eu logo aviso: não é a melhor coisa que há nessa vida, pois você pode se dar muito mal... Parece ironia, mas é a mais pura verdade. A propósito...