Jogada na cama, eu continuava a pensar nisso. O pior de tudo isso era que ele morava perto (éramos praticamente vizinhos). Pensando nisso o que eu faria se desse de cara com ele depois disso?
"Ah. Oi? Eu vi você devorando um animal. Mas deixando isso de lado, como você está?"O que eu iria dizer? Como eu iria poder olhar pra ele depois daquilo? Como eu pude me esquecer de uma coisa importante dessas? Idiota!
Era impossível pensar nessas coisas sem pensar na minha família. Meu pai, minha mãe...meus vizinhos, meus colegas, meus amigos, como se sentiriam se soubessem que eu os estava traindo?
"Amizades ou relações entre presa e predador, são considerados atos de traição. E toda traição deve ser punida. Sua pena: sacrifício!"
Era isso o que tinha no livro. Era isso que me diziam. E foi isso que eu ouvi minha vida toda. Eu estava tão confusa agora. Como pude considerar criar laços com alguém desse jeito, sem jamais levar em consideração nenhuma dessas coisas?
"Encare os fatos Shuzuhara Nay. Por mais perturbadores que pareçam. Você não pode deixar de falar com alguém por conta de sua cultura e crenças. Principalmente se o indivíduo em questão for um amigo seu. Você começou, sendo assim você termina!"
Minha mãe sempre me dizia: "Você começou, sendo assim termine!" Era isso que ela dizia para mim e meus irmãos quando queríamos desistir de algo por algum motivo.
Apesar de estar com medo, não posso mandar ele embora. Vamos ser racionais por um momento: Até porque se ele quisesse me matar, já teria feito isso.•••
Precisei ficar em casa por alguns dias. Estava cansada, e tudo que eu queria era ficar em casa. Comer pipoca, ver filmes, séries, ler livros e tantas outras coisas. Não tinha feito isso desde que conheci os dois dês (Deny e Death). Fiquei jogada no sofá. Usando roupas longas e confortáveis. Via alguns programas, enquanto ficava comendo um sanduíche (gigante para variar).
Fui pegar um suco de morango na geladeira. Quando abri a porta, vi que estava vazia. Lembrei então que eu não tinha feito nenhum suco, porque eu não tinha ido atrás de morango nenhum. Lá vou eu procurar morangos no meio do nada.
•••
Fui até o mercado que ficava na cidade.
-Com licença senhora- perguntei a mulher da barraca-, pode me dizer o preço?
Ela me olhou dos pés à cabeça. E se virou, me respondendo, sem nem mesmo olhar para mim.- Sete ouros garota. - Me espantei quando ouvi isso. Como assim sete? Antes nem chegava a cinco.
-Sete? Mas antes nem chegava em cinco.
-São os negócios. - falou para mim, enquanto cruzava os braços e me olhava feio. Franziu a testa, e fazia uma cara bem furiosa e impaciente.
-Vai comprar ou vai ficar me fazendo perguntas? Vamos menina. Isso não é interrogatório não. Ou compra ou chispa pirralha. - Era meio óbvio que o dia dela não tinha começado bem.
Respirei fundo, me controlando para não fazer nada. O pessoal dessa cidade era mesmo estressado. No entanto eu não tinha direito de dizer nada. Mesmo porque fui eu quem fui na barraca dela. E talvez eu tivesse sido um pouco inconveniente.
Suspirei. Como vi que isso não iria levar a lugar nenhum, simplesmente peguei os morangos e fui embora.Fiquei ali segurando a minha sacola cheia de morangos. Levando as até em casa.
De repente fico tensa e congelo. É ele. Death estava à alguns metros a minha frente, mas parecia não me ver. Comecei a andar rápido para uma outra direção; procurando alguma forma de ir pra casa sem ter que falar com ele.
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A Filha Do Caçador
Mystery / ThrillerNay é uma garota com uma vida aparentemente comum, mas ela tem um segredo... Obs: Este livro contem linguagem imprópria e diversos tipos de violência. Você foi avisado.