Uma história traumatica

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Depois de tudo aquilo que havia passado pela minha cabeça ontem, eu ainda sim consegui ter uma boa noite de sono. Praticamente eu nem queria me levantar da cama. Estava babando e os lençóis estavam todos bagunçados ao mesmo tempo em que estava esparramada na cama.

Minha cama e eu estávamos nos entendo bem, até o meu despertador tocar. Um barulho irritante, simplesmente para me lembrar que diferente de qualquer adolescente normal, eu tenho horário para acordar nas férias. Morar sozinha nessas horas (assim como em muitas situações como essa) não é nada mais nada menos que uma merda.

Levantei e fui para o banheiro tomar banho. Cheguei no meu quarto e fui me vestir. A escolha? Uma camiseta de um coelho devorando uma cenoura, quanto a ilustração na camiseta era do estilo desenho animado mesmo, mais uns shorts acima dos joelhos e um tênis preto.

Penteei meu cabelo e fui para a cozinha. Fiz o café, lavei a louça, depois eu fui arrumar o jardim e por aí vai. O relógio marcou exatamente uma hora da tarde. Me deitei no sofá, fechei meus olhos por cinco segundos e no mesmo instante me levantei. Tinha esquecido de algo bem importante.

"Ah, não o livro, eu ainda nem li! O Rex vai me matar!"

Saí correndo, subi as escadas e fui para o meu quarto. Abri a porta, e me deparei com os livros empilhados. Embaixo estava o livro que Rex me fez pegar, e em cima o livro que Deny me emprestou. Peguei o livro debaixo do de Deny.

"Transmuto...Transmuto...onde será que...Ah! achei página 120."

Abri o livro. Lá estavam assuntos que eu nem imaginava que um dia eu teria que ler.

"Uma introdução básica para ninguém ficar perdido.

Todos os animais após a morte dos humanos, sofreram de alguma forma uma evolução extremamente acelerada, cuja as causas até hoje são desconhecidas. Após esse acontecimento ocorreram mudanças drásticas na cultura e obviamente na natureza. Os herbívoros se uniram, fortes e fracos, grandes e pequenos, todos juntos, para vir de encontro à um bem maior: sua própria salvação; e os carnívoros, que devido a seus orgulhos e desavenças entre si, jamais conseguiram tal feito.

Com essa evolução também vieram "dons" e "maldições". Os "dons" pois os animais ainda eram capazes de fazer tudo o que faziam antes de sua evolução, era como se não tivessem mudado; eram humanos por fora, mas continuavam os mesmos de milhões de anos atrás. Suas formas não eram verdadeiramente aquelas de seu exterior, eram apenas "ilusões" (até porque, não importa o quanto pesquisaram, ninguém descobriu o motivo para isso ou o que o ocasionou). Podiam também se transformar de novo em seu "animal interior" porém, tinham tendência a perder seus objetos e ou rasgar suas roupas no processo. Podiam se reconhecer apenas olhando nos olhos uns dos outros, ou pelo olfato.

E às "maldições" pois junto com esse "progresso" houve o grande aumento na população de ambos, os carnívoros começaram a ter uma reprodução muito mais acelerada, pois antes de tudo isso, surgiu uma nova junção das placas tectônicas em um super continente denominado "mundus" que significa literalmente mundo em latim. Ao final de tudo, nada havia mudado para eles.

Eles decidiram misturar as tecnologias, humana e animal. Digamos...que se as coisas já estavam ruins, agora estavam piores. Esta tecnologia era um objeto que podia ser usado no corpo, e funcionava de acordo com duas amostras de sangue, uma do usuário (ou no caso portador) e a outra do animal com o qual desejava se parecer, a do portador em um pequeno espaço vermelho e outro no azul. O objetivo delas eram às caçadas, mas esse novo método consistia em três passos: 1° encontre uma presa, 2° se infiltre entre eles e espere e 3° no momento certo ataque e então Bona Petit. "

- Meu Deus...- Aquele era o fim da página. Tinham algumas figuras, que ilustravam as ideias no livro. Passei para as páginas seguintes.

" Tudo ia bem, entre esses novos seres...faziam sucesso, e como a economia entre os carnívoros e herbívoros era diferente, (apesar de possuírem a mesma moeda) eram comprados e vendidos aos montes por um preço muito mais barato que nossas lojas venderiam. Fez tanto sucesso que os usuários ganharam um nome: Transmuto, enquanto as tecnologias apenas recebiam o nome de aparelhos ou apenas tecnologias.

O trabalho era "rápido" e podia ser no máximo na metade de uma hora, mas apesar da demora, possuía muitas vantagens: não haviam arranhões, coisas não eram quebradas e claro não tinham que encarar uma multidão apavorada, (o que os atrapalhava bastante) muito menos uma enfurecida. Tudo o que era preciso era escolher uma presa, ganhar sua confiança rápido, leva lá para um local afastado...e o resto nem preciso dizer.

Foi então que os herbívoros ficaram sabendo dos ataques, e consequentemente dos transmutos também, passaram então a ter mais cuidado, mas mesmo assim os transmutos não desistiram. Suas caçadas que antes no máximo eram de trinta minutos, passaram a ficar mais longas a cada dia. E a partir de quando dava uma hora com o aparelho eles sentiam dores: se eram carnívoros grandes e se transformavam em animais pequenos, se sentiam sendo comprimidos, e se fosse o contrário, se sentiriam sendo esticados.

O tempo e a proximidade entre os mundos só ia tornando isso pior para ambos os lados. Os transmutos de tanto usarem ficaram com mais um efeito colateral: perda da razão, o que é isso? Você me pergunta, eis aqui sua resposta: Todos os animais têm instintos, que segundo os humanos são reflexos, e coisas desse tipo que fazemos inconscientemente, mas isso não é bem verdade. Instintos são na verdade desejos, reflexos e coisas mais, que tentamos controlar, mas devido ao fato de serem reprimidos, acabam "saindo" e sendo realizados contra a vontade, quanto mais forte for.... maior perigo, maior vontade, etc. mais forte é o instinto. Ficou mais difícil de controla-los, pois agora além de sua própria voz interior, existe outra que é o animal da tecnologia.

Enquanto os usavam durante um bom tempo, iam esquecendo de seus objetivos, e ficavam pensando de acordo com seu "animal interior". Isso era tão forte, que era capaz de fazê-los: terem amizades, se apegaram fortemente a pessoas em seu meio e até fazer com que se apaixonassem."

- Se apaixonar? - Perguntei, não sabendo se tinha sido para o livro ou para mim mesma. Os carnívoros eram muito ligados as suas tradições. Cada espécie tem suas tradições que são tudo aquilo que é seguido à risca pela sociedade, e quando não é praticado...BOOM! O mundo "explode", se é que você consegue me entender bem. Suas tradições sempre tem a ver com isolamento, solidão,  lutas e a geralmente fazer tudo sozinho na maior parte do tempo,! se não por toda a vida. Não tendem a construir famílias, pelo menos não em geral, muito menos se apaixonar...Mas, quem sou eu para julgar alguém por seus padrões? Voltei de meus devaneios e continuei a ler.

"Cada vez mais iam perdendo a razão e esses seus estranhos comportamentos sempre acabavam em desastres. Como assassinatos, genocídios e coisas piores como suas próprias mortes, sendo por culpa, por matar quem amavam inconscientemente ou por terceiros.

No fim foi tomada uma medida pior: As revoltas; o relacionamento entre animais diferentes sempre foi algo visto de forma anormal e bizarra, principalmente entre presas e predadores...Porém agora não seria mais tolerado. Agora era visto como ato de traição a própria espécie, e quem o cometesse seria morto podendo ser junto ou não de seu parceiro, no entanto de um jeito ou outro teriam que ser sacrificados.

Isso foi a muitos séculos atrás, não ouso dizer quando pois os registros referentes as datas foram queimados e apagados. Ninguém gosta de lembrar dessa história, por isso deixarei assim mesmo."

Era o fim do assunto "Transmuto". Não tinha absolutamente mais nada...e algumas coisas que os rapazes tinham dito nem apareceram no livro...então como eles sabiam disso? Será que Rex conseguiu perceber coisas que eu não consegui?

Tirei isso da cabeça e me acalmei, tinha que devolver o livro do Deny. Então pus me a ler. Abri o livro e continuei de onde parei.

···

Acabei as quatro horas da tarde. Sem nada para fazer, fiz o que sempre faço: sair de casa.

A Filha Do CaçadorOnde histórias criam vida. Descubra agora