O garoto perfeito

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Olhei para a janela de vidro fechada com as persianas na frente, entrando alguns raios solares pelas brechas. Me ergui na cama e toquei a ponta dos meus pés no piso gélido do meu quarto.
Bocejei e cocei os olhos para eu poder enxergar melhor. Corri ligeiro para o banheiro fechando a porta atrás de mim e me despi em frente ao espelho retangular com as bordas douradas, vendo o meu corpo esguio e me sentir frágil diante de todos os outros garotos da escola, altos e fortes que jogavam futebol na quadra da educação física.
Entrei no box do chuveiro e tomei um banho rápido da cabeça aos pés. Saí seis minutos depois do box do chuveiro secando os fios castanhos escuros do meu cabelo e a outra toalha enrolada na minha cintura. Afinal, eu não tinha peitos para pôr a toalha mais para cima. Era uma grande pena.
Saí do banheiro secando os meus cabelos castanhos escuros e encontrei, sentado na beira da minha cama, meu pai com o seu terno habitual que usava toda a manhã para ir trabalhar no escritório do Jonas, amigo e chefe dele. Ele apoiava os cotovelos nos joelhos e as mãos entrelaçadas estavam em frente dos lábios.
    Parecia agitado com o jeito que batia insistentemente os pés no chão.
    – Pai! – chamei, preocupado.
    Ele se virou rapidamente para me olhar, e pude ver claramente nos seus olhos que tinha um brilho diferente. De decepção mesclado com a tristeza.
    – Oi, filho! – respondeu com uma voz que pareceu ter chorado.
    – Aconteceu alguma coisa para você estar assim pra baixo? – digo me sentando na cama.
    Ele acenou positivamente na cabeça e uma sensação estranha me atingiu como uma flecha perfura a carne de um animal sendo caçado. Senti as minhas entranhas esfriarem e um arrepio percorrer a minha espinha.
    – Falimos.
    O tempo pareceu parar para mim. O meu corpo paralisou e as minhas mãos passaram a estremecerem de incredulidade.
    – Como assim falimos? O que aconteceu, pai? – Me levantei da cama e comecei a andar de um lado para o outro muito agitado.
    – Sua mãe – ele respondeu.
    – O que tem ela?
    – Ela não controlou os gastos e pisou na bola. Duvidou da minha boa vontade. Passou por cima dos meus pedidos e agora resultou nisso – bufou. Baixou a cabeça voltando a encarar o piso de porcelanato do chão.
Nos últimos dias, mamãe vendo comprando tudo o que vê pela frente com o cartão de crédito da família, e agora que ele não tem dinheiro direito para pagar a conta não sei o que vai ser da gente. Mamãe vai enlouquecer. Papai vai ficar transtornado. E eu vou ficar sentado esperando pelo pior.
O mais provável é a gente ir morar em algum lugar da zona norte, papai e mamãe se separar e eu ficar que nem bolinha de ping pong, para lá e para cá, revezando em cada semana entre ficar com mamãe e ficar com papai que vai conhecer uma nova mulher achando que a vida dela vai mudar para melhor sendo que vai ficar na mesma.
Fico parado processando a notícia me negando de morar na zona norte ou ter uma madrasta caso papai se separe realmente te da mamãe.
– Agora mesmo que eu não vou para a escola – me sento na cama de costas para ele. – Não vai fazer mais sentido ir. – Falo, encarando a parede branca ao lado da porta do banheiro, com um quadro todo pintado de diversas cores parecendo mais um arco-íris.
– Fique. Iremos ter uma conversa em família para decidir o nosso futuro.
Papai se ergueu da cama e se encaminhou até a saída do quarto, cabisbaixo. Quando a porta se fechou atrás dele eu tive a leve sensação de que a conversa seria terrível para os três lados. Passou pela minha cabeça que aquela conversa iria render a noite toda, até eles ficarem de bico um com o outro. Apesar de nas outras vezes ter sido só una briga de casal clichê, que logo depois transam como uma forma de fazer as pazes, acredito que dessa vez o casamento de trinta anos dele pode correr um grave risco de se acabar por capricho dela.
Fico mal só de pensar de vê-los separados um do outro, não se abraçando e beijando apaixonadamente mais.
Caio de costas no colchão e olho para o teto branco frustrado. Solto um longo suspiro e o grito de raiva fica preso na minha garganta, as lágrimas estão presas e eu as impeço de cair agora.
– Merda! – Bato minha mão no colchão fofo.

Apaixonado Pelo Dono Do Morro (Romance Gay) Onde histórias criam vida. Descubra agora