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Chace me levou para o fundo da floresta. Não nos falamos enquanto caminhávamos. Fingi tirar carrapichos grudados em meu moletom para não ter de encará-lo.

Ele era lindo. Apesar de estar enraivecida, não dava para negar - e não dava para esquecer ambas as vezes em que ele aqueceu minha cama. O quanto o imaginei sem aquelas roupas...

E comprovei o que já sabia dois dias atrás.

Corei com a lembrança, a qual preencheu minha mente e tive a impressão de ele estar vendo-a comigo.

Chace soltou uma risada abafada, deixando-me confusa.

- O que foi? - indaguei, percebendo que era a primeira vez que falava desde que fora atacada.

- Estou, hum, lendo seus pensamentos.

Arregalei os olhos, ficando três vezes mais vermelha.

- E adorando.

Desviei o olhar para um esquilo, que saltara de um galho para o outro. De repente aquilo se tornara interessante.

Estava tão ocupada lembrando-me dele pelado em cima de mim que sequer imaginei a seguinte situação. Sabia, claro, mas não me lembrava, e por que me lembraria? Que merda.

Chace indicou um caminho diferente, e vi um veado farejando o chão atrás de um tronco enorme caído.

- Você quer que eu me alimente do Bambi? - Ergui as sobrancelhas, surpresa.

Ele revirou os olhos.

- Não. Quero que você me ataque. - Replicou.

Mostrei o dedo do meio para ele. Chace se virou para o Bambi, resmungando algo que parecia começar com "mal" e terminava com "comida".

- Como disse? - Estreitei os olhos, cruzando os braços diante do peito.

- Hum... Nada - apertou os lábios com força, reprimindo uma risada.

Mandei-o à merda e caminhei até o tronco, mas parei no meio do caminho quando o veado ergueu a cabeça.

Não sei como você não nos notou aqui antes, pensei.

- Então... Você vai fazer isso ou...?

- Não, imagine. Faça para mim - juntei as mãos como em oração, quando na verdade soprei o ar quente para aquecê-las.

Chace apertou os olhos.

- Não entendo porque está com tanta raiva de mim.

Pisquei, esfregando as mãos uma na outra.

Como é que é?

- Como é?

- Ah, fala sério! Isso não é a pior coisa do mundo! Ele não vai acabar porque você descobriu que somos vampiros! - Ele ergueu os braços, impaciente. - Por que está com raiva de mim?

Pisquei novamente, verdadeiramente confusa.

- Não estou com raiva de você - expliquei -, só não quero atacar o Bambi. - Indiquei o veado com o queixo, que nos observava, atento.

Chace franziu a testa.

- Escuta, estava pensando em você pelado, então estou com raiva de você? - Fitei-o.

Seus lábios se repuxaram devagar para cima em um sorriso.

- Peraí - estreitei os olhos e ergui a palma da mão, como se dissesse pare -, não te elogiei.

- Sim, elogiou - ele se virou, passando a mão pela boca para tentar diminuir o sorriso.

Filho da mãe.

Aproximei-me do tronco, sentindo que o veado se sentia ameaçado. Andei com cautela até onde Chace estava.

Bambi deu um passo para trás.

- Escute, você correu bem - enrijeceu o rosto, lutando contra uma gargalhada. - Quero que faça o mesmo, porque pode ter certeza de que esse bicho vai tentar cansá-la.

Observei os dois, sem conseguir ver muita diferença.

- Hahaha. Engraçadinha - balançou a cabeça. - Você entendeu?

- E se eu bater com a cara em uma árvore? - Minha gengiva ainda latejava.

- Tenha precisão, e uma noção do caminho que você vai percorrer. Conhece Portland. E é só segui-lo.

Assenti. Não queria atacar mesmo aquele animal. Nem qualquer outro - talvez Chace.

Chace leu meu pensamento, mas quebrei um galho propositalmente com o pé e observei o veado correr entre as árvores em uma tentativa de escapar. Quando comecei a segui-lo à velocidade da luz, pensei em desviar - sei lá, ir por um caminho diferente. Daí me lembrei que Chace está logo ali atrás e que preciso urgentemente de ajuda, e que não será um médico-cirurgião ou um especialista a me tirar desse inferno.

Ou pelo menos cessar isso tudo.

Como Chace havia dito, não era algo difícil. E aquele veado não passou de setenta metros.

Hesitei em atacá-lo. Não sabia fazer aquilo e como fazer. Precisava de um incentivo, ótimo, mas que incentivo?

Ele manteve as patas distantes uma da outra, ameaçando correr para um lado sendo que iria pelo outro. Chace se aproximava, e seu cheiro me perseguiu o tempo todo.

Cheiro.

Sangue.

Incentivo.

Os caninos brotaram instintivamente durante meu pensamento, e fechei os olhos com força ao atacá-lo.

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