Terapia de Risco - CAMREN

Algo espontâneo

Este é com certeza, sem sombra de dúvidas, o trabalho mais entediante que eu ou qualquer outra pessoa já ouviu falar. Claro, eu já sonhei em ser uma cantora, cantando em todos os barzinhos chiques e pubs alternativos em Nova York, fumando todos os cigarros que eu queria em segredo. Mas então minha mãe foi lá e me mandou ter uma vida real, de gente de verdade... então eu fui lá e arrumei uma. Que vida ein! Lauren Jauregui, jovem, deslumbrante (é o que me dizem né), respondona demais para o próprio bem, e ainda assim estou aqui na grande cidade trabalhando num departamento de suporte técnico para uma empresa horrível, onde passo a maior parte do tempo atendendo ligações de velhas senhorinhas que até hoje não fazem ideia de como ligar a porra de um computador, e muito menos criar sua própria conta de internet fixa ou, por tudo que é mais sagrado, saber como se faz uma simples verificação com anti-vírus. Se as pessoas não fossem tão burras eu nem teria um emprego, então eu não posso reclamar tanto assim não é?

Eu me casarei em três meses. Meus pais estão até pagando pelo casamento. Eles estão felizes que eu estou casando com o cara que eu namorei nos tempos de escola, o grande amor da minha vida. O único amor da minha vida. Brad é fofo, simpático e sociável - praticamente o meu maior oposto na vida, e ainda assim, nós dois conseguimos fazer funcionar. Ele me faz rir e é um cara realmente doce, e de acordo com meus amigos (não que eu tenha muitos), ele é um tipo raro, pra casar... então quando ele se ajoelhou à minha frente na calçada da Domino's bem depois de gente comer a pizza tradicional dos sábados a noite, eu disse sim.

Mesmo assim, eu não está lá muito animada com isso, nem mesmo um pouquinho.

Na verdade, eu ando meio que deprimida. Talvez seja o trabalho, a monotonia de uma rotina que não muda nem um pouquinho no dia-a-dia, ou talvez seja Brad. Eu não tem ideia, mas eu nunca me senti tão velha, e apesar de só ter 25 anos de idade, já me sinto como se tivesse completando 50. Meu tempo de escola foi provavelmente o mais interessante que minha vida poderá ter. Eu ficava bêbada vez ou outra, aprendia coisas novas, porra, eu até dei uns amassos com uma menina uma vez... Agora eu estou me acomodando (ou pelo menos acho que estou), mas mesmo assim não consigo me livrar desse sentimento de vazio no coração e na cabeça. Eu não estou muito satisfeita com os rumos que minha vida está tomando, e o pensamento de um futuro só me assusta cada vez mais.

A vida está avançando muito rápido.

É hora do almoço e como qualquer outra pausa para almoço no trabalho, eu estou em uma das mesas do Starbucks, porque eu simplesmente não consigo ficar sem café no escritório, e muito menos em qualquer outro lugar do prédio, além do fato de que eu sempre encontro minha amiga Ally aqui. A loira é inteligente, articulada e trabalha com advocacia, então ela fantasticamente possui mais histórias horríveis relacionadas ao trabalho para compartilhar do que eu, então nós estamos no mesmo barco. Mais ou menos. Ela é uma mãe solteira criando uma menininha sozinha, e mesmo eu não falando isso muitas vezes, eu meio que admiro ela.

Ela está olhando para mim sentada no outro lado da mesa; o vapor quente saindo lentamente do cappuccino dela, enquanto ela me analisa como se soubesse que algo está errado. Ela me conhece melhor do que eu mesma, mas né, esses dias mesmo eu ando me questionando se eu realmente me conheço minimamente.

Eu descanso meu próprio café na mesa fazendo um suave barulho enquanto a lanço logo um olhar impaciente.

- ''Eu sei que você está se coçando para dizer algo Ally, então fala logo! Eu odeio quando você fica toda estranha e quieta assim, me faz pensar que você é uma assassina ou algo do tipo.'' Eu digo rápido, me sentindo desconfortável com o silêncio longo.

- ''Eu só estava pensando'' Ela sorri um pouco, tomando mais um gole de seu café. ''No que você e Brad querem de presente de casamento.''

- ''Oh'' eu suspiro, incapaz de não demonstrar meu desapontamento. Eu realmente não me importo. Esse é com certeza um dos últimos tópicos que eu desejo conversar sobre. O que tem de tão importante em casamentos mesmo? Eu só quero que o dia passe logo para que tudo acabe e as pessoas não tenham mais que ficar tocando no assunto novamente.