Quinta-feira.
O despertador me acordou exatamente às seis da manhã.
Mas não era o rádio despertador que ficava no criado-mudo ao lado da cabeceira da minha cama, e sim o Billy latindo! O cachorrinho latia tão alto que, provavelmente, acordara a casa inteira. Assim que viu que meus olhos se abriram, ele saltou em cima de mim e lascou uma lambida no meu rosto. Eu passei minha mão sobre sua cabeça, bocejando.
- E aí, amigão.
Billy latiu em alegria. Karen colocara uma casinha de madeira no meu quarto, junto ao guarda-roupa, onde o cãozinho dormira confortável.
Eu me levantei e fiz a mesma rotina de sempre, percebendo que o cachorro realmente acordara todo mundo. Não pude controlar o riso.
Quando saí para ir à escola, algo surpreendente: Riku estava me esperando em frente à minha casa.
- Riku? – eu obviamente estranhei, fechando a porta atrás de mim e descendo os dois degraus que levavam à calçada.
- Vamos ou não? – disse ele, me olhando com desinteresse; não tive nada a fazer a não ser assentir, dando de ombros.
E mal começamos a caminhar quando Riku abriu a boca:
- Diogo, meus pais não morreram em um acidente de carro.
- Isso eu já sabia – respondi, lembrando o dia em que nos falamos no parque, o dia do "aviso para não entrar em seu caminho durante sua caça ao Jake". – Você disse que eles haviam sido atacados por vampiros.
- Era mentira.
De imediato eu fiquei surpreso.
- Mentira? Como assim?
O rosto sereno do Riku levava um leve tom de amargura. Ele explicou, com a sua voz firme e tranquila:
- Tínhamos um grande amigo por perto. Ele sempre nos visitava e tratava meus pais muito bem. Não sei bem onde se conheceram, mas eram próximos há bastante tempo. Porém, esse mesmo amigo que apoiava minha família nos momentos mais difíceis, nos ajudava nas dificuldades e horas ruins, é o mesmo amigo que os assassinou.
Essas palavras me provocaram um choque muito grande.
Então quer dizer que os pais do Riku foram assassinados por um homem que dizia ser amigo deles? Isso com certeza era uma baita covardia. E não deixei as dúvidas crescerem na minha mente.
- Mas qual foi o motivo de isso ter acontecido? – perguntei, procurando encarar Riku nos olhos; ele apenas olhava para frente, como se me ignorasse. Mas ele não ignorava, era apenas aparência. Riku era completamente diferente do que demonstrava.
- Eu não sei – essa resposta saiu com firmeza e ira. – Ele invadiu a nossa casa e nos atacou. Matou o meu pai, que era um homem muito forte, e em seguida a minha mãe. Consegui fugir, mas... me arrependo disso.
Percebi que o garoto solitário possuía, agora, um olhar trêmulo, como se estivesse com vergonha de si mesmo e raiva do assassino ao mesmo tempo. E ele fazia de tudo para não demonstrar seus sentimentos. Ainda assim eu sentia na pele seu sofrimento.
- Eu deveria ter ficado lá e ter lutado! – ele lamentou, assumindo, pela primeira vez, uma expressão furiosa. – Mas fugi como um rato, deixando os meus pais morrerem...
- Se você tivesse ficado, poderia estar morto agora – tentei consolá-lo, voltando a olhar para a frente.
- Eu preferiria assim. Minha vida não tem mais tanto sentido. Perdi meus pais, meus únicos bens. Agora só me resta honrá-los... – Ele olhou para o chão ao seu lado, desviando o olhar, como se quisesse esconder seu rosto de mim. Um rosto puramente amargurado.
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Caçador Herdeiro (1) - Vento Sufocante | COMPLETO
AdventureLivro 1 da saga CAÇADOR HERDEIRO. Se, por ventura, seu sonho é ser um Caçador de Vampiros ou algo do tipo eu logo aviso: não é a melhor coisa que há nessa vida, pois você pode se dar muito mal... Parece ironia, mas é a mais pura verdade. A propósito...