Em Revisão - Pausado

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Estamos correndo por entre as ruas e os prédios destruídos do Rio de Janeiro. Meu pai segura na mão de minha mãe e ela consequentemente segura na minha. Eles correm tão desesperados que não consigo acompanhá-los. Seus olhos se voltam para trás á todo momento procurando e fugindo da ameaça que nos persegue. Vejo muito medo nos olhos deles e a expressão em seus rostos é aterrorizante. Entramos em uma viela e aeronaves passam acima de nós a todo o momento e ao longe posso ouvir uma sirene. Antes de chegarmos ao fim da viela um soldado surge á frente, em nosso caminho. Ele nos aponta uma arma e ordena que nós nos entreguemos e que estamos presos. Meu pai se põe a nossa frente e antes que nós possamos fazer qualquer coisa, o soldado ele atira.

Não quero! Não quero me lembrar mais disso, não agora. Eu sou a culpada, isso foi por minha causa, eles não mereciam isso. Por mais que eu tente esquecer, não há um dia sequer que eu não me lembre disso. Não há um momento sequer em que eu não seja levada até aquele dia, até aquele momento em que o soldado disparou aquela maldita arma. Até o momento em que tudo foi tirado de mim.

Mas porque estou vendo isso agora? Eu estou morta? Eu morri? É isso? Estou naquele momento em que a vida passa como um filme diante dos nossos olhos? Porque agora estou em casa descendo as escadas e indo em direção à cozinha?

Eles estão sentados, como se nunca tivessem saindo de lá. Sento-me com eles e instantaneamente o choro sobe pela minha garganta. Minha me olha e sorri. Aquele sorriso doce e sincero. Eu faria qualquer coisa para ter sorriso comigo, para que todas as manhãs eu pudesse acordar e vê-lo.

Os raios de sol da manhã que entram pela janela iluminam o rosto do meu pai e destacam seus olhos cor de mel. Os mesmo olhos que herdei. Ele também sorri e imediatamente o seu sorriso me leva ao lugar mais seguro do mundo. E faz com que eu sinta a tão sonhada felicidade genuína.

Nem eu mesma sabia que essas memorias ainda existiam na minha cabeça. Que eles ainda existiam dentro de mim dessa maneira tão linda e perfeita. Isso não existe mais, pelo menos não mais agora. Tudo se perdeu e agora a única coisa que me traga é a escuridão. É sempre até ela que eu sou levada, sempre sozinha e sempre solitária, na completa escuridão. Não há mais nada que eu ainda possa perder, porque tudo o que mais importava. Já foi tirado de mim.

Abro os olhos lentamente. Minha cabeça lateja e os raios de luz fluorescente doem nos meus olhos. Estou deitada e meu corpo todo está muito dolorido. Sinto como se eu tivesse dormido duzentos anos. Tento levantar, mais estou tonta demais e meu corpo não responde aos meus comandos.

- Fique Calma! - alguém diz.

Olho para o lado e um homem de cabelos grisalhos e jaleco branco, olha um monitor e analisa as informações que estão nele.

- Você está descordada á três dias. É perfeitamente normal seu corpo não responder a certos comandos. Ele ainda está dormente devido à falta de movimentos desses dias. - ele diz tranquilamente.

Engulo em seco e olho fixo para o homem. Ele não parece ser uma ameaça, mas eu já me enganei antes. Por baixo do lençol que me cobre, estou vestida apenas com uma bata. No meu braço tubos com agulhas estão inseridos nele. Observo o lugar em volta, não é um quarto muito grande, com paredes e teto brancos. O local parece tão limpo, como uma sala estéril de um laboratório. Mas nada disso importa, o que importa é que não estou reconhecendo nada deste lugar e isso começa a me preocupar.

- Onde... Onde estou? - pergunto com certa dificuldade.

Ele continua olhando para o monitor e escreve em uma ficha que está em suas mãos.

- Seus exames de sangue indicamm que você é uma democrática. - ele fala ainda olhando para o monitor. - Está com carência de algumas vitaminas, mas nada preocupante.

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