07 - O falso vampiro

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Meu pai estacionou o carro na garagem e saímos do veículo, entrando em casa pela porta que dava na sala. O cheiro maravilhoso de carne pairava por todo o ambiente, e eu fiquei com receio de ir à cozinha; minha mãe preparava o almoço.

- Oi, mãe. Cheguei.

Ela me lançou um olhar intimidador, olhos pretos que fizeram eu sentir calafrios na barriga.

- Bonito isso, né? Posso saber por que você fugiu da escola?

Eu fiquei sem saber o que responder. Não podia simplesmente dizer "Ah, mãe, um vampiro tentou me atropelar de moto em pleno corredor, então eu o segui até a cidade. Depois ele fugiu de mim pulando para o alto de um prédio, dizendo que era só o começo". Ela não acreditaria, ou acharia que eu estava ficando psicótico.

- Um grupo de garotos estava ameaçando o Diogo na escola – respondeu o meu pai, ainda abalado com a morte do Cláudio, algo que passou desapercebido pela minha mãe, que tinha a atenção voltada para mim.

Olhei pra ele. Não era a melhor resposta do mundo, mas me livraria de uma explicação que teria que ser convincente – muito embora houvesse outro grande problema: a escola.

Havia fugido de lá sem nem mais nem menos, e seria uma coisa chata tentar me explicar. Haveria testemunhas negando se no caso eu desse essa mesma resposta que meu pai deu à minha mãe.

- O que você fez dessa vez, filho? – minha mãe continuava brava. – Será que não consegue ter uma semana de aula tranquila? Esses garotos... não os machuque, pelo amor de Deus.

- Relaxa, mãe – eu disse, porque era possível imaginar o que se passava em sua cabeça. Na outra escola, como precisava defender o Henrique dos caras folgados, eu havia me metido em tantas brigas que alguns professores consideraram a ideia de me mandar para uma academia de lutas, ao invés da diretoria. – Meu pai já resolveu, hã, o problema.

Não totalmente satisfeita, Sara voltou a fazer o almoço, enquanto meu pai e eu nos dirigíamos à sala.

Sentei no sofá menor e meu pai no maior. Ele ligou a TV pelo controle, deitando em seguida, provavelmente pensando no Cláudio – e na forma que o encontramos. Estava passando um noticiário dizendo que havia morrido uma pessoa misteriosamente essa noite, cujo corpo foi encontrado muito pálido numa das ruas da cidade de Honorário, e no corpo de delito o resultado deu falta de sangue. No jornal dizia que o morto teve Leucemia, mas meu pai e eu sabíamos que não era bem a resposta certa.

As inscrições!, eu me lembrei num pulo. Hoje teria as inscrições para o campeonato da escola e, se eu não assinasse a lista, não poderia participar. Olhei para o relógio: dez e quarenta e sete. Daria tempo de eu chegar lá e assinar de boa; o problema seria dar a tal explicação.

- Pai, temos que ir à minha escola.

- Por quê?

Expliquei que teria de assinar a lista. Ele pegou o carro na garagem e tomamos o rumo do colégio Martins, onde entramos pela lateral leste, na ala da secretaria. Era uma entrada para um corredor largo e curto que terminava numa parede com uma espécie de janela protegida com barras de ferro, como se fosse uma cela de prisão. Ao lado da janela, uma porta trancada que levava à sala dos arquivos, a julgar pelas prateleiras abarrotadas de papéis no interior do cômodo.

- O que desejam? – perguntou uma das secretárias, por detrás da janela. Ela era feia, branca, cabelos pretos, usava óculos de grau elevado e tinha aparelho nos dentes, com brackets rosa-choque. Eu até me assustei quando a vi. Seria filha da senhorita Abigail?

Caçador Herdeiro (1) - Vento Sufocante | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora